O grande número de moradores em situação de rua denuncia as falhas de uma cidade que avançou, gerou riqueza, mas também imensas desigualdades sociais. - Crédito: arquivoO Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR) de 2025 — que mede avanços e desafios a serem enfrentados pelos municípios brasileiros para erradicar a pobreza e proteger o planeta — revela que São Carlos tem muitos desafios pela frente quando o assunto é sustentabilidade. O IDSC-BR mostrou esta semana que São Carlos ocupa apenas a 382ª posição no ranking dos municípios mais sustentáveis do Brasil. Ao todo, 5.570 municípios foram avaliados.
O nível de desenvolvimento sustentável de São Carlos é considerado apenas “médio”. A pontuação do município foi de 58,29, numa escala que vai de 0 a 100.
A pesquisa envolve 17 itens ligados às cidades sustentáveis. Em quatro deles — “Água Potável e Saneamento”, “Energias Renováveis e Acessíveis”, “Ação Climática” e “Proteger a Vida Marinha” — São Carlos se destaca com desempenho “muito alto”, com nota entre 80 e 100.
Em três quesitos — “Saúde de Qualidade”, “Educação de Qualidade” e “Cidades e Comunidades Sustentáveis” — São Carlos obteve a classificação “alta”, com nota entre 60 e 79,99.
Cinco itens chamam a atenção e mostram os desafios do município quando o tema é sustentabilidade. Em dois deles — “Reduzir as Desigualdades” e “Produção e Consumo Sustentáveis” — o desempenho é “baixo”, com nota entre 40 e 49,99.
Em outras três metas, São Carlos está em situação ainda pior, segundo a pesquisa. Nos itens “Indústria, Inovação e Infraestrutura”, “Proteger a Vida Terrestre” e “Parcerias para Implantação dos Objetivos”, a cidade ficou no nível “muito baixo”, com nota entre 0 e 39,99.
Nos quesitos “Erradicação da Pobreza”, “Erradicar a Fome (Fome Zero e Agricultura Sustentável)”, “Paz, Justiça e Instituições Eficazes”, “Igualdade de Gênero” e “Trabalho Digno (Decente) e Crescimento Econômico”, São Carlos ficou no nível “médio”, com desempenho entre 50 e 59,99.
A cientista social e política Aline Zambello: “A cidade conseguiu construir uma base de serviços básicos sólidos, mas falha em distribuir os benefícios do crescimento de forma equitativa.”As contradições de São Carlos
A cientista social, cientista política e professora do Colégio Sapiens, Aline Zambello, destaca que, a partir da análise do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades – Brasil, São Carlos apresenta um retrato dividido entre o potencial trazido pela modernidade e situações potencialmente excludentes.
“Com pontuação média de 58,29 em uma escala que vai até 100, a cidade tem pontos de contradição: enquanto exibe indicadores positivos em saneamento básico e geração de riqueza, convive com problemas habitacionais e deficiências na coleta seletiva de lixo”, comenta.
Os dados, segundo ela, mostram um núcleo de eficiência em serviços essenciais.
“A população usufrui de abastecimento de água regular, rede de esgoto ampla e tratamento de efluentes, além de distribuição elétrica consistente. Na esfera econômica, o município se destaca pelo alto PIB per capita e pela significativa participação em empregos de tecnologia, setor que surge como motor de crescimento e inovação”, explica.
A gestão pública, de acordo com Aline, também mostra fragilidades.
“A baixa performance em ‘parcerias para implementação de objetivos’ indica dificuldades de coordenação entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil. Na mesma linha, problemas na coleta seletiva apontam deficiências no consumo e produção sustentáveis, enquanto o baixo investimento em infraestrutura pode prejudicar o acesso pleno aos serviços e espaços da cidade.”
Aline ressalta que São Carlos parece ter um padrão de “desenvolvimento incompleto”.
“A cidade conseguiu construir uma base de serviços básicos sólidos, mas falha em distribuir os benefícios do crescimento de forma equitativa. Somos uma cidade que gerou riqueza, mas não soube ou não conseguiu combater a desigualdade”, reflete.
As soluções, segundo a cientista social e política, são complexas:
“O caminho que se aponta para nos tornarmos uma cidade verdadeiramente sustentável exigirá mais do que crescimento econômico — demandará inclusão social, gestão competente e visão de futuro.”
Araraquara e Rio Claro
Cidades próximas geograficamente e com população equivalente, Araraquara e Rio Claro também enfrentam muitos problemas quando o assunto é sustentabilidade, segundo o IDSC-BR 2025.
Araraquara ficou à frente de São Carlos, na 285ª posição do ranking, com nota geral de 58,85, nível “médio”. Entre as 17 metas avaliadas, obteve desempenho “muito alto” em 3, “alto” em 6, “médio” em 2, “baixo” em 2 e “muito baixo” em 4.
Rio Claro, por sua vez, ficou bem atrás de São Carlos e Araraquara no ranking, ocupando a 1.016ª posição, com nota 54,99. Entre os 17 itens, o município alcançou nível “muito alto” em 3 metas, “alto” em 4, “médio” em 3, “baixo” em 1 e “muito baixo” em 6.
Avanços no Brasil
O IDSC-BR 2025 revela uma melhora na média do país, que subiu para 49,9 pontos, em uma escala de zero a 100. Apesar de ainda baixa, a média é superior à de 2024, que foi 46,7.
“Isso é uma grande notícia para o país. Onde vivem 90% da população brasileira nós estamos conseguindo ter uma inflexão, pela primeira vez em dez anos. Isso não significa que não tenha cidades que melhoraram nesse período, mas é uma melhora na média”, destacou Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Cidades Sustentáveis, durante a divulgação do índice nesta quarta-feira (15), em Brasília.
O índice é calculado a partir de 100 indicadores nacionais que acompanham a evolução dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os municípios são classificados em cinco níveis: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto.
Em 2025, mais cidades passaram para a classificação média (47%) em relação a 2024, quando 51,3% apresentaram nível baixo. Nenhuma cidade brasileira atingiu o nível muito alto neste ano, mas 3% alcançaram o nível alto e 3,8% ficaram com nível muito baixo.
Segundo Abrahão, os números ainda apontam grande desigualdade territorial.
“A gente observa que o Norte e o Nordeste do país têm grandes desafios”, afirmou.
Os índices podem ser consultados em uma plataforma online, que traz ranking, mapa interativo e filtros por cidade, estado, ODS e bioma.
Entre as maiores cidades do país, São José dos Campos (SP), São Paulo e Brasília aparecem com os maiores níveis de desenvolvimento sustentável, com pontuações de 58,3, 57,9 e 57,6, respectivamente. Já Belém, Maceió e São Luís registram os piores índices, com 40,1, 41,7 e 42,2.
Agenda 2030
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem parte de um plano de ação criado pela ONU com metas voltadas à erradicação da pobreza, à proteção do meio ambiente e à garantia da segurança climática até 2030.
No lançamento do IDSC-BR 2025, durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, em Brasília, o secretário-executivo da Comissão Nacional para os ODS, Lavito Bacarissa, lembrou que a Agenda 2030 é fruto do consenso de 193 países, firmado em 2015.
“Quando a gente fala com as gestoras e gestores municipais, locais e líderes territoriais, a gente fala da Agenda 2030 como um instrumento importante de desenvolvimento daquele território, com uma lógica de objetivos, metas e indicadores”, reforçou.
Declaração das Cidades pelo Clima
Após a apresentação do IDSC-BR, a Frente Nacional de Prefeitos e Prefeitas lançou um chamado para o enfrentamento da emergência climática, da perda de biodiversidade e das desigualdades sociais no Brasil.
A Declaração das Cidades pelo Clima na COP30 (30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) elenca dez ações prioritárias nos territórios para enfrentar o desafio global.
O texto aborda cuidados com ar, água e solo; prevenção e gestão de riscos climáticos; ampliação de áreas verdes; compras públicas sustentáveis; tratamento de resíduos sólidos; promoção da educação ambiental, agricultura local e justiça climática.
Os municípios poderão aderir voluntariamente ao documento até a realização da COP30, em Belém, em novembro deste ano.
Ranking dos dez municípios com melhor avaliação
| Posição | Município | Nota |
|---|---|---|
| 1 | Uru (SP) | 66,83 |
| 2 | São Caetano do Sul (SP) | 65,67 |
| 3 | Cruzália (SP) | 65,62 |
| 4 | Santana da Ponte Pensa (SP) | 65,58 |
| 5 | Alfredo Marcondes (SP) | 65,39 |
| 6 | Pedrinhas Paulista (SP) | 64,72 |
| 7 | Varginha (MG) | 64,64 |
| 8 | Dolcinópolis (SP) | 64,54 |
| 9 | Glicério (SP) | 64,23 |
| 10 | Borá (SP) | 64,08 |
Classificação de municípios próximos de São Carlos
| Posição | Município | Nota |
|---|---|---|
| 50 | Gavião Peixoto | 62,04 |
| 274 | Borborema | 58,93 |
| 345 | Itirapina | 58,48 |
| 372 | Dourado | 58,34 |
| 471 | Ribeirão Preto | 57,59 |
| 474 | Franca | 57,57 |





