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domingo, 14 de dezembro de 2025
9 de Julho

Oito voluntários são-carlenses morreram na Guerra Civil de 32

Mesmo após o conflito oficial, houve confrontos entre getulistas e anti-getulistas nos meses seguintes, com pelo menos dois assassinatos

09 Jul 2025 - 06h01Por Marco Rogério
Nesta quarta-feira, 9 de julho, é feriado da Revolução Constitucionalista de 1932 em todo o Estado de São Paulo. A data relembra quando os paulistas lutaram contra o regime de repressão do Governo de Getúlio Vargas e pediam por uma constituição. Em São Ca - Crédito: Sintegrity/Wiki CommonsNesta quarta-feira, 9 de julho, é feriado da Revolução Constitucionalista de 1932 em todo o Estado de São Paulo. A data relembra quando os paulistas lutaram contra o regime de repressão do Governo de Getúlio Vargas e pediam por uma constituição. Em São Ca - Crédito: Sintegrity/Wiki Commons

Nesta quarta-feira, 9 de julho, é feriado da Revolução Constitucionalista de 1932 em todo o Estado de São Paulo. A data relembra quando os paulistas lutaram contra o regime de repressão do Governo de Getúlio Vargas e pediam por uma constituição.
Em São Carlos, 11 contingentes de soldados voluntários partiram para as frentes de combate no período de julho a outubro de 1932, quando a revolução terminou após a rendição de São Paulo, deixando um saldo oficial de 634 paulistas mortos. Porém, não há dados confiáveis, e estima-se que o número de vítimas possa ter chegado a até mil pessoas.
De qualquer forma, o saldo foi trágico, com média de sete mortes por dia — número quase o dobro da média de expedicionários brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial, que foi de quatro por dia.
Um total de 567 voluntários são-carlenses, entre jovens e adultos, foi enviado aos campos de batalha. Do total de mortos no confronto, oito eram de São Carlos. Elydio Antonio Verona, Francisco Perotti, Henrique Junqueira Perotti e José Cabral foram enterrados fora do município. Alípio Benedito, Benedito Ferreira da Silva, Luiz Roher e Modesto Santana foram sepultados no Cemitério Nossa Senhora do Carmo. Em 1957, 25 anos depois, durante as comemorações do Centenário do município, seus restos mortais foram trasladados para a Praça dos Voluntários, onde foi construído um monumento em homenagem aos mártires de 1932.

CONFLITOS E MORTES PÓS-GUERRA CIVIL – Mesmo após o fim oficial do conflito, as desavenças persistiram no Estado de São Paulo e também em São Carlos. Getulistas e anti-getulistas mantinham-se convictos de suas ideias, com ânimos exaltados e espírito de confronto.
Houve diversos casos de lutas grupais e agressões físicas. Em um deles, o getulista Emigdio Germano Rodrigues Filho, engenheiro da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, foi insultado e reagiu usando um revólver, disparando e atingindo Antonio Narvaes e Flávio de Araújo. No meio da confusão, o farmacêutico Ary Fernandes Nunes, de apenas 28 anos, interveio e atirou em Emigdio, matando-o.
No Carnaval de 1933, ocorreram novas brigas. Um grupo de ferroviários realizou uma manifestação em apoio ao interventor José Maria de Souza. Houve novo tiroteio, e um jovem que estava no local foi assassinado.

O QUE FOI A REVOLUÇÃO – A Revolução Constitucionalista de 1932, em São Carlos, foi um movimento armado de grande importância para o Estado de São Paulo, que teve como objetivo principal derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Em São Carlos, a revolução se manifestou por meio da adesão de voluntários enviados às frentes de combate.

CONTEXTO HISTÓRICO – O movimento surgiu em resposta à insatisfação dos paulistas com a centralização do poder imposta por Vargas após o golpe de 1930, que derrubou o presidente Washington Luís e impediu a posse de seu sucessor.
A revolta se intensificou após a morte de quatro estudantes (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), em confronto com a polícia em São Paulo, em maio de 1932.
O conflito, também conhecido como Guerra Paulista, durou três meses e envolveu mais de 35 mil paulistas contra cerca de 100 mil soldados de Vargas.

REVOLUÇÃO EM SÃO CARLOS – A cidade de São Carlos desempenhou um papel importante no movimento, com a participação ativa de seus cidadãos na adesão aos contingentes de soldados voluntários que partiram para os campos de batalha, entre julho e outubro de 1932.
Apesar dessa atuação, a cidade sofreu com a perda de combatentes: oito soldados são-carlenses morreram durante o conflito. Após a rendição de São Paulo, São Carlos, como parte do Estado, também foi marcada pelas consequências da revolução, incluindo violência política e mortes.

LEGADO – A Revolução Constitucionalista é um marco na história de São Paulo, lembrado e celebrado até os dias atuais. Em São Carlos, a Praça dos Voluntários é um local de memória e homenagem aos combatentes da revolução. O feriado de 9 de julho celebra o início do conflito e o desejo por um governo constitucionalista.

ANÁLISE HISTÓRICA – A historiadora da Fundação Pró-Memória, Leila Maria Massarão, afirma que o Movimento Constitucionalista de 1932 faz parte da construção da identidade paulista desde antes da metade do século XX, tanto pela forma como os eventos foram contados por autores e historiadores, quanto pela imprensa, lideranças políticas e instituições paulistas. Isso foi sistematicamente incorporado à mentalidade paulista sobre seu papel — sempre como protagonista — na história do Brasil (“terra de gigantes”, “bandeirantes”, “locomotiva do Brasil” etc.). “Assim, a versão que se conhece de 1932 vem de escolhas para mostrar São Paulo como herói dessa história, do ponto de vista paulista para os paulistas”, destaca ela.
Segundo Leila, conceitualmente, “revolução” diz respeito a movimentos que rompem com um poder estabelecido, seja político, social ou econômico. “Nos eventos de 1932, o que acontece tem mais a ver com um movimento contrarrevolucionário, de oposição aos eventos de 1930 e à busca pelo retorno ao poder das elites (principalmente a paulista), que foram ‘despejadas’ após aqueles acontecimentos.”
A historiadora lembra ainda que é comum abordar a “Revolução” de 1932 com ênfase no discurso da “vitória moral” obtida pelos paulistas, por meio da promulgação da Constituição em 1934, e na celebração do 9 de Julho — o que faz com que a história oficial apresente apenas a perspectiva e o discurso paulista.
“Mas São Paulo foi derrotado nas armas, suas forças desmobilizadas, e as questões relativas à constituição de 1934 já estavam postas desde 1931. Após o fim dos conflitos, rapidamente as oligarquias regionais — incluindo a paulista — se reaproximaram do governo de Getúlio Vargas. Não há muito de revolucionário nesse cenário. Por isso, sempre optamos por chamar os eventos de 1932 de ‘movimento constitucionalista’ ou ‘guerra civil’ (por definir a oposição de forças dentro de um mesmo Estado)”, conclui a especialista.

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