Uma das linhas de bonde que existia em São Carlos entre 1912 e 1962 - Crédito: divulgaçãoNo dia 15 de junho de 1962, há 63 anos, o bonde elétrico chegava ao fim da linha em São Carlos. A segunda experiência de transporte público coletivo urbano terminava depois de praticamente meio século. O contrato de concessão, assinado em 1912, terminou cinco décadas depois, e o sistema foi extinto.
Foi a segunda experiência de transporte coletivo na cidade. A primeira, de curta duração, foram os bondes movidos à tração animal, implantados pelo empresário e político Leopoldo Prado ainda no final do século XIX.
“São Carlos realiza um dos últimos melhoramentos com que a civilização costuma dotar os grandes centros, sendo a terceira cidade do interior brasileiro a ter bonde elétrico.” Este foi o texto da manchete do jornal O Correio de S. Carlos de 27/12/1914, data em que os bondes elétricos começaram a circular na cidade.
O bonde era assunto presente em todas as rodas de bate-papo já a partir de 1911. Muitos não acreditavam que a cidade reunisse capacidade técnica e recursos financeiros necessários para colocar em funcionamento um invento que circulava na capital paulista havia apenas 11 anos – desde 7 de maio de 1900, através da empresa canadense Light Power Company, na primeira experiência do gênero na América do Sul.
A energia elétrica em corrente contínua, utilizada na operação dos bondes na cidade, era gerada pela Usina Hidrelétrica Monjolinho, que entrou em operação em 1893 e é considerada uma das mais antigas do país.
Os bondes de São Carlos eram belgas, construídos em La Croyère (La Louvière, Bélgica), e iniciavam as jornadas de trabalho bem cedo: por volta das 6 horas já estavam chegando aos pontos finais para o início da primeira viagem. A Companhia Paulista de Eletricidade, provavelmente já em 1912, encomendou seis bondes com sete bancas e quatro vagões motorizados da Société Franco-Belge, em La Croyère, Bélgica. Os bondes belgas possuíam dois “controllers” de comando (bidirecionais) e um truque simples (dois eixos), de bitola de 1,00 m, além de coletor de corrente elétrica tipo “lira”.
Em 15 de junho de 1912, o senhor José Rodrigues Sampaio, prefeito municipal, assinou um contrato com o senhor Argeu Vinhas para a instalação de um serviço elétrico de bondes na cidade e seus arrabaldes. Foi então que a Companhia Paulista de Eletricidade, concessionária do serviço de força e luz, assumiu com Argeu Vinhas a responsabilidade pela parte referente aos carros elétricos.
Dia 19 de dezembro de 1914, às 17h. Nesse dia e hora trafegou o primeiro bonde (um carro de carga) pela linha da rua São Joaquim, desde a Fábrica de Tecidos até a Estação de Bondes, repleto de convidados, entre as entusiásticas aclamações do povo, que se aglomerava por todo o percurso, curioso por vê-lo passar. Finalmente, em 27 de dezembro de 1914, os bondes elétricos foram inaugurados, tornando essa data histórica para o município de São Carlos.
Cerca de 14 mil pessoas viajaram nesse dia. Causou bela impressão o fato de ter sido destinado às instituições de caridade o valor arrecadado com as primeiras viagens dos seis bondes com os quais foram iniciados os serviços de transporte.
O Largo Municipal era o ponto de convergência das linhas de transporte urbano estabelecidas no contrato. As duas primeiras linhas envolviam as ruas centrais da cidade. A terceira percorria as ruas São Carlos, Conde do Pinhal, Uruguaiana, Mercado (Geminiano Costa), Aquidaban e General Osório até a chácara do major José Inácio (Colégio Diocesano). A quarta linha seguia pelas ruas Sete de Setembro, São Paulo, Babilônia (Padre Teixeira) até a Vila Nery, onde fazia a conversão para voltar ao centro da cidade, mais conhecida como “balão”.
A quinta seguia pelas ruas São Paulo e Dr. Carlos Botelho até a Santa Casa, prosseguindo os trilhos — apenas para carga — até o Matadouro. Finalmente, a sexta linha percorria as ruas Dom Alexandrina, Marechal Deodoro, da Palma (Dom Pedro II), Tiradentes e São Carlos até o cemitério novo, na colina, além do Tijuco Preto. Mais tarde, esses itinerários foram reformulados, fundindo-se as linhas em apenas três.
Ao final do contrato de concessão, em 1962, os bondes foram desativados, pois se acreditava que o transporte coletivo por ônibus era mais eficiente. Um dos antigos carros está exposto no jardim da Piscina Municipal, mas deverá, em breve, ser levado para a pracinha do famoso “Balão do Bonde”, na Vila Nery.
TRAÇÃO ANIMAL – Apesar do sucesso dos bondes elétricos, a ideia do transporte coletivo já havia sido testada 17 anos antes. Na São Carlos de 1895, somente os abastados fazendeiros, com carruagens e cocheiros à disposição, podiam dispor de transporte rápido. Eis que entra em cena o arrojado coronel Leopoldo Prado, no papel de pioneiro do transporte coletivo naquela jovem urbe. Ele instalou, ainda naquele ano, uma linha de bondes à tração animal, puxados por burros.
A única linha partia da estação ferroviária e seguia pelas ruas Vitória (Bento Carlos), São Joaquim, General Osório e Avenida Prado (Dr. Teixeira de Barros). Uma das condições constantes no contrato firmado com a Intendência Municipal determinava que o horário de circulação dos bondes seria das “quatro da manhã às dez horas da noite e, nas noites de espetáculos, até a hora que estes terminarem”. Para sorte dos burros, a epidemia de febre amarela que acometeria a cidade ainda naquele ano acabou sepultando a primeira experiência de transporte coletivo no município.





