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sábado, 06 de dezembro de 2025
Polêmica

Prédio do Flor de Maio pode ir a leilão e diretoria faz apelo à população de São Carlos

O clube social negro de São Carlos brilhou com escola de samba e tornou-se o primeiro do Estado a ser tombado em 2011

26 Jul 2025 - 06h32Por Marco Rogério
Flor de Maio pode ir a leilão  - Crédito: Wikipédia Flor de Maio pode ir a leilão - Crédito: Wikipédia

O quase centenário Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, fundado em 4 de maio de 1928 pela comunidade negra de São Carlos, corre o risco de ter o prédio de sua sede leiloado judicialmente por conta de dívidas acumuladas ao longo dos últimos anos. A atual diretoria, que assumiu a gestão do clube em novembro de 2023, divulgou uma carta aberta à população de São Carlos revelando a situação e apelando à solidariedade da população são-carlense.

O histórico imóvel onde funciona o clube está localizado na Rua Padre Teixeira, na região central de São Carlos. Considerado um marco da resistência da comunidade afrodescendente da cidade, o Flor de Maio surgiu da luta de homens e mulheres negros que não eram aceitos nos clubes da elite branca local. Assim, o clube nasceu como alternativa de convivência, cultura, lazer e diversão. Ao longo de várias décadas, mais do que um local para socialização e difusão cultural, o espaço buscou a afirmação da identidade dos negros são-carlenses contra a segregação racial.

A presidente Adriana da Silva e os demais integrantes da atual diretoria afirmam que o clube foi vítima da falta de compromisso com seu legado nos últimos 20 anos. Como resultado, acumularam-se dívidas com impostos, serviços públicos e encargos legais, além da degradação estrutural do prédio onde funciona a sede da agremiação. “Hoje, diante da triste realidade de um iminente leilão, nos dirigimos a toda a população para compartilhar com transparência a verdadeira situação do clube”, afirma a nota.

Em 20 de novembro de 2023, durante a 1ª Marcha Pela Verdade Histórica Africana em São Carlos, foi formada a Comissão do Resgate do Grêmio, que desde então vem trabalhando sob intervenção judicial.

A diretoria atual enfatiza o compromisso com a transparência e a reconstrução do clube e destaca que o Flor de Maio é um patrimônio não apenas da população negra, mas de toda São Carlos. A decisão judicial autorizando o leilão do prédio foi emitida em 10 de julho, o que aumentou ainda mais o senso de urgência.


 

SAMBA, CARNAVAL E ALEGRIA – Fundado em 1928, o clube teve a musicalidade como sua marca e sempre colocou em pauta temas relevantes para a formação da identidade e das organizações da comunidade negra em São Carlos. O Flor de Maio deu à cidade a Escola de Samba na qual brilhou Odette dos Santos, elegeu sua primeira Rainha do Carnaval em 1947 e promoveu debates sobre temas sociais.

Já em fevereiro de 1935, músicos e passistas se reuniam em frente à sua primeira sede, ainda provisória, na Rua Conde do Pinhal — imagem que retrata a formação com sopro, percussão e banjo que compunha o conjunto de jazz.

A região onde o clube está localizado atualmente concentrou, no final do século XIX, famílias de ex-escravizados que, como registra a história, passaram a morar na "vertente sudoeste da colina central", além da Biquinha (hoje Teatro Municipal), nas chácaras do Major Rodrigues Freire (Asilo Dona Maria Jacinta) e do Major Manoel Antônio de Mattos (Vila Pureza).

Não foi fácil a tarefa que abraçaram, com espírito determinado, de congregar a comunidade por meio da realização de bailes e festas que logo consolidaram o clube.

O Flor de Maio passou a ser uma referência de alegria, operosidade e idealismo de seus associados. Gerações inteiras encontraram ali um local não apenas de lazer, recreação e esportes, mas também um núcleo importante para desenvolver suas potencialidades.

Em 1973, o clube realizou um ciclo de conferências abordando temas como a transição de escravizado a cidadão, a marginalização do negro no mercado de trabalho e a situação da mulher negra. Temas que permanecem atuais e que impulsionam o combate ao racismo, à discriminação e ao preconceito — sem perder de vista que o nascedouro dessa luta, em São Carlos, se deu no Flor de Maio.

Participando por vários anos do carnaval da cidade, com sua própria escola de samba, o Flor de Maio marcou época nos desfiles e revelou notáveis sambistas, como a inesquecível Odette dos Santos.

Odette foi uma referência como mulher trabalhadora e sambista. Com muito talento e contagiante entusiasmo, ela despertou a autoestima e a valorização de todo um povo que dedicou à cidade uma contribuição cultural inestimável.

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