Cesar Alves Ferragi apresentou pesquisa no Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ (Foto: Divulgação) - Uma pesquisa desenvolvida por Cesar Alves Ferragi, docente do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH) do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Fundação da Associação Internacional de Turismo LGBTQ+ (Fundação IGLTA) e a Casa Cênica Produtora Artística, mapeou o perfil e práticas de viagem de turistas LGBTI+ no Brasil. O estudo buscou compreender tendências de comportamento desse público, contribuindo para a construção de políticas e ações mais inclusivas no setor de turismo.
Conduzido entre maio e agosto de 2024, o levantamento levantado no "Relatório de Pesquisa sobre Turismo LGBTI+ no Brasil". A coleta de dados ocorreu presencialmente, durante a Feira Cultural da Diversidade LGBT+ da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, e também via formulário online, amplamente divulgado em redes sociais de instituições parceiras. No total, 405 pessoas responderam ao questionário.
Entre os principais resultados, destaca-se que a maior parte dos participantes está na faixa etária de 35 a 44 anos (30,1%), seguida pelo grupo de 25 a 34 anos (28,1%). A maioria se identifica como pessoa cisgênera (90%), sendo 61,5% homens e 28,6% mulheres. Pessoas trans representam 2,9% dos entrevistados, enquanto outras identidades de gênero, como não-binárias e fluidas, somam cerca de 2,7%.
Em relação à orientação sexual, predominam os homossexuais (69,1%), seguidos por bissexuais (15,3%), heterossexuais (9,1%) e pansexuais (4,7%). Geograficamente, a maioria das respostas veio do estado de São Paulo (68,4%), seguido pelo Rio de Janeiro (5,2%) e Distrito Federal (4,2%). Essa concentração é explicada pela aplicação presencial na capital paulista e pela divulgação online realizada, em sua maior parte, por instituições sediadas neste estado.
Quanto à escolaridade, 30,1% dos entrevistados possuem Ensino Superior completo - o dobro da média brasileira, que está na casa dos 15% - e 26,9% alguma especialização.
Práticas turísticas do público LGBTI+ e desafios
Além do perfil sociodemográfico, uma pesquisa revelou aspectos sobre as práticas turísticas desse público. A maioria declarou viagens prioritariamente a lazer (81,7%), sendo que 58,5% já priorizam destinos identificados como LGBTI+ amigáveis - ou seja, que oferecem maior segurança e acolhimento. Por outro lado, cerca de 37% afirmaram já ter saído de viagem ou alterado os planos por recebimento de discriminação.
“As pessoas querem viajar relaxadas, podendo ser quem são”, analisa Ferragi. Para ele, essa busca por inovações impacta diretamente na escolha dos destinos: “87% dos entrevistados sinalizaram que segurança e acolhimento são fatores fundamentais na seleção dos destinos e meios de hospedagem”.
Outro dado relevante é que 30% viajam com a família. “Quando acolhemos bem os viajantes LGBTI+, e também as famílias que os apoiam, promovemos um ambiente mais inclusivo e acolhedor - e isso é fundamental”, afirma.
Além disso, 42,7% dos participantes afirmaram utilizar redes sociais e plataformas digitais específicas da comunidade LGBTI+ para buscar informações sobre destinos e segurança. Experiências anteriores de discriminação influenciam diretamente o planejamento e a escolha segundo de roteiros, o que, o pesquisador, "reforça a importância de ambientes mais inclusivos, com políticas públicas e estratégias de marketing turístico que consideram as especificidades desse público".
Nesse sentido, Ferragi aponta lacunas identificadas pela pesquisa: "O que falta, segundo as respostas? Falta segurança; relaxamento; tranquilidade. Falta representatividade - as pessoas querem ver pessoas como elas trabalham naquele hotel, no setor turístico. E falta também serviços e funcionários preparados para atender as pessoas LGBTI+".
A principal contribuição do estudo é oferecer um panorama atualizado e empírico sobre o comportamento de turistas LGBTI+ no Brasil, um tema ainda pouco explorado academicamente no país. Embora de caráter exploratório, o levantamento fornece subsídios para agentes públicos e privados específicos na promoção de práticas de acolhimento, redução de barreiras e desenvolvimento de ações afirmativas no setor, com foco na promoção dos direitos humanos e no combate à discriminação.
"É papel da universidade contribuir com esse diálogo, construindo conhecimento para a sociedade. Ela precisa dialogar com as empresas, com a sociedade, e trazer educação laica, democrática, gratuita, com o acesso que precisamos", finaliza.
O estudo foi apresentado por Ferragi no Fórum de Empresas e Direitos LGBT, evento nacional que reúne representantes do setor público, privado e da sociedade civil para debater políticas e práticas inclusivas externas à comunidade LGBTI+. A participação do docente participou no painel "A arte da hospitalidade: recepção bem viajantes LGBTI+", que contou com a mediação de Catarina Costa, embaixadora do Comitê LGBTI+ da Accor no Brasil.
A gravação completa do evento está disponível no canal do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ e pode ser acessada no YouTube ( youtube.com/watch?v=ybT2GLXE0m8 ). Já o relatório completo está disponível para acesso em https://bit.ly/relatorio-turismo-lgbti .





