O “II Workshop Infraestrutura, resiliência e adaptação das cidades do interior” debateu nos dias 6 e 7 de março, na USP São Carlos, as infraestruturas no interior do Estado de São Paulo e possíveis alternativas de governanças frente aos impactos das mudanças climáticas. A promoção é de uma rede de pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras, que tem apoio do CNPq, Fapesp e MackPesquisa para estudar o efeito das chuvas, cada vez mais frequentes e intensas, assim como das longas estiagens nas cidades brasileiras.
Após primeira edição do Workshop, que ocorreu em setembro de 2022 e foi voltada à região metropolitana de São Paulo, a segunda edição reuniu professores, estudantes, gestores municipais, técnicos federais e representantes de movimentos sociais, para discutir casos de conflitos entre infraestrutura, corpos d’água e urbanização nas cidades de Cordeirópolis, Araraquara, Casa Branca e São Carlos.
O evento começou na manhã da segunda-feira, 6, com a visita ao Pátio Ferroviário na cidade de Cordeirópolis sob a ótica do tema infraestrutura de transporte e a relação com a cidade: conflitos e perspectivas. Na sequência houve uma reunião com gestores da Prefeitura daquela cidade.
As palestras começaram à tarde na sala-auditório da Pós-Graduação do IAU–USP, sob coordenação dos professores Renato Anelli (FAU/Mackenzie), Jeferson Tavares (IAU/USP) e Luciana Travassos (UFABC), abordando Infraestrutura ferroviária e cidade: enchentes, malha urbana e patrimônio histórico em sistemas de cidades.
O promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo. Dr. Flávio Okamoto, destacou os conflitos da ferrovia com a cidade de São Carlos, especialmente dois: as enchentes na rotatória do cristo, devido à passagem insuficiente do córrego Gregório; e a poluição sonora com o acionamento da buzina dos trens nos cruzamentos em nível.
De acordo com ele, há várias ações no MP, tanto estadual como federal, contra a empresa Rumo exigindo que ela solucione tais problemas. “Eu disse brincando, na audiência pública realizada pela Câmara Municipal de São Carlos, que o MP ganhou esse processo contra a Rumo, na questão das enchentes na rotatória do cristo, em primeira instância numa sentença, em segunda instância num acórdão e em terceira instância na chuva do dia 28 de dezembro, quando a natureza mostrou que realmente o Ministério Público tinha razão e derrubou a linha férrea justamente por aquela seção de passagem ser absolutamente insuficiente”, finalizou Okamoto.
Abrindo os trabalhos na terça-feira (7), o debate foi em torno das infraestruturas relacionadas à água: gestão municipal e métodos tais como: combate a cheias e a implantação de sistemas de drenagem sustentável. Caso de infraestrutura verde construídas entre 2001 e 2008, apresentados pelo prefeito Newton Lima (2001/2008) e os secretários municipais de Obras, Renato Anelli (2001/2004) e de Governo, Carlos Martins (2001/2004), contextualizando-os parte da política urbano e ambiental da gestão
“No início do nosso governo o Tribunal de Justiça havia dado ganho de causa à Associação de Proteção Ambiental de São Carlos (APASC), no que ficou conhecido como TAC das Marginais, condenando a Prefeitura por construir avenidas em Áreas de Proteção Ambiental sem licenciamento dos órgãos competentes. E o que nós decidimos naquele momento? Nós resolvemos não recorrer e cumprir tal decisão, mostrando respeito ao meio ambiente”, concluiu Newton.
Uma visita aos Parques: Linear do Córrego Tijuco Preto; da Chaminé e do Bicão; além da Travessia do Córrego Monjolinho sob a linha férrea e à área do Campus II da USP São Carlos, encerrou os trabalhos da manhã.
Despertou a atenção dos pesquisadores o estado precário de conservação do Parque do Tijuco Preto, devido à ausência de manutenção adequada. Chama a atenção o desmoronamento de um trecho das margens do canal trecho próximo à rua Totó Leite e ruptura do interceptor de esgoto.
Pelo pioneirismo das soluções técnicas utilizadas em 2007 quando da obra, a manutenção e recomposição das margens deve ser realizada por pessoal especializado, para que toda a arborização do parque possa ser preservada. Constatou-se que o parque não vem recebendo manutenção rotineira nos caminhos, iluminação e brinquedos do playground o que gera insatisfação dos vizinhos que acompanharam a visita dos pesquisadores.
O período da tarde foi de discussões sobre mobilidade urbana, drenagem sustentável em bacias hidrográficas críticas, pesquisas recentes sobre infraestrutura hídrica com destaque para cidades do ABC paulista e panorama de políticas públicas. O secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano de São Carlos, Will Marques, apresentou a palestra sobre as perspectivas para o combate às cheias na cidade.
O relatório técnico do Workshop está sendo produzido pela equipe e será disponibilizado ao público em breve.