sexta, 29 de março de 2024
Anjos fardados

Em ato heroico, PMs salvam vidas de pessoas ilhadas no McDonald’s durante enchente

14 Jan 2020 - 13h11Por Marcos Escrivani
Roosevelt e Jonathan - Crédito: Marcos EscrivaniRoosevelt e Jonathan - Crédito: Marcos Escrivani

“Sinceramente não pensei em ter medo, ou morrer. Pensei naquelas pessoas. Nem em um ato heroico. Queria apenas salvar aquelas vidas”, disse o cabo Jonathan Luís Manoel, natural de Araraquara, 29 anos e há 8 na Polícia Militar. “O ímpeto de salvar está no sangue e naquele momento, pensei na minha família”, completou o 1º sargento Roosevelt Soares de Paula, paulistano, 53 anos e há 32 na PM.

Com estas frases, os PMs Roosevelt e Jonathan, com a participação do Corpo de Bombeiros e de voluntários, foram os responsáveis por não ter ocorrido vítimas fatais durante a enchente ocorrida na tarde e noite de domingo, 12, após um forte temporal que desabou em São Carlos e que teve duração de aproximadamente três horas com uma precipitação pluviométrica de 167,8 mm.

Os PMs foram os primeiros a chegar na lanchonete McDonald’s localizada na rotatória do Cristo e em minutos foi tomada pelas águas. Entre funcionários e consumidores (muitas crianças), haviam mais de 50 pessoas. Todas salvas após um trabalho em conjunto.

O São Carlos Agora chegou aos policiais após constatar mensagens de agradecimento após o salvamento. Para que pudessem falar com a imprensa foi necessária autorização superior.

ANJOS FARDADOS

Às 11h desta terça-feira, 14, a reportagem foi até a 1ª Cia da Polícia Militar e ouviu o relato de Roosevelt e Jonathan que estavam a serviço através da jornada Dejem.

“Nós estávamos com a viatura prefixo I38146, uma Spin e fazíamos patrulhamento preventivo com o intuito de prevenir furtos e roubos a pedestres, casas e estabelecimentos”, disse Roosevelt. “Estávamos na Avenida Grécia, próximo a Electrolux”.

Quando o relógio bateu às 18h, Roosevelt notou o tempo fechar repentinamente e a chuva chegar com violência. “Formou-se uma enxurrada muito grande sentido Bicão. Por intuição disse ao cabo Jonathan, pelo volume de água, irmos para a Avenida Tancredo Neves averiguar a Rotatória do Cristo, pois alguém poderia necessitar de ajuda”, antecipou o sargento PM.

Ato contínuo, os PMs foram até o local desejado e ao chegar em frente ao edifício de apartamento Residencial Dona Elisa notaram que várias mulheres choravam e homens pediram por ajuda. “Ali a água chegava a uns 40 centímetros e fomos informados que tinha crianças e idosos ilhados no McDonald’s”, contou.

MOMENTO DE TENSÃO

A partir dai os PMs conversaram rapidamente, pois viam o clamor das pessoas ilhadas pedindo socorro. “Naquele momento o cabo pediu autorização para iniciar o processo de salvamento. Ele queria mergulhar e senti firmeza nas suas palavras. Somos uma equipe e nos completamos. No momento pensei em minha família e autorizei, pois confiei e acreditei no meu cabo”, assegurou Roosevelt.

LUTA PELA VIDA

Sem pensar nas consequências e ciente que iria enfrentar águas revoltas que chegavam a 2,5 metros de altura, Jonathan foi em busca das vítimas ilhadas.

“Eu sei nadar e a distância que me separava das pessoas chegava a uns 50 metros. Antes do McDonald’s tem uma empresa que tem grades e fui me apoiando, nadando e pisando em carros submersos. A água batia no meu peito. Eu me apoiava e nadava. Tinha pessoas que estavam segurando nessas grades”, disse, “Quando cheguei até a lanchonete a água batia no pescoço e os veículos no estacionamento estavam submersos. Fui me locomovendo como dava. Quando cheguei até as pessoas, pedi calma e que elas fossem para a parte mais alta do local, que era o playground. Ali tinha dois homens que não sei quem são, que sabiam nadar e eram voluntários. A partir daí começamos a salvar as crianças. Eu carreguei três até um local seguro. Fizemos um cordão com as pessoas que sabiam nadar e seguraram na grade, para que mais pessoas fossem retiradas rapidamente”, disse Jhonatan, que salvou duas idosas que seguraram em suas costas. Jonathan disse que foram salvas sete crianças e afirmou que não sabe precisar quantas vezes foi até o interior da lanchonete e retornou até um local seguro realizando resgates.

CHEGADA DOS BOMBEIROS

Durante o salvamento, o auto bomba do Corpo de Bombeiros chegou e o processo de salvamento das pessoas restantes foi concluído com equipamento apropriado. “Todas foram deixadas em local seguro”, disse o cabo PM.

NÃO PENSEI NA MORTE

Durante o salvamento das crianças, idosas, demais clientes e funcionários, Jonathan disse que não pensou na morte. Nem mesmo quando móveis, entulhos e galhos passavam e trombavam com ele, trazido pela forte correnteza.

“Estava extenuado. Muito cansado. Mas não pensava na morte. Queria salvar todas as pessoas. Tenho comigo que ser policial militar é uma vocação. Temos que salvar vidas e fazer o bem para a sociedade. Caso eu morresse, talvez seria considerado um herói. Mas não me importo com isso. Quero apenas ajudar o próximo. Me sinto recompensado e cumpri minha obrigação como cidadão e como PM. Dever cumprido. E faria isso de novo. Poder salvar a vida de alguém, ver o sorriso de felicidade, um agradecimento. Isso não tem preço. Não sou ninguém especial. Sou um PM a serviço da minha corporação e da sociedade. A mim foi dada uma missão. E ela foi cumprida”, finalizou Jonathan.

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