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segunda, 29 de dezembro de 2025
Transporte

Bonde elétrico entrou em circulação há 111 anos

Viabilizado pela Usina Hidrelétrica do Monjolinho, o bonde elétrico começou a circular em 1914 e encerrou as atividades em 1962.

29 Dez 2025 - 16h10Por JM
Bonde elétrico entrou em circulação há 111 anos -

“São Carlos realiza um dos últimos melhoramentos com que a civilização costuma dotar os grandes centros, sendo a terceira cidade do interior brasileiro a ter bonde elétrico.” Assim noticiava o jornal O Correio de S. Carlos, em 27 de dezembro de 1914, há 111 anos, o início da operação dos bondes elétricos em São Carlos.

A nova modalidade de transporte de grupos de pessoas, ou transporte coletivo urbano, surgiu em São Carlos quando a expressão mobilidade urbana ainda nem era utilizada. Mas o bonde elétrico foi a evolução de seu precursor. Em 1895, apenas os abastados fazendeiros, com suas carruagens e cocheiros à disposição, podiam usufruir de um transporte rápido — ou, pelo menos, “rápido” para os padrões da época.

Entrava em cena, na velha São Carlos do Pinhal, o arrojado coronel Leopoldo Prado, no papel de pioneiro do transporte coletivo naquela jovem urbe. Ainda em 1895, ele instalou uma linha de bondes com tração animal, movidos a burros.

A única linha partia da Estação Ferroviária, seguia pelas ruas Vitória (atual Bento Carlos), São Joaquim, General Osório e Avenida Prado (atual Dr. Teixeira de Barros).

Uma das condições constantes no contrato firmado com a Intendência Municipal determinava que o horário de circulação dos bondes seria das “quatro da manhã às dez horas da noite e, nas noites de espetáculos, até a hora em que estes terminarem”.

Para sorte dos muares, uma epidemia de febre amarela que acometeu a cidade ainda naquele mesmo ano acabou sepultando a primeira experiência de transporte coletivo em São Carlos.

A ELETRICIDADE QUE TROUXE O BONDE – O bonde passou a ser o tema central nas conversas da população a partir de 1911. Muitos duvidavam que a cidade reunisse capacidade técnica e recursos financeiros para colocar em funcionamento um invento que circulava na capital paulista havia apenas 11 anos — desde 7 de maio de 1900, quando a empresa canadense Light Power Company inaugurou o primeiro serviço de bondes elétricos da América do Sul.

O assunto voltaria aos noticiários de São Carlos 17 anos depois. Em 15 de junho de 1912, o então prefeito José Rodrigues Sampaio assinou um contrato com o senhor Argeu Vinhas para a instalação de um serviço elétrico de bondes na cidade e em seus arrabaldes.

A Companhia Paulista de Eletricidade, concessionária do serviço de força e luz, assumiu com Argeu Vinhas a responsabilidade pela parte do contrato referente aos carros elétricos.

A PRIMEIRA VIAGEM – 19 de dezembro de 1914, 17h. Nesse dia e hora trafegou o primeiro bonde — um carro de carga — pela linha da Rua São Joaquim, desde a Fábrica de Tecidos até a Estação de Bondes, repleto de convidados. O povo se aglomerava em todo o percurso, entusiasmado e curioso para vê-lo passar.

Finalmente, em 27 de dezembro de 1914, os bondes elétricos foram inaugurados, tornando essa data histórica para o município de São Carlos.

Cerca de 14 mil pessoas viajaram naquele dia. Causou excelente impressão o fato de o valor arrecadado com as primeiras viagens — realizadas pelos seis bondes que iniciaram o serviço — ter sido destinado às instituições de caridade da cidade.

O Largo Municipal era o ponto de convergência das linhas de transporte urbano estabelecidas no contrato. As duas primeiras linhas envolviam as ruas centrais da cidade.

A terceira linha percorria as ruas São Carlos, Conde do Pinhal, Uruguayana, Mercado (atual Geminiano Costa), Aquidaban e General Osório, até a chácara do Major José Inácio (onde hoje fica o Colégio Diocesano).

A quarta linha seguia pelas ruas Sete de Setembro, São Paulo e Babylonia (atual Padre Teixeira) até a Vila Nery, onde fazia a conversão para retornar ao centro — trecho que ficou conhecido como o “balão”.

A quinta linha seguia pelas ruas São Paulo e Dr. Carlos Botelho até a Santa Casa, prosseguindo os trilhos, apenas para carga, até o Matadouro.

Por fim, a sexta linha percorria as ruas Dona Alexandrina, Marechal Deodoro, da Palma (atual Dom Pedro II), Tiradentes e São Carlos até o Cemitério Novo, na colina, além do Tijuco Preto.

Mais tarde, esses itinerários foram reformulados, sendo fundidas as linhas em apenas três trajetos principais.

O FIM DOS BONDES – Ao final do contrato de concessão, em 1962, os bondes foram desativados, sob a justificativa de que o transporte coletivo por ônibus seria mais eficiente. Cidades como Araraquara e Ribeirão Preto tiveram, durante muitos anos, os trólebus, que eram uma evolução dos bondes elétricos. São Carlos não viveu essa experiência.

Um dos antigos carros permanece preservado e está exposto no chamado “Balão do Bonde”, na Vila Nery, como símbolo de uma época em que os trilhos marcaram o ritmo do progresso e da modernidade em São Carlos.

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