Presos presidio - Crédito: divulgaçãoO crime organizado no Brasil busca influenciar as eleições para ampliar seus negócios e facilitar o acesso à logística, obedecendo a uma lógica de mercado. A análise é do ex-professor da UFSCar e escritor Gabriel Feltran, autor de “Irmãos: Uma história do PCC”, obra que deu origem ao filme “PCC: Poder Paralelo”. Atualmente, Feltran atua em universidades da França.
Segundo ele, o mundo das facções influencia as eleições pelo mercado. “Os caras que estão ligados a facções têm negócios criminais os mais diversos. A maioria dos faccionados é muito pobre, mas também existem os que são bem-sucedidos, que ficaram ricos. Eles influenciam a política para atender aos seus interesses. Isso está presente não só no Estado de São Paulo, mas em todo o Brasil”, ressalta.
Feltran não acredita que o PCC tenha o objetivo de tomar o lugar do Estado. “A facção tem o objetivo de ocupar lugares do mercado, como portos e aeroportos. Ela quer se tornar um grupo economicamente forte para poder influenciar a política”, destaca.
Sobre as milícias, Feltran afirma que elas têm ligações muito próximas com setores do poder político. “Elas têm muita influência em corporações policiais e, portanto, em agentes oficiais do Estado. Então, as milícias, além da influência econômica direta, também têm forte presença no aparato estatal pela entrada que possuem nas forças de segurança”, afirma.
NARCOMILÍCIAS – Pesquisador do crime organizado no Brasil, Feltran confirma haver relatos de aliança entre uma facção criminosa e milícias. “A aliança entre milicianos e facções criminosas envolve grupos que atuam em direções diferentes. As milícias geralmente operam junto aos interesses de uma elite estabelecida, enquanto os integrantes das facções tentam ocupar o lugar dessas elites. Há alguns relatos no Rio de Janeiro sobre o que têm chamado de narcomilícias. Na verdade, não são alianças, mas uma subordinação do Terceiro Comando a milicianos em diferentes regiões do Rio de Janeiro. É como se os traficantes trabalhassem para os milicianos. Isso não acontece com o Comando Vermelho nem com o PCC, mas acontece com o Terceiro Comando. Pelo menos há relatos disso”, destaca.
SISTEMA DESMORALIZADO – Sobre a hipótese de uma fuga do chefão do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, da Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, anos atrás, Feltran ressalta que isso não seria necessário para desmoralizar o sistema penitenciário brasileiro. “Isso não se faz necessário. Não é preciso ter essa fuga. O sistema já está desmoralizado. Temos hoje 900 mil presos. O número foi multiplicado por cinco nos últimos vinte anos e a situação de segurança não melhora. O sistema, dentro dele, tem produzido as principais facções do país. Não precisa haver uma fuga espetacular para sabermos que esse sistema está desmoralizado”, conclui.



