
Como sempre faziam quase todas segundas, as três amigas reuniam-se no mesmo bar para papear. Era um hábito antigo, sempre as três. Vez por outra vinha alguma outra amiga. Desta vez estava Miryan, amiga antiga, mas que raramente aparecia neste bate-papo. Há alguns anos ela havia se mudado para São Paulo, mas sempre vinha ao interior trabalhar.
Miryan era a mais velha que as outras, que ainda! estavam na casa dos trinta. No entanto, era a mais bonita, sempre em forma e bem vestida.
O bar tinha música ao vivo e elas ocupavam uma mesa de canto, onde o som não atrapalhava tanto o papo.
Conversavam sempre tranqüilas, às vezes eram assediadas, mas, como diziam, normalmente não valia a pena, a oferta no mercado andava em baixa e, tirando os casados, gays e problemáticos, poucos sobravam.
Os assuntos eram basicamente os mesmos: o que tinham feito nos últimos dias, família, empregos e, principalmente, relacionamentos, ou seja, homens.
Todas gostavam muito de Miryan e ela era sempre uma referência, pois tinha uma vida bem resolvida: bom emprego, morava sozinha, independente, carro do ano, jóias e tudo mais que outras mulheres, e muitos homens, sonham. Até um ficante fixo – o Nelson, um advogado de São Paulo, que diziam era apaixonado por ela e fiel!
Corria também uma história que ela tinha um caso com um cliente rico em Ribeirão Preto, que lhe dava vários presentes caros; e também uma amizade especial com um escritor famoso em São Carlos, com o qual ela passava horas a conversar, rir, trocavam e-mails etc.; e, ainda, falavam que ela tinha um personal que era um gato e, de vez em quando, dava umas fugidas com ele para o litoral. Mas de certo mesmo, era só o Nelson. Ela, quando perguntada, nunca negava, nem confirmava - gostava do mistério.
Lá pelas tantas, a conversa já havia chegado nos relacionamentos e cada qual, baseadas em seus próprios sabores e dissabores, opinava. Todas, menos Miryan. Ela observava e ouvia, com pequenas opiniões sem compromissos. Embora houvesse consenso na discussão, já que todas a esta altura riam muito e falavam mal dos homens. Ela argumentava que não valia a pena polemizar, mas queriam sua opinião:
E você, Miryan. Não fala nada? Não tem nenhuma opinião? – provocou Paula.
Tenho, mas não gosto de discutir. Em geral não vale a pena.
Mas diga o que você acha – insistiu Júlia
Digo, mas não discuto. Minha opinião é minha opinião. Levei muito para chegar até ela. Se todas concordarem... – disse em tom meio desafiador e absoluto.
Todas concordaram. E ela começou:
Há cinco segredos para um relacionamento perfeito: é importante você encontrar um homem que tenha dinheiro; é importante você encontrar um homem que faça você rir e sonhar; é importante você encontrar um homem que seja apaixonado e fiel; é importante você encontrar um homem que seja bom de cama e adore fazer sexo com você; e é extremamente importante que estes quatro homens nunca se encontrem.
Todas, rindo, concordaram e foram dormir.
(*) O autor é escritor e filósofo