
No dia 25 de abril de 2022, a Câmara Municipal de São Carlos realizou, por iniciativa do Vereador Prof. Azuaite Martins de França, uma sessão solene de homenagem à comunidade portuguesa e luso-descendente radicada em nossa cidade, naquilo que foi considerado, e passo a citar “um justo reconhecimento à contribuição do povo lusitano e de seus descendentes para o desenvolvimento de nossa cidade”, uma celebração que foi reforçada no último dia 03 deste mês de agosto, quando a Casa de Leis de São Carlos decidiu assinalar o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, uma data celebrada no passado dia 10 de junho do corrente ano em todo o mundo Lusófono. Voltando à data de abril de 2022, desprovida de um endereço físico para congregar sua comunidade e desenvolver suas atividades, a Casa de Portugal de São Carlos fez-se representar nessa sessão do dia 25 de abril por mim próprio, enquanto presidente da instituição, pelo Dr. Antonio Sasso Garcia Filho, na qualidade de presidente do conselho deliberativo dessa novel instituição, e ainda por outros dirigentes, levando nas mãos, como oferenda, apenas o Hino Nacional, a Bandeira de Portugal, e o palpitar dos corações de quem a representou, com a vontade expressa de continuar a contribuir para o engrandecimento de São Carlos na medida de suas possibilidades.
Ali, ficou representada, nessa data e nessa cerimônia, uma comunidade que se orgulha de suas raízes, de sua história e de seu povo, e que ficou indelevelmente ligado à genialidade e às almas de Luis Vaz de Camões, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa e de José Saramago, entre muitos, mas muitos outros que disseminaram, mantiveram e fazem manter acesa a chama da Cultura Lusitana no mundo. E, nessa sessão solene, onde se homenageou Portugal e se cantou “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, essa recordação da “Revolução dos Cravos”, de Abril de 1974 fez desabrochar um novo cravo na Casa de Leis de São Carlos. Não, um cravo vermelho representando a liberdade em Portugal, já que, felizmente, ela já é uma realidade que irá completar meio século em 2024, mas, sim, um imaginário cravo branco representando a paz, a solidariedade e a esperança - permitam-me a ênfase poética -, uma flor colhida e trazida para essa Câmara Municipal, nessa sessão solene, pelo vereador Prof. Azuaite Martins de França, quando proferiu a seguinte frase: “Vamos encaminhar à administração municipal o nosso pedido para nos ajudar a organizar e fortalecer a Casa de Portugal de São Carlos. Ela precisa ter um endereço físico e ela vai ter um endereço físico. Tenho a certeza disso!”. Catorze meses após essa data, no passado dia 03 de agosto, sob a presidência da vereadora Laíde das Graças Simões, substituindo o presidente da Casa, Marquinho Amaral, a Câmara Municipal de São Carlos, decidiu não só comemorar o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, transcorrido no dia 10 de junho passado, mas também celebrar a transformação de uma esperança, de um sonho da comunidade portuguesa e luso-descendente residente em nossa cidade e região, em uma realidade, com a assinatura de um acordo de cooperação que possibilita à Casa de Portugal de São Carlos trabalhar eficientemente em endereço físico próprio em prol de toda a sociedade. Sublinhe-se... Em prol de toda a sociedade. E, afirma-se e sublinha-se isso porque a sede-social da Casa de Portugal de São Carlos não se limitará a acolher e apoiar a comunidade de portugueses e de luso-descendentes aqui residentes. De fato, ela também irá acolher as instituições de nossa cidade que pretendam realizar e concretizar suas iniciativas em um universo que contemple a cultura nas suas múltiplas expressões, a educação, recreação, ciência, tecnologia, saúde e, claro, ações sociais diversificadas.
Por outro lado, está claro para todos nós, portugueses e luso-descendentes, que, através dessa sede-social, passará a existir um espaço dedicado à preservação e promoção da cultura e da Língua Portuguesa, onde se poderão fortalecer os laços entre os descendentes de portugueses aqui residentes - e são muitos -, bem como difundir as tradições e os valores da nossa pátria, promovendo simultaneamente a integração e o enriquecimento mútuo entre a comunidade portuguesa e a comunidade são-carlense. De igual modo, a sede-social da Casa de Portugal de São Carlos tem todas as condições para, quem sabe, num futuro próximo, poder albergar a reinstalação do Consulado-Honorário de Portugal em São Carlos, que cessou suas atividades no ano 2000 devido ao falecimento do detentor dessa pasta honorária, o saudoso Senhor Óscar Ferreira, esposo da mui nobre e sempre recordada com saudade, a Profª Carminda Nogueira de Castro Ferreira, falecida nesta cidade de São Carlos em 14 de outubro de 2010. Com ela, ficam indelevelmente marcadas as suas contribuições em prol do ensino e da cultura em nossa cidade. Com certeza que esse será um assunto que poderá ser debatido no futuro, já que essa reinstalação só poderá ser efetivada com a intervenção direta do governo português através do respectivo ministério dos negócios estrangeiros - ou das relações exteriores, se preferirem esta designação -, via Embaixada de Portugal em Brasília e Consulado-Geral de Portugal em São Paulo, permanecendo a esperança de que a Câmara Municipal de São Carlos e a Prefeitura Municipal de São Carlos possam congregar esforços e vontades nesse processo de reinstalaçã da representação honorária portuguesa. Além de poder prover um apoio logístico ao Consulado-Geral de Portugal em São Paulo, auxiliando nas demandas emanadas de toda comunidade aqui residente e na região, essa representação honorária portuguesa poderá também incentivar a realização de ações tendo em vistas uma aproximação efetiva entre a nossa “Capital da Tecnologia” e Portugal, que é a principal porta de entrada no continente europeu, com benefícios bilaterais ainda pouco explorados.
A propósito da intensificação dessa aproximação, que a meu ver se torna necessária, recordo aqui o anúncio publicado pela ALESP - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo no dia 25 de julho de 2011, dando conta da realização de uma audiência pública promovida pela Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento dessa casa de leis, com o objetivo de ouvir as reivindicações da sociedade são-carlense. No último ítem desse anúncio, que está acessível no portal da ALESP - https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=269950 - pode se ler o seguinte: “Cidades-Irmãs - Cidades-Irmãs é uma iniciativa do Núcleo das Relações Internacionais da Prefeitura de São Carlos, que busca a integração entre a cidade e demais municípios nacionais e estrangeiros. A integração entre os municípios é firmada por meio de convênios de cooperação, que têm o objetivo de assegurar a manutenção da paz entre os povos, baseada na fraternidade, felicidade, amizade e respeito recíproco entre as nações. São Carlos possui oficialmente quatro cidades-irmãs: Coimbra, em Portugal (convênio datado de 1970); Santa Cruz (RN), no Brasil; Tecumseh, no estado de Michigan, nos Estados Unidos (convênio datado de 1997) e Santa Clara, em Cuba (convênio datado de 2005)”. Concretamente em relação à existência desse convênio firmado em 1970 entre as cidades de São Carlos e de Coimbra, mencionado nesse anúncio da ALESP, que se encontra adormecido há exatamente 53 anos, o mesmo necessita ser recuperado, atualizado e colocado em prática para que outras geminações entre a nossa cidade e cidades portuguesas e outras europeias possam acontecer rumo ao desenvolvimento de novos projetos em todas as vertentes. Como cidadão português aqui radicado, acho que seria indispensável constituir um grupo de trabalho específico que pudesse recuperar esse desígnio, na tentativa de ajudar a catapultar para Portugal as potencialidades existentes em São Carlos, bem como promover, analisar e eventualmente acolher iniciativas ou projetos que Portugal e os seus parceiros do Bloco Europeu possam propor, tendo em vistas o desenvolvimento de nossa cidade e o intercâmbio internacional. Para que isso aconteça tem que haver geminações entre cidades, têm que existir convênios institucionais, a começar exatamente por Portugal, e quem sabe pela cidade de Coimbra.
A colaboração firmada no último dia 03 de agosto para a ocupação temporária do imóvel localizado na Rua Sete de Setembro, Nº 2442, Centro, visando a instalação da sede-social da Casa de Portugal de São Carlos, certamente terá um impacto frutuoso para todos os envolvidos neste processo, sendo certo que essa sede-social ficará, igualmente e obviamente, ao dispor dos poderes públicos instituídos em nossa cidade para a realização de suas iniciativas. Não importa muito a personalidade que, em nome da Casa de Portugal de São Carlos, assinou este protocolo de colaboração, atendendo a que - é sempre bom recordar - os homens e as mulheres passam, mas as instituições ficam.
Parafraseando Fernando Pessoa, mantenho a firme convicção de que “Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo. À parte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
O autor é jornalista profissional / correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists / European News Agency) - MTB 66181/SP.
Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.




