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sexta, 01 de novembro de 2024
Artigo Rui Sintra

Brasileiros em Portugal - Educação de qualidade, mas ainda existem problemas

17 Fev 2023 - 06h00Por (*) Rui Sintra
Brasileiros em Portugal - Educação de qualidade, mas ainda existem problemas -

Ainda existem muitas coisas que deverão ser analisadas, corrigidas, melhoradas. Nenhum país é perfeito. Por exemplo, as condições de assistência à saúde não estão padronizadas no território nacional, havendo, por isso, alguns “gargalos”. Os preços dos alugueis para habitação também causam dores de cabeça a todo o mundo devido à enorme especulação. Salários não são atrativos. Estamos falando de Portugal, aquele país pequeno que tanto encanta, principalmente os brasileiros que, devido à insegurança e violência em seu país, procuram esse cantinho à beira mar plantado, conforme ilustrou a larga matéria publicada recentemente pelo jornal português “Diário de Notícias”, de autoria da minha colega jornalista, Inês Dias.

De fato, não é fácil para um brasileiro se adaptar facilmente à vida em Portugal, embora a língua seja comum: contudo, essa língua, que teoricamente nos une, tem muitas nuances, o que faz com que, por vezes, o brasileiro não entenda o que o português nato está falando. São largas dezenas de milhares os brasileiros que decidiram recomeçar suas vidas em Portugal, beneficiando do alto índice de segurança e da qualidade de vida, mas enfrentando as mais diversas e por vezes penosas dificuldades, começando pelo aspecto de arrumar emprego - nem sempre compatível com suas qualificações profissionais e/ou literárias -, ou mesmo com os aspectos educacionais para os seus filhos. Tudo é muito diferente!

Em termos de adaptação ao país, a matéria do “Diário de Notícias” retrata uma mãe brasileira que admite que o enquadramento escolar permitiu uma integração mais fácil de seus filhos, salientando que acaba por ser mais difícil para os pais quando têm de ajudar nos trabalhos de casa e vêm muitas diferenças na língua. Por exemplo, a acentuação e alguns nomes técnicos da gramática são muito diferentes no Brasil. Desta forma, as crianças brasileiras têm que reaprender muitas coisas que já sabiam, mas com designações diferentes. Resumidamente, os brasileiros que emigram para Portugal se deparam com outra língua portuguesa, que não aquela que eles estavam habituados.

Para muitos brasileiros residentes em Portugal, o ensino é mais lúdico e inclui um maior número de atividades com os alunos. Uma das entrevistadas pelo “Diário de Notícias” afirmou que “Comparando uma escola particular brasileira e uma escola pública portuguesa, o ensino em Portugal é melhor e tem mais qualidade em relação ao Brasil. A educação que os meus filhos têm agora é superior e mais exigente, principalmente na questão da língua inglesa, que eles começam a aprender muito cedo", tendo ainda destacado a integração das disciplinas de Educação Visual (E.V.), Educação Tecnológica (E.T.) e Música, que não fazem parte do currículo escolar no Brasil.

Contudo, a outra face da moeda demonstra também, nessa matéria do jornal, os desafios que as escolas portuguesas enfrentam. Destacamos seguidamente o que foi escrito no jornal: “A escola é um dos fatores que mais preocupa as famílias brasileiras que decidem mudar-se para Portugal. Quer transitem de país no início ou durante o ano letivo, a adaptação dos jovens com a matéria e com a cultura portuguesa é um "medo" dos pais que exige a adoção de estratégias de integração. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), conta que tem havido um aumento exponencial de alunos vindos do Brasil, fato que tem obrigado as escolas a adequarem-se a essa nova realidade. Este fenómeno é um desafio na escola pública no sentido em que se lida diariamente com a entrada de novos alunos do Brasil. As escolas tiveram de efetuar a sua própria estratégia de integração dos alunos, de acordo com o contexto de cada estudante que vai chegando ao país", explica. Segundo Filinto Lima, os dois grandes motivos que os pais testemunham para a mudança de país são a segurança e qualidade da escola pública de Portugal. "Os pais brasileiros reconhecem que a educação portuguesa tem bastante qualidade e que existe um estilo de vida mais seguro comparando com as escolas no Brasil", diz.

Assim sendo, conforme declarações do dirigente, a língua é uma vantagem na transição escolar dos alunos para Portugal e não existe qualquer barreira nesse sentido, ao contrário do que acontece com muitos alunos vindos da Ucrânia, por exemplo. "Os professores adequam as suas práticas diárias às necessidades dos alunos, mas não sinto que haja muita dificuldade a nível da comunicação, nem há constrangimentos em lidar com estes alunos. Poderá haver, sim, uma barreira dos usos, dos costumes e até da gastronomia", salienta. Embora os alunos sejam colocados no ano de escolaridade segundo o processo de equivalências, determinado pelo certificado de habilitações, Filinto Lima garante que existem alguns casos de alunos com dificuldades na aprendizagem, muito provocada pelo fato de haver um atraso na matéria ensinada no Brasil.

Nesses casos, as escolas auxiliam nessas realidades diferentes, de forma a que se viabilize um processo de ensino-aprendizagem o melhor possível. "Para os alunos com dificuldades de aprendizagem tentamos dar algum apoio nas disciplinas em que sintam mais dificuldades - quer seja matemática, história, geografia ou português, tal como fazemos com todos os alunos", sublinha. Com todos estes fatores positivos, na perspetiva do presidente da ANDAEP, os alunos, na sua generalidade sentem-se confortáveis e muito bem em Portugal e gostam muito dos professores e do método de ensino português”. Contudo, toda a rosa tem espinhos. O número de imigrantes brasileiros nas escolas e universidades portuguesas é realmente muito alto e um dos principais problemas da adaptação dos jovens passa pela questão da língua, o que significa que o sistema de ensino português não estava preparado para um aumento exponencial de alunos do Brasil, sendo que em muitas escolas a variante brasileira é vista como um problema, como se não fosse tão legítima quanto a forma original da língua portuguesa.

Se não forem devidamente equacionados e resolvidos, estes e outros problemas poderão originar - como já aconteceu de forma esporádica - casos de bullying, o que reforça a importância de fazer os alunos compreenderem a questão da diversidade com campanhas que reforcem a valorização das identidades. "Muitas vezes a própria escola institucionalmente coloca a diferença como um problema, o que se reflete na convivência entre os alunos e em casos de bullying em relação a alunos estrangeiros. É importante haver um processo contínuo sobre a questão da diversidade e a escola em si tem que ser pensada como um espaço diverso e seguro.

Segundo o “Diário de Notícias”, atualmente os brasileiros (31% da população estrangeira em Portugal) representam a maioria dos estudantes estrangeiros no país. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Educação (ME), há 39.635 alunos com nacionalidade brasileira matriculados nas escolas, sendo 25.606 no ensino básico, 6.500 no pré-escolar e 7.527 no ensino secundário. Já no ensino universitário, Portugal destaca-se no cenário internacional para os brasileiros que procuram uma experiência além fronteiras. Dos atuais 69.965 estudantes estrangeiros que frequentam o ensino superior em Portugal, o Brasil ocupa o primeiro lugar da lista, com um total de 18.859 alunos, seguindo-se a Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Espanha. A maior parte  (15.663) estuda em universidades públicas e 3.196 frequenta o ensino universitário privado. Lisboa (5.929), Porto (4.552), Coimbra (2.054) e Braga (1.290) são os distritos que registam mais alunos brasileiros nas universidades portuguesas, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES).

O autor é jornalista profissional / correspondente para a Europa pela GNS Press Association  / EUCJ - European Chamber of Journalists / European News Agency) - MTB 66181/SP.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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