Crédito: Álbum de famíliaHá exatos 80 anos, era eleita a primeira “Rainha da Escola Normal”, título conquistado pela aluna Maria Helena Nunes Sabino, de 16 anos, acontecimento que mereceu registro no jornal, evidenciando a relevância da então já tradicional escola na vida da cidade.
Maria Helena, hoje com 96 anos e residindo a poucas quadras da escola, guardou por toda a vida o que se passou naqueles tempos. A notícia da eleição coincidiu com a da posse do prefeito Sabino Camargo, nomeado pelo interventor federal para governar a cidade até o ano de 1945.
Naquele início de setembro de 1941, a coroação da Rainha mobilizou a sociedade. Momento que hoje esmaece na memória de Maria Helena, porém até pouco tempo – como conta sua filha Anna Mathilde – ela conservava como uma joia a recordação e o orgulho do feito alcançado no auge da “Atenas Paulista”, codinome de São Carlos na época, dada a profusão de centros de ensino por aqui.
Ainda no dia 21 de agosto daquele ano, a edição de número 3 501 do jornal “A Cidade” informou na primeira página que “em meio ao maior entusiasmo”, realizou-se na véspera, na Escola Normal, a última apuração para eleição da Rainha Normalista de 1941.
“Grande número de pessoas, incluindo professores e suas senhoras, bem como elementos da administração da Escola, dirigiu-se, após a apuração, para a residência da senhorinha eleita, acompanhado a Comissão de Normalistas que foi comunicar o resultado à colega cujo nome foi vitorioso nas urnas”, registrou o jornal.
A “senhorinha” em questão era a jovem e sorridente Maria Helena, a filha do médico João Sabino e de Maria de Lourdes Nunes Sabino, que recebera incríveis 11.274 votos no escrutínio que totalizou 28.639 votos e apontou como princesas Virginia Maffei, Ernestina Calani, Norma Beltraminio e Clélia Capeloto.
Idealizado pelo professor Solon Borges dos Reis (mais tarde eleito deputado estadual, federal e vice-prefeito de São Paulo) e coordenado pelo professor Otavio Novaes de Carvalho, o concurso tinha como objetivo escolher entre as alunas concluintes da 5ª. série ginasial, aquela que se tornaria a primeira rainha das normalistas (nome que se dava a todos os alunos da escola e não apenas aos que frequentavam o curso Normal).
A apuração ocorreu na escola, que no ano seguinte passaria a contar com dois ciclos de ensino: Curso Ginasial e Curso Ginasial subdividido em Científico e Clássico e em 1944 recebeu o nome de Colégio Estadual e Escola Normal Dr. Álvaro Guião.
O baile da coroação da primeira rainha aconteceu nos salões do São Carlos Tênis Clube, na rua 13 de Maio, em grande estilo. A fina flor da sociedade marcou presença e até a Rainha da Escola Normal de Campinas, Antonieta Mendes, fez questão de comparecer, ficando hospedada na residência da família Sabino.
Três anos depois, em 1944, o Tênis Clube celebraria sua fusão com o Clube Comercial para formar o São Carlos Clube, cuja sede social na Avenida seria inaugurada em 1948.
Uma década recheada de acontecimentos sociais era aberta com aquele evento marcante, patrocinado pela mais tradicional instituição de ensino da cidade ao longo da história. Uma escola pública.
Em 1945, o médico João Sabino (que fora prefeito de São Carlos no ano de 1936) faleceu subitamente vítima de um infarto aos 53 anos, deixando viúva Maria de Lourdes aos 38 anos e três filhas jovens: Maria Helena, Maria José (Baby) e Lourdes.
Maria Helena casou-se em 1948 com João Paulo de Oliveira Geribello, gerente do Banco Francês e Italiano (depois Sudameris) por 35 anos. O casal teve dois filhos: Anna Mathilde, casada com Pérsio Pimentel Porto e Renato, casado com Miryam Massei Porto. Eram mesmo tempos diferentes de agora, pois a família morou durante décadas na parte superior do prédio da agência bancária, na esquina da Avenida São Carlos com a rua Major José Inácio. Das irmãs, Lourdes casou-se com o médico Paulo Botassi e Baby com o engenheiro Mário Maffei, tornando-se primeira-dama de São Carlos entre 1973 e 1977, período em que o marido foi prefeito.
Com seis netos e sete bisnetos, a primeira Rainha da Escola Normal até recentemente se recordava com enorme alegria da eleição e da festa de coroação. Maria Helena descrevia tudo em detalhes, reconstituindo instantes de encantamento e o clima de entusiasmo registrado pelo jornal “A Cidade”. Um entusiasmo que atravessou o tempo e ganhou permanência na caminhada da Rainha - prova de que uma grande alegria tem algo de transcendental, eterno.
Nas imagens, a coroação da, Maria Helena aos 16 anos, o registro no jornal, o baile no Tênis Clube e a primeira Rainha do Normal aos 96 anos: recordações de anos dourados.
Crédito: Álbum de família
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