O grande número de veículos é uma das principais causas da falta de fluidez e do grande número de acidentes no trânsito de São Carlos - Crédito: divulgaçãoO trânsito de São Carlos registrou pelo menos 273 acidentes de trânsito, também chamados de “sinistros”, no primeiro semestre de 2025. Os dados são do Infosiga, do Departamento Estadual de Trânsito do Estado de São Paulo (Detran-SP), órgão da Secretaria Estadual de Transportes e Mobilidade. A média é de 1,51 acidente por dia nas ruas da cidade.
O maior número de acidentes ocorreu no mês de março, com 57 registros. Em janeiro foram 42, em fevereiro 54, em abril 36, em maio 47 e em junho 37.
4.820 casos em seis anos e meio – Entre 2019 e 2025, foram contabilizados 4.820 acidentes de trânsito em São Carlos. Foram 678 em 2019, 615 em 2020, 725 em 2021, 827 em 2022, 896 em 2023 e 806 em 2024, além de 273 ocorrências no primeiro semestre deste ano.
Do total de acidentes, 96% (4.627 casos) não registraram vítimas fatais, enquanto 193 (4%) tiveram vítimas fatais.
Quanto à modalidade, 67% são colisões, 15% classificados como “outros”, 11% como choques, 4,45% como atropelamentos e 2,6% registrados como “não disponível”.
Com relação ao gênero, 62% das pessoas envolvidas em acidentes eram do sexo masculino, 22,2% do sexo feminino e 15,7% constam como “não disponível”.
Crescimento da frota – Um dos fatores que contribuem para tantas ocorrências de trânsito é o crescimento da frota de veículos, que dobrou nos últimos 18 anos, entre 2007 e 2024. Passou de 103.666 para 207.294 veículos. São Carlos é atualmente a 25ª cidade do Estado de São Paulo em número de veículos — incluindo automóveis, caminhonetes, motocicletas, ônibus, micro-ônibus, caminhões, tratores, entre outros tipos.
Como não houve aumento significativo na quantidade de ruas e avenidas, o trânsito da cidade ganhou 103.628 novos veículos, o que explica os grandes congestionamentos em determinados pontos, tornando a locomoção mais demorada e cansativa.
No mesmo período (2007-2024), o número de automóveis, camionetes e camionetas cresceu 93%, passando de 78.165 para 151.045. Já o número de motocicletas e motonetas cresceu 116%, passando de 19.081 para 41.180. Em dezembro de 2024, o Estado de São Paulo tinha 34.332.819 veículos registrados.
Desafio de cidade grande – O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola de Engenharia da USP São Carlos, José Leomar Fernandes Júnior, explica que São Carlos vive os mesmos desafios que cidades grandes e médias com populações próximas a 300 mil habitantes enfrentam.
Segundo o especialista, existem duas referências principais. A primeira, segundo ele, é seguir o exemplo europeu. A mobilidade urbana, de acordo com Fernandes Júnior, precisa passar por uma mudança, com o transporte a pé ou de bicicleta não apenas como lazer, mas como meio de locomoção para o trabalho, escolas e outras atividades cotidianas.
“A minha geração viveu isso: íamos a pé ou de bicicleta para a escola. E também havia o transporte coletivo. Antigamente, em Araraquara (minha cidade), tínhamos o trólebus, que era silencioso, não poluente e passava a cada dez minutos. A classe média de Araraquara e até pessoas mais ricas usavam esse transporte. O plano de mobilidade deve incentivar o transporte público e os meios não motorizados. É inegável a facilidade do transporte individual. Na Europa, as pessoas têm carro, mas no dia a dia usam transporte público, que precisa ter qualidade”, destaca.
Classe média no transporte público – O professor ressalta que, para atrair a classe média, o transporte público deve cumprir rigorosamente os horários e oferecer qualidade, segurança e conforto. “Hoje, o transporte coletivo não tem atrativos nem para a população de baixa renda, que não tem outra opção e acaba sofrendo. É necessário qualidade, segurança e o mínimo de conforto, atendendo horários e necessidades. Esse é um desafio enorme, pois, quando há baixa qualidade, as pessoas trocam pelo transporte individual. Depois, é muito difícil atraí-las de volta, já que o menor número de usuários reduz a receita e aumenta a necessidade de subsídio da Prefeitura.”
Fernandes Júnior explica que, para o transporte coletivo voltar a ser atrativo, são necessários investimentos por parte da empresa concessionária, mesmo sem garantia de retorno imediato. “O segredo do transporte público é ser vantajoso pelo menos para a classe média. Sem ela, não há volume de tráfego que dê retorno e mantenha um intervalo curto entre as viagens nos horários de pico. É um desafio imenso que as cidades enfrentam.”
Ele acrescenta que o plano de mobilidade traz diretrizes, mas a dificuldade está na execução. “Uma coisa é saber o que precisa ser feito; outra é fazer. É necessário entender as principais circulações. Não dá para criar mais vias indefinidamente. O importante é conter a demanda. Se não, você oferece mais vias, mas nunca consegue suprir. Em Nova York, o número de pessoas com carro é baixo porque circular é difícil, e o transporte coletivo é a melhor opção. São Carlos precisa entender isso, e não é fácil.”
Ausência de planejamento – O presidente da AEASC (Associação de Engenheiros e Arquitetos de São Carlos), Laert Rigo, afirma que a falta de planejamento urbano e a expansão desordenada das cidades brasileiras têm contribuído significativamente para a sobrecarga de veículos nas ruas, causando congestionamentos frequentes, especialmente nos horários de pico.
“Além disso, a dependência dos carros é influenciada por vários fatores, como: falta de investimentos em transporte público eficiente e acessível; deficiências na infraestrutura viária; crescimento desordenado das cidades, sem planejamento adequado; e a cultura de consumo e status social associada ao uso de carros, que perpetua a dependência do transporte individual”, pontua Rigo.
Segundo ele, para superar esses desafios, é fundamental que as cidades brasileiras invistam em transporte público eficiente, seguro e acessível, além de promover uma cultura de mobilidade sustentável e planejamento urbano eficaz. Isso inclui: desenvolver sistemas de transporte integrados; implementar políticas de incentivo a bicicletas e pedestres; promover planejamento participativo e inclusivo; e conscientizar a população sobre a importância da mobilidade sustentável. “Somente com uma abordagem integrada e eficaz podemos criar cidades mais sustentáveis, acessíveis e agradáveis para todos”, conclui Rigo.





