Linha de produção da Engemasa: sem encomendas, empresa teve que cortar 10% de sua mão de obra - Crédito: Reprodução Engemasa O Tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, que impõe uma sobretaxa de 50% sobre vários produtos brasileiros, já atingiu São Carlos. A Engemasa, empresa que tinha 500 trabalhadores, acaba de demitir 50 deles. Os cortes foram diretamente causados pela guerra comercial promovida por Trump. Cerca de 80% das receitas da Engemasa são provenientes das exportações, e metade disso vem dos Estados Unidos. As demissões foram divulgadas na noite desta sexta-feira, 15 de agosto, pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.
Criada há 50 anos e considerada a primeira empresa de alta tecnologia de São Carlos — o que depois virou uma marca da cidade —, a Engemasa é uma das cinco empresas do mundo que produzem equipamentos com ligas metálicas especiais desenvolvidas para a indústria pesada, como petroquímica, óleo e gás, fertilizantes e siderurgia.
O maior problema da Engemasa é que os equipamentos que fabrica são feitos sob encomenda e demoram de seis meses a um ano para serem produzidos. Os problemas começaram em abril deste ano, quando Trump passou a falar em tarifar diferentes países. Diante das incertezas, as encomendas foram ficando cada vez menores.
O diretor-geral da Engemasa, João Baroni, disse ao Estadão que, no início, acreditava-se que o Brasil poderia ser beneficiado, já que japoneses e europeus enfrentavam tarifas maiores. “Acreditamos que haveria uma retomada de projetos engavetados, mas, com a imprevisibilidade, o cliente parou de tomar decisão de investimento”, destacou.
Segundo ele, até outubro a fábrica ainda estará operando em quase toda sua capacidade. “Depois, não sei o que vai ser”, disse, claramente preocupado com o futuro.
O programa de ajuda do governo estadual ainda não está disponível a quem o procura no Desenvolve SP. Já o auxílio federal foi anunciado apenas na última quarta-feira e também deve levar um tempo até ser consolidado.
Os planos da Engemasa de implantar uma fábrica nos EUA, México ou Canadá foram engavetados pela companhia. “Um concorrente que tem planta nos EUA disse que a principal dificuldade é a mão de obra. A nova geração não tem vocação para trabalhar em manufatura”, afirmou.
A diretoria regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) lamentou os cortes de funcionários da Engemasa. "O Ciesp São Carlos manifesta profunda preocupação diante da notícia sobre a demissão de trabalhadores desta importante indústria de nossa cidade, em decorrência direta do tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros”, afirmou o diretor Marcos Henrique dos Santos.
Santos destacou que este episódio é um retrato claro do impacto que a política tarifária norte-americana está causando em municípios com forte vocação industrial, como São Carlos. “A sobretaxa de até 50% sobre bens exportados tem inviabilizado contratos, reduzido drasticamente a competitividade dos nossos produtos no exterior e agora já provoca consequências graves no mercado de trabalho local.”
Produtos com forte presença na pauta de exportações de São Carlos estão entre os mais atingidos, segundo Santos. A queda nas exportações afeta diretamente a atividade produtiva, o faturamento das empresas e, como se vê, os empregos.
Ele espera que as negociações sigam e que a situação seja revertida o quanto antes. “O Ciesp está acompanhando de perto essa situação e mantém diálogo constante com o governo federal e estadual, buscando soluções efetivas, como a intensificação da negociação diplomática com os Estados Unidos para a redução ou retirada das tarifas, bem como a construção de medidas de apoio direto às indústrias impactadas, especialmente as que mais dependem do mercado externo.”
Santos vê as medidas governamentais como positivas. “Entendemos que as ações emergenciais anunciadas pelo governo federal — como linhas de crédito e adiamento de tributos — são bem-vindas no curto prazo, pois ajudam a aliviar o caixa das empresas. Porém, são insuficientes diante da magnitude do problema. Reiteramos ainda a importância de que os governos federal, estadual e municipal adotem uma postura ativa como indutores da economia, buscando soluções que contribuam para manter a produção e os empregos em momentos de crise como este. O Ciesp São Carlos espera que esta situação seja revertida, e que a nossa cidade continue sendo um polo industrial forte, inovador e gerador de oportunidades”, concluiu.
A reportagem também ouviu o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Ibaté, Vanderlei Strano. Ele afirmou que a entidade sindical não foi ouvida e esclareceu que as homologações de demissões não precisam mais passar pelos sindicatos. “Não fomos informados sobre estas demissões. Na próxima semana teremos as coisas mais claras.”





