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sexta, 12 de dezembro de 2025
Cinema

Estreia da "Sessão Maldita" completa 52 anos

A estreia do ousado projeto se deu com a exibição de "Homem e Mulher até Certo Ponto", de Michael Sarne, comédia americana de 1970, baseada no romance de 1968

18 Ago 2025 - 19h24Por Marco Rogério
A divulgação da Sessão Maldita na época da máquina de escrever e do mimeógrafo: tempos de debates acalorados - Crédito: Fotos: Arquivo Histórico /Pró-Memória A divulgação da Sessão Maldita na época da máquina de escrever e do mimeógrafo: tempos de debates acalorados - Crédito: Fotos: Arquivo Histórico /Pró-Memória

Estreava há 52 anos, em 1973, no Cine São Carlos, a “Sessão Maldita”, um horário especial de exibição de filmes de arte e de grande relevância na história cinematográfica. O evento buscava, mais do que simplesmente divulgar longas-metragens, também debater a estética da arte e as leituras políticas e sociais dos filmes. Foi uma iniciativa do artista plástico José Sidney Leandro (1935–1995).

À época, Leandro era presidente da Comissão de Cinema de um atuante Conselho Municipal de Cultura, comandado por Laines Paulillo. O filme de estreia foi Myra Breckinridge, de Michael Sarne, intitulado no Brasil “Homem e Mulher até Certo Ponto”, comédia americana de 1970 baseada no romance homônimo de Gore Vidal, de 1968, estrelada por Raquel Welch.

Ainda em setembro daquele ano, Leandro conseguiu concretizar em São Carlos o 1º Festival Internacional de Cinema de Curta-Metragem, utilizando filmes fornecidos por consulados de diversos países e pela Embrafilme. De repente, produções da Alemanha Ocidental, Bélgica, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Holanda, Polônia e Brasil estavam na telona do Cine São Carlos.

A tradição universitária de São Carlos, numa época marcada pelo auge da Ditadura Militar e pela grande ebulição de ideias, período em que nascia a UFSCar, certamente foi uma das fagulhas que acendia os debates sobre os longas exibidos.

Os filmes eram abertos a todos, mas a grande maioria da plateia que superlotava a sala era formada por estudantes. Mais tarde, essa segmentação se consolidou quando folhetos com críticas dos filmes passaram a ser produzidos na Escola de Engenharia e na UFSCar.

A “Maldita” foi recheada de polêmicas sobre temas que ainda são tabus. O próprio professor Leandro reconhecia que a conduta do público “era estimulada pela imagem que a sessão maldita teve – de apresentar filmes pornográficos ou, pelo menos, muito liberais – algo talvez relacionado à natureza dos primeiros filmes exibidos”.

O filme de estreia, Homem e Mulher até Certo Ponto, tinha como um dos temas o transexualismo, estampado como uma espécie de símbolo da política norte-americana. O segundo – Ato Final, de Jerzy Skolimowski – exibia cena de nu frontal, o que, na época, não era comum. Já no terceiro – O Conformista, de Bernardo Bertolucci – havia cenas de homossexualidade. A plateia reagia com gracejos, risadas, palavrões e comentários impublicáveis.

Em 1977, as sessões malditas passaram a ser semanais. Criaram-se então a “Sessão dos Grandes Temas”, “Sessão dos Grandes Nomes do Cinema”, “Sessão Brasil”, “Sessão Debate” e, no primeiro semestre de 1980, o Grupo de Estudos Cinematográficos.

A “Sessão Maldita” de São Carlos se difundiu e inspirou universitários de outras cidades, como Araraquara, Bauru e Uberaba, a promover iniciativas semelhantes, sempre com a colaboração do incansável José Sidney Leandro.

Vinte anos depois de criar e promover a “Maldita”, em 1993, o professor Leandro também coordenava as sessões de cinema de arte do SENAC Bauru e da Casa de Cultura Professor Vicente de Arruda Camargo, em São Carlos. Na ocasião, a “Sessão Maldita” era exibida às terças e quartas no Studio I, em produção da Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar, com coordenação de Leandro e colaboração dos membros do Grupo de Estudos Cinematográficos da UFSCar – Elen Esteves Rincon, Fábio José Rodrigues Lopes, Paulo Sérgio Rodrigues e Roberto Gambaroto – e dos professores Marília Leite Washington, Dagoberto Recucci, Celso Fernando Osio e Carlos Santa Maria, com apoio cultural da Vídeo 21.

A morte de José Sidney Leandro, em 29 de abril de 1995, aos 60 anos, deixou uma lacuna imensa de protagonismo cultural que talvez nunca seja preenchida.

Nascido em Sertãozinho e são-carlense desde 1963, Leandro era desenhista privilegiado, formado em Belas Artes, Pedagogia e Orientação Educacional, com especialização em Didática e título de mestre com a tese “O Cinema como Meio de Formação Cultural do Universitário”. Foi docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) a partir de 1976, lotado no Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Educação.

A Lei nº 13.942, de 8 de dezembro de 2006, atribuiu o nome de José Sidney Leandro à área institucional cedida pelo governo municipal para a instalação de um Parque das Artes no Parque Faber, zona oeste da cidade.

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