Rui Sintra - Crédito: arquivo pessoal Ao se ter concluído a passagem do décimo quinto aniversário de minha colaboração junto ao Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) como responsável pela comunicação em uma das mais respeitadas instituições científicas do Brasil e uma das mais conceituadas no mundo, sinto que esse período representa um movimento carregado de simbolismo e significado prático.
Trata-se de muito mais do que uma coincidência profissional ou curricular: é um reflexo claro dos novos paradigmas que orientam a ciência contemporânea e do papel central que a comunicação passou a ocupar nesse cenário.
O IFSC/USP é reconhecido internacionalmente por suas pesquisas de ponta em áreas como nanotecnologia, biofísica, óptica, computação quântica e novos materiais, entre tantas outras áreas do conhecimento. Contudo, o avanço científico não pode mais se dar apenas nos laboratórios e nas publicações especializadas. Ele precisa ser traduzido, difundido e compreendido pela sociedade — seja para inspirar novas gerações, seja para justificar investimentos públicos ou para combater a desinformação: um conjunto de objetivos que eu próprio tenho tentado alcançar sem sensacionalismos e sacrifícios, mantendo o low-profile.
Ao longo dos anos fui descobrindo que, ao transitar entre o mundo acadêmico e o universo público, comunicar ciência é uma missão estratégica e não apenas protocolar, e que ciência que não se comunica, se isola.
O fato de ser um jornalista português com responsabilidade na divulgação da vida do IFSC/USP também se reveste de um papel com um valor geopolítico e cultural. Portugal e Brasil compartilham uma língua, uma herança histórica e também desafios comuns no campo da educação, da ciência e da inovação, pelo que assumir essa responsabilidade na divulgação institucional tem certamente aproximado universidades, aberto canais de colaboração internacional e fortalecido pontes entre os sistemas de ciência e tecnologia da lusofonia.
Num mundo cada vez mais polarizado, onde as disputas geopolíticas se refletem nas próprias agendas de pesquisa, esse tipo de cooperação transnacional ganha novo valor. É a chamada “diplomacia científica”; ou seja, usar o conhecimento como instrumento de diálogo, de construção conjunta de soluções e de reconhecimento mútuo entre nações.
O jornalista, nesse contexto, passa a ser também um agente dessa diplomacia sutil — que não se faz apenas através de embaixadas, mas por redes de pesquisa, centros de inovação e narrativas compartilhadas.
Num ambiente dominado por físicos, engenheiros e biólogos, entre outras áreas do conhecimento, tenho procurado ao longo do tempo trazer outro olhar, outro ritmo, talvez outra linguagem, representando o mundo de fora: o da sociedade que quer entender o que se faz dentro dos laboratórios da Universidade.
Trata-se, portanto, de uma tarefa que, com o devido reconhecimento institucional, é marcada pela escuta, pela análise, pela capacidade de síntese e pelo compromisso com o interesse público, sendo também uma aposta no diálogo entre os saberes, no equilíbrio entre a precisão científica e a empatia narrativa.
Ao completar esses quinze anos à frente da Assessoria de Comunicação do IFSC/USP, confesso que a Instituição, sob a gestão de vários fantásticos diretores, tem sabido valorizar a minha humilde presença e trabalho, demonstrando que entende seu papel não apenas como geradora de conhecimento de ponta, mas também como ponte entre a academia e a sociedade, entre o Brasil e o mundo, entre a razão e a sensibilidade.
Em tempos em que o conhecimento é tanto celebrado quanto contestado, essa aposta na comunicação pode ser justamente o diferencial que define o futuro da ciência brasileira no século XXI.




