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domingo, 14 de dezembro de 2025
Proclamação da répública

Três anos depois de receber Dom Pedro II, São Carlos comemorou sua queda

Cidade contabilizava grandes lucros com a produção crescente de café, um ano após a abolição dos escravos, e com a chegada do telefone e do telégrafo

15 Nov 2025 - 07h30Por Da redação
Proclamação da répública  - Crédito: divulgaçãoProclamação da répública - Crédito: divulgação

Enquanto o marechal Deodoro da Fonseca e um grupo de militares, no Campo de Santana, no Rio de Janeiro — então capital do Império do Brasil — promoviam um golpe militar que resultou na Proclamação da República Brasileira, em 15 de novembro de 1889, São Carlos era uma cidade pujante. A produção de café aumentava a cada ano e as grandes fazendas produtoras estavam cheias de trabalhadores, muitos deles migrantes italianos. Seguindo a máxima “rei morto, rei posto”, a mesma população que três anos antes recebeu e exaltou o imperador Dom Pedro II agora comemorava sua derrocada.

A ferrovia completava quatro anos de funcionamento e era o transporte utilizado para escoar a produção de café até o Porto de Santos e, de lá, para a Europa. Algumas inovações, como rádio, telefone e telégrafo, chegavam à cidade. Os escravos libertados no ano anterior ou continuavam a trabalhar nas fazendas, ou formavam vilas na emergente São Carlos.

O memorialista Cirilo Braga afirma que, na São Carlos do Pinhal, a notícia telegráfica da Proclamação da República, no Rio de Janeiro, chegou na tarde de 15 de novembro de 1889. Ainda estava viva a lembrança da visita que o imperador Dom Pedro II fizera à cidade em 1886, quando foi recebido com foguetório e “entusiásticos vivas”, segundo o jornal local O Oitavo Distrito.

A notícia de 15 de novembro correu de boca em boca antes mesmo que os despachos telegráficos da noite daquela sexta-feira confirmassem o sucesso da instalação do novo regime.

“O mesmo povo que havia recebido o Imperador com flores pelas ruas enfeitadas com arcos, palmeiras e bandeiras, agora fazia festa para celebrar sua queda. ‘Sem demora o som da Marselhesa percorreu as ruas da cidade, no meio de indescritível entusiasmo’, relatou o historiador Cincinato Braga. E acrescentou: ‘Numerosa multidão levantava vivas à República e aos vultos mais salientes do partido republicano’”, afirma Cirilo.

A festa popular continuou no dia seguinte, e o Almanaque Álbum de São Carlos registrou que “a euforia geral produziu uma barulhenta passeata ao som de hinos patrióticos, pipocar de foguetório, ao estourar frequente de bombas retumbantes”.

Quando a turba passou em frente à Câmara Municipal — situada na praça, em frente à atual sede do São Carlos Clube — o guarda da cadeia, que funcionava no mesmo prédio, fez continência à bandeira republicana, apresentando armas.

A Proclamação da República dissolveu a Câmara Municipal e, no ano seguinte, criou a intendência para gerir o município, até que novas leis definissem como seriam os governos locais e as eleições. O município já havia sido elevado de vila a cidade em 1880 e contava com população significativa. Com a proclamação, a cidade viu a ascensão de políticos republicanos.

O Governo Provisório de Prudente de Moraes nomeou o primeiro Conselho de Intendência de São Carlos do Pinhal em 18 de setembro de 1890, presidido por Gastão de Sá. Em 30 de setembro de 1892, tomou posse a primeira Câmara eleita do período republicano. Vale dizer que a rua que antes se chamava 2 de Abril (dia do aniversário de D. Pedro II) passou a ser denominada Rua Marechal Deodoro.

Cirilo narra que, monarquista convicto, Antônio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal, resolveu se afastar da atividade política após a proclamação da República. Mas foi convencido a colaborar na organização do Estado, integrando a constituinte como senador. No entanto, ele retirou-se da vida pública logo em seguida.

Os ex-escravos libertos um ano antes migraram para a área urbana de São Carlos, formando bairros na periferia e enfrentando a falta de políticas públicas de integração social e acesso a recursos básicos. Parte deles permaneceu nas fazendas, pois as cartas de alforria expedidas no último ano de vigência do sistema escravista acabaram vinculando-os às propriedades rurais. O tema é tratado em profundidade no livro “Da Senzala para Onde? Negros e negras no pós-abolição em São Carlos-SP”, da pesquisadora Joana D'Arc de Oliveira, editado pela Fundação Pró-Memória de São Carlos.

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