Crédito: DivulgaçãoO economista Sérgio Perussi destaca que São Carlos deve seguir sua trilha de desenvolvimento apostando na força empreendedora de sua gente. Ele aponta a diversificação de atividades presente no município como fonte de equilíbrio em uma economia contemporânea. “O ponto positivo da economia de São Carlos é a sua diversidade de atividades econômicas, principalmente a industrial, e a área educacional e de pesquisa científica. Temos uma indústria diversificada, o que nos tira da situação incômoda de abrigar somente um ou poucos setores econômicos, sujeitos a movimentos de mercado, a exemplo de outras cidades que tiveram suas atividades industriais fortemente impactadas pelo ‘Tarifaço’ norte-americano”, destaca ele.
SÃO CARLOS AGORA – Na sua opinião, como a economia de São Carlos deve ser direcionada? A cidade deve priorizar qual setor? Turismo? Mercado imobiliário? Atração de novas empresas? Explorar a cadeia produtiva dos resíduos sólidos, consolidando e incentivando a coleta seletiva e a reciclagem? Ou tudo isso junto e misturado?
SÉRGIO PERUSSI – O ponto positivo da economia de São Carlos é a sua diversidade de atividades econômicas, principalmente a industrial, e a área educacional e de pesquisa científica. Temos uma indústria diversificada, o que nos tira da situação incômoda de abrigar somente um ou poucos setores econômicos, sujeitos a movimentos de mercado, a exemplo de outras cidades que tiveram suas atividades industriais fortemente impactadas pelo “Tarifaço” norte-americano. Por outro lado, temos um sistema educacional municipal e estadual, público e privado, de muito boa qualidade; e o ensino técnico e universitário, também público e privado, muito bem instalados e de excelência, realimentando esse ciclo virtuoso pela formação de bons cidadãos, profissionais e empreendedores.
Além disso, a cidade conta com um bom sistema de apoio ao empreendedorismo, com as atividades da USP, UFSCar, Unicep, Embrapa, Sebrae, CIESP/FIESP e os Parques Tecnológicos ParqTec/Science Park e Eco Tecnológico Damha. Não podemos deixar de elogiar o trabalho dos produtores rurais, do comércio, do setor imobiliário e de serviços, que também têm importância significativa para que a cidade se posicione como um lugar com boa qualidade de vida — uma cidade boa para se viver.
SCA – Uma possibilidade é a criação de um porto seco com importação e exportação de produtos por transporte aéreo utilizando o aeroporto internacional. Como o senhor vê isso?
PERUSSI – Por tudo isso, entendo que o desafio maior é usar esse acervo de experiências e conhecimentos para conseguir avançar mais. O investimento na atração de empresas industriais e de serviços deve ser uma ação constante, utilizando-se, para isso, a localização geográfica no centro do estado, que alia vias logísticas fundamentais, como estradas de qualidade, acesso a energias variadas, aeroportos e um ambiente de negócios industriais consolidado.
Um setor que se mostra promissor — e já é uma realidade — é o de aviação. São Carlos já está se consolidando como o segundo polo aeronáutico do estado, a partir da vinda do centro de manutenção da Latam e de outras empresas que atuam no setor, produzindo dirigíveis, drones e outros equipamentos civis e militares.
Na agropecuária, a oportunidade se dá na aplicação do conhecimento científico para maior produtividade, agregando cada vez mais técnicas modernas de cultivo e manejo.
Outro setor que parece ser promissor é o imobiliário e o de infraestrutura urbana. São Carlos está, há algum tempo, merecendo empreendimentos de porte que possam dar à cidade uma “cara” de modernidade. Estamos atrasados em urbanização de qualidade, sempre cuidando de problemas não bem enfrentados no passado, o que tem travado investimentos em modernização.
É importante cuidar para que os projetos urbanos públicos e os de investimento privado tenham um olhar de 360 graus em sua concepção, de forma a agregar valor não somente monetário, mas também criando ambientes aprazíveis e de contemplação. Não temos espelhos d’água na cidade — lagos, fontes, praças com equipamentos modernos — como é tradicional em outras partes do país e do mundo.
Enfim, é preciso cuidar para não apenas fazer, mas fazer bonito e bem-feito, agregando valor a todos. E isso também é muito válido para os bairros, e não somente para as regiões mais visíveis. Escolas e equipamentos urbanos de boa qualidade, que demandem menos manutenção, entre outros aspectos, também devem ser priorizados.
SCA – A Fundação ParqTec afirma que faltam investidores para acelerar a criação e o fortalecimento das startups. Como buscar esses investidores?
PERUSSI – A demanda pelo porto seco é muito válida, facilitando as atividades econômicas que dependem do aeroporto. O investimento em eventos musicais — a exemplo da Tusca — e esportivos — talvez com a concessão do Ginásio de Esportes a algum grupo investidor, após análise — também são ações fundamentais.
Agora, tudo isso sem nunca esquecer de alimentar aquilo que é o DNA da cidade desde a sua fundação: a atividade empreendedora de seus cidadãos, que empreenderam no passado e nos legaram um acervo considerável de infraestrutura industrial, rural, comercial e de serviços, que segue agora alimentada pelos jovens empreendedores da sociedade do conhecimento.
Para tanto, é fundamental que também se busque atrair investidores para viabilizar as novas empresas que nascem quase diariamente e precisam de capital para se transformarem em grandes companhias. O esforço precisa ser contínuo e usar o conhecimento mais qualificado possível para dar bons frutos.
SCA – Mais alguma coisa?
PERUSSI – Sem esquecer de que uma cidade boa para se viver precisa de coleta seletiva de lixo e de um bom encaminhamento da questão dos resíduos sólidos. Aí também há desafios a serem enfrentados de forma inteligente, usando conhecimentos e tecnologias disponíveis há tempos. Ao atacar o problema, oportunidades serão geradas paralelamente.





