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sexta, 19 de dezembro de 2025
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São Carlos registra 8.626 divórcios em 16 anos, diz IBGE

Família nuclear são-carlense tradicional, baseada no casamento heterossexual indissolúvel, perde espaço para um mosaico de arranjos; casamento entre mulheres avança, assim como a guarda compartilhada de filhos

18 Dez 2025 - 16h22Por Da redação
Pesquisa revela, além de novos tipos de família, os dados apontam ainda novos ciclos de vida: o ´curso da vida' padronizado (estudo, casamento, filhos) dá lugar a trajetórias individualizadas, com sequências e timing variados - Crédito: FreepikPesquisa revela, além de novos tipos de família, os dados apontam ainda novos ciclos de vida: o ´curso da vida' padronizado (estudo, casamento, filhos) dá lugar a trajetórias individualizadas, com sequências e timing variados - Crédito: Freepik

As “Estatísticas do Registro Civil 2024”, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam que, em dezesseis anos, entre 2009 e 2024, houve em São Carlos um total de 8.626 divórcios, em primeira instância ou por escritura, o que dá uma média de 539,12 divórcios por ano.

Durante esse período, houve grande variação nos números. Os divórcios somaram 173 em 2009. O maior número foi registrado em 2017, quando houve 888 casos. Em 2014, foram 659 registros.

GUARDA DE FILHOS – A guarda dos filhos após o divórcio mudou profundamente entre 2014 e 2024. Nesses onze anos, o número de crianças com guarda compartilhada cresceu cerca de 1.800%, saltando de 10 casos em 2014 para 193 em 2024. A partir de 2022, a guarda compartilhada passou a superar o número de casos em que a mãe detém a guarda exclusiva, chegando a 234 casos, contra 103. Em 2023, foram 201 casos de guarda compartilhada, contra 112 em que a guarda ficou exclusivamente com as mães.

CASAMENTOS ENTRE MULHERES – O número de casamentos entre mulheres também aumentou de forma significativa em São Carlos. De acordo com o IBGE, entre 2013 e 2024, foram realizados 152 casamentos, o que resulta em uma média de 12 casamentos por ano no município.

Os dados divulgados recentemente mostram mudanças estruturais nas famílias no Estado de São Paulo e, especialmente, em São Carlos. O que se configura, a partir da pesquisa, é um novo tipo de família, mais diversificada, com menos filhos e mães mais velhas, entre outras transformações.

Vencendo vários preconceitos e até a homofobia, o casamento entre mulheres é cada vez mais comumVencendo vários preconceitos e até a homofobia, o casamento entre mulheres é cada vez mais comum. Agência Brasil 

FAMÍLIAS MAIS PLURAIS – A cientista política e social Aline Zambello destaca que a família nuclear são-carlense tradicional, baseada no casamento heterossexual indissolúvel, perde espaço para um mosaico de arranjos: casamentos homoafetivos em ascensão, divórcios com corresponsabilidade parental crescente e filhos nascidos de mães mais velhas.

Ela ressalta que o declínio dos nascimentos é estrutural e deve se manter, acelerando o envelhecimento populacional, o que leva a debates sobre políticas públicas, previdência social e serviços de saúde.

Aline também explica mudanças nos papéis de gênero. “A queda na guarda exclusiva materna e o adiamento da maternidade apontam para uma renegociação, ainda que incompleta, dos papéis de gênero. Há uma maior distribuição das responsabilidades parentais e uma valorização da autonomia e da trajetória individual das mulheres antes da maternidade”, comenta.

Para ela, os dados apontam ainda novos ciclos de vida: o “curso da vida” padronizado (estudo, casamento, filhos) dá lugar a trajetórias individualizadas, com sequências e tempos variados. “O casamento deixou de ser um pré-requisito universal para a formação da família, e a parentalidade é cada vez mais uma escolha planejada e tardia”, conclui.

O número de divórcios caiu 3% entre 2023 e 2024, chegando a 122 mil no país. A última queda nesse indicador havia ocorrido entre 2019 e 2020 (-9,6%). A proporção de divórcios judiciais de casais com guarda compartilhada (41,9%) aumentou, mas ainda não superou aqueles em que a mulher fica com a guarda da criança (48,2%).

O número de casamentos civis cresceu 1,6% entre 2023 e 2024, mas não alcançou o patamar pré-pandemia. Em 2024, foram registrados 239 mil casamentos, contra 269,9 mil em 2019. Entre pessoas do mesmo sexo, a alta em 2024 foi de 6,2% em relação ao ano anterior, atingindo novo recorde, com 4.534 registros.

Em 2024, o país teve 471,1 mil nascimentos, uma queda de 6,4% em relação a 2023 (503,7 mil), configurando o sexto ano consecutivo de redução da natalidade. A proporção de mães com até 24 anos caiu de 45% para 29,1% entre 2004 e 2024. O Estado registrou 351 mil óbitos em 2024, número 5% maior em comparação com 2023. Do total, 6% foram por causas não naturais (homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, afogamentos, quedas acidentais, entre outros).

O número de óbitos não naturais entre homens (16.009) foi três vezes maior do que entre mulheres (5.236). Entre adolescentes e jovens de 15 a 29 anos, essa sobremortalidade masculina (3.610 óbitos) é ainda mais acentuada, sendo 5,5 vezes maior que a feminina (656 óbitos).

CASAMENTOS – A cientista política e social Aline Zambello afirma que, sobre casamentos e divórcios, o crescimento de 1,6% no número de casamentos civis entre 2023 e 2024 indica uma retomada, mas não reverte o impacto duradouro da pandemia. O patamar de 2024 permanece 11,4% abaixo do observado em 2019, sugerindo que fatores além da crise sanitária, como mudanças culturais e prioridades individuais, podem estar desestimulando a formalização conjugal no ritmo anterior.

Em contraste, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo apresentaram alta de 6,2% em 2024, alcançando novo recorde. Esse crescimento sinaliza maior visibilidade, aceitação social e exercício de direitos por parte da população LGBTQIAP+, consolidando a pluralização dos modelos familiares.

A queda de 3% nos divórcios, a primeira desde 2020, pode indicar uma saturação após um possível represamento durante a pandemia ou maior seletividade na entrada no casamento. Contudo, o dado sociologicamente mais relevante está na guarda dos filhos. Embora a guarda materna exclusiva ainda seja majoritária (48,2%), a guarda compartilhada chegou a 41,9%, mostrando uma trajetória de ascensão. Esse movimento reflete mudanças nas dinâmicas de gênero, com maior expectativa de paternidade ativa e reconhecimento jurídico da corresponsabilidade parental após o divórcio.

No geral, os dados sobre casamentos apontam para um cenário de recuperação moderada, porém incompleta, de reconfiguração dos padrões pré-pandemia e de maior aceitação da diversidade dos casamentos homoafetivos.

NATALIDADE – Aline destaca ainda que a redução de 6,4% nos nascimentos no Estado de São Paulo (e de 5,8% no país, para 2,38 milhões) representa o sexto recuo consecutivo e o mais acentuado em duas décadas. Trata-se de um fenômeno multifatorial, que envolve envelhecimento populacional, mudanças culturais, incertezas econômicas e os custos da criação dos filhos.

A transformação no perfil etário das mães é significativa. Entre 2004 e 2024, a proporção de mães com até 24 anos caiu de 45% para 29,1% em São Paulo. Paralelamente, dados nacionais mostram que estados como São Paulo (44,5%) e o Distrito Federal (49,8%) registram quase metade dos nascimentos provenientes de mães com 30 anos ou mais. O adiamento da maternidade é característico de sociedades urbanizadas, com maior inserção feminina no mercado de trabalho, nas quais a formação profissional e a estabilidade financeira antecedem a decisão reprodutiva.

No geral, observa-se uma transformação importante na configuração da família. Ao mesmo tempo em que se consolida a redução do número de nascimentos, os filhos que nascem estão inseridos em famílias com mães mais velhas do que em décadas anteriores.

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