Reconstrução de pterossauro (Paleoarte de Hugo Cafasso) - As primeiras pegadas de pterossauros registradas no Brasil acabam de ser descritas oficialmente por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Cavanis, de Veneza (Itália). O estudo, publicado em setembro nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, detalha fósseis encontrados há cerca de 20 anos em uma pedreira de arenito em Araraquara (SP).
Descoberta após duas décadas de estudo
Os vestígios foram coletados em 2004, durante o doutorado do professor Marcelo Adorna Fernandes (UFSCar), em parceria com a pesquisadora Luciana Bueno dos Reis Fernandes. O trabalho contou ainda com a colaboração do pesquisador Mauro B.S. Lacerda (UFRJ) e do paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi.
A análise confirmou que as pegadas pertencem ao icnogênero Pteraichnus, atribuído a pterossauros do grupo azhdarchoid, com afinidade ao gênero Tupandactylus. Segundo Fernandes, foi necessária uma comparação com materiais de outros países para validar a identificação.
Como eram as pegadas?
As marcas revelaram aspectos peculiares:
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Impressões de três dedos;
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Apoio digitígrado nos membros dianteiros (semelhante a cães e gatos);
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Apoio plantígrado nos membros traseiros (semelhante a humanos e ursos);
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Características anatômicas que confirmam a atribuição ao grupo Pteraichnus.
Com base no tamanho das pegadas, os cientistas estimaram que o animal tinha cerca de 60 cm de altura no quadril e uma envergadura superior a 2,5 metros, o que o coloca entre os maiores representantes conhecidos desse icnogênero.
Importância para a paleontologia brasileira
As pegadas foram encontradas em rochas da Formação Botucatu, um paleodeserto de 135 milhões de anos que se estendia do sul de Minas Gerais ao Uruguai. Diferente de outros sítios fossilíferos do Brasil, como o Nordeste, essa região não preserva ossos, mas registra marcas de atividade animal.
Até então, já haviam sido identificadas pegadas de lagartos, pequenos mamíferos e dinossauros, mas nunca de pterossauros. “As evidências mostram que mesmo em um ambiente árido havia cadeias alimentares estruturadas e fauna diversificada, incluindo os pterossauros”, explica Fernandes.
Exposição em São Carlos
As pegadas descritas podem ser vistas pelo público em exposição permanente no Museu da Ciência Professor Mário Tolentino, localizado na Praça Coronel Sales, no Centro de São Carlos. A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Com informações da assessoria de imprensa





