Crédito: Divulgação“São Carlos realiza um dos últimos melhoramentos com que a civilização costuma dotar os grandes centros, sendo a terceira cidade do interior brasileiro a ter bonde elétrico.”
Assim noticiava o jornal O Correio de S. Carlos, em 27 de dezembro de 1914.
A experiência do transporte coletivo surgiu em São Carlos quando a expressão mobilidade urbana ainda nem existia. Era o ano de 1895. Naquela época, apenas os abastados fazendeiros, com suas carruagens e cocheiros à disposição, podiam usufruir de um transporte rápido — ou, pelo menos, “rápido” para os padrões da época.
Puxado por burros
Eis que entra em cena o arrojado coronel Leopoldo Prado, no papel de pioneiro do transporte coletivo naquela jovem urbe. Ainda em 1895, ele instalou uma linha de bondes de tração animal, puxados por burros.
A única linha partia da Estação Ferroviária, seguia pelas ruas Vitória (atual Bento Carlos), São Joaquim, General Osório e Avenida Prado (atual Dr. Teixeira de Barros).
Uma das condições constantes no contrato firmado com a Intendência Municipal determinava que o horário de circulação dos bondes seria das “quatro da manhã às dez horas da noite e, nas noites de espetáculos, até a hora em que estes terminarem”.
Para sorte dos burros, uma epidemia de febre amarela que acometeu a cidade ainda naquele mesmo ano acabou sepultando a primeira experiência de transporte coletivo em São Carlos.
Queremos bonde!
O bonde passou a ser o tema central nas conversas da população a partir de 1911. Muitos duvidavam que a cidade reunisse capacidade técnica e recursos financeiros para colocar em funcionamento um invento que circulava na capital paulista havia apenas 11 anos — desde 7 de maio de 1900, quando a empresa canadense Light Power Company inaugurou o primeiro serviço de bondes elétricos da América do Sul.
O assunto voltaria aos noticiários de São Carlos 17 anos depois. Em 15 de junho de 1912, o então prefeito José Rodrigues Sampaio assinou um contrato com o senhor Argeu Vinhas para a instalação de um serviço elétrico de bondes na cidade e em seus arrabaldes.
A Companhia Paulista de Eletricidade, concessionária do serviço de força e luz, assumiu com Argeu Vinhas a responsabilidade pela parte do contrato referente aos carros elétricos.
A primeira viagem
19 de dezembro de 1914, 17h. Nesse dia e hora trafegou o primeiro bonde — um carro de carga — pela linha da Rua São Joaquim, desde a Fábrica de Tecidos até a Estação de Bondes, repleto de convidados. O povo se aglomerava em todo o percurso, entusiasmado e curioso para vê-lo passar.
Finalmente, em 27 de dezembro de 1914, os bondes elétricos foram inaugurados, tornando essa data histórica para o município de São Carlos.
Cerca de 14 mil pessoas viajaram naquele dia. Causou excelente impressão o fato de o valor arrecadado com as primeiras viagens — realizadas pelos seis bondes que iniciaram o serviço — ter sido destinado às instituições de caridade da cidade.
O Largo Municipal era o ponto de convergência das linhas de transporte urbano estabelecidas no contrato. As duas primeiras linhas envolviam as ruas centrais da cidade.
A terceira linha percorria as ruas São Carlos, Conde do Pinhal, Uruguayana, Mercado (atual Geminiano Costa), Aquidaban e General Osório, até a chácara do Major José Inácio (onde hoje fica o Colégio Diocesano).
A quarta linha seguia pelas ruas Sete de Setembro, São Paulo e Babylonia (atual Padre Teixeira) até a Vila Nery, onde fazia a conversão para retornar ao centro — trecho que ficou conhecido como o “balão”.
A quinta linha seguia pelas ruas São Paulo e Dr. Carlos Botelho até a Santa Casa, prosseguindo os trilhos, apenas para carga, até o Matadouro.
Por fim, a sexta linha percorria as ruas Dona Alexandrina, Marechal Deodoro, da Palma (atual Dom Pedro II), Tiradentes e São Carlos até o Cemitério Novo, na colina, além do Tijuco Preto.
Mais tarde, esses itinerários foram reformulados, sendo fundidas as linhas em apenas três trajetos principais.
O fim dos bondes
Ao final do contrato de concessão, em 1962, os bondes foram desativados, sob a justificativa de que o transporte coletivo por ônibus seria mais eficiente.
Um dos antigos carros permanece preservado e está exposto no chamado “Balão do Bonde”, na Vila Nery, como símbolo de uma época em que os trilhos marcaram o ritmo do progresso e da modernidade em São Carlos.
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