A vereadora Larissa Camargo: "A sociedade, em geral, ignora o racismo rotineiramente, e precisamos combater essa prática com alinhamento entre discurso e prática" - Crédito: arquivo pessoal Mulher, preta, moradora da periferia, de esquerda e filiada ao Partido Comunista do Brasil, Larissa Camargo, 39 anos, venceu o preconceito que por décadas assombrou a política são-carlense, furou a bolha e chegou à Câmara Municipal através do voto. A parlamentar carrega consigo muita força e muitos significados. Ela conquistou a cadeira pelo PCdoB, partido que nunca havia elegido vereador no município, com 2.361 votos, algo que a surpreendeu. Recebeu votos em pelo menos 50 dos 62 locais de votação de São Carlos.
Em 2022, o Censo do IBGE contabilizou 254.857 habitantes em São Carlos, dos quais 32% se autodeclararam pretos ou pardos. O número de pessoas que se declararam pretas no município cresceu 29,8% em relação a 2010. Desde 1865, quando a Câmara foi instalada, São Carlos elegeu apenas 13 mulheres vereadoras. A primeira eleita foi Elydia Benette, que assumiu em 1º de janeiro de 1948. Agora, com as novatas Fernanda Castelano e Larissa, esse número sobe para 13. Nesta entrevista exclusiva ao São Carlos Agora, Larissa fala sobre o Dia da Consciência Negra, seu papel como vereadora e sua luta contra o racismo e pela implantação de políticas públicas em prol da igualdade racial.
SÃO CARLOS AGORA – Como se sente hoje, Dia da Consciência Negra, como a primeira vereadora negra da história de São Carlos?
LARISSA CAMARGO – Uma tremenda responsabilidade em representar a luta de um povo execrado por décadas em relação aos direitos. Tenho tentado desenvolver esse papel com maestria.
SCA – Como você acha que São Carlos pode reparar sua dívida histórica com a comunidade afrodescendente?
LARISSA CAMARGO – Penso que só se faz transformação com políticas públicas efetivas. É preciso olhar para os dados existentes e focar em um plano de ação específico para redução das vulnerabilidades.
SCA – Recentemente foi proposto um projeto que exaltava a figura de um escravocrata, e você e o movimento negro conseguiram se articular e reverter a situação. Como você tem visto a questão da igualdade racial na política são-carlense e, mais especificamente, no Poder Legislativo?
LARISSA CAMARGO – Ainda precisamos caminhar muito, considerando a questão histórica do racismo estrutural. O compromisso da Câmara Municipal, além de legislar, é garantir o cumprimento das leis de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial.
SCA – O caso do boneco negro enforcado vai completar um ano e, até hoje, os responsáveis por esse crime não foram identificados. Como a senhora vê esse fato?
LARISSA CAMARGO – O racismo é sempre colocado como crime desacreditado e de descrédito. A sociedade, em geral, ignora o racismo rotineiramente, e precisamos combater essa prática com alinhamento entre discurso e prática.
SCA – Como a senhora tem acompanhado os problemas que o Clube Flor de Maio tem enfrentado?
LARISSA CAMARGO – Tenho acompanhado de perto, e a esperança é grande, mas os problemas administrativos são muitos. A diretoria atual está totalmente empenhada em reerguer o clube, e nosso mandato está à disposição nessa luta.





