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sexta, 05 de dezembro de 2025
Tecnologia e sustentabilidade

Diretor do CIESP São Carlos destaca importância do Centro de Inovação do SENAI

SENAI Park tem projetos com hidrogênio verde e bateria de lítio e leva para dentro das indústrias um tema que une ganho de produtividade e preocupação ambiental: a transição energética

15 Nov 2025 - 17h06Por Da redação
Diretor do CIESP São Carlos destaca importância do Centro de Inovação do SENAI - Crédito: divulgação Crédito: divulgação

Em entrevista exclusiva ao São Carlos Agora, o diretor regional do CIESP São Carlos destacou a importância do parque de inovação e tecnologia SENAI Park, inaugurado no dia 20 de outubro na cidade de Ipojuca, região metropolitana do Recife. O centro leva para dentro das indústrias um tema que une ganho de produtividade e preocupação ambiental: a transição energética.

O novo centro de desenvolvimento tecnológico funciona como um “berçário” formado por plantas-piloto, nas quais empresas industriais podem simular procedimentos, realizar testes e medir o desempenho de produtos e técnicas. O SENAI Park já nasce com dois projetos de desenvolvimento contratados por mais de dez empresas, que somam R$ 100 milhões em investimentos.

Em ano da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém, no início de novembro, as duas iniciativas estão relacionadas à descarbonização, isto é, ao estímulo à produção e ao consumo de energia limpa, não emissora de gases de efeito estufa — causadores do aquecimento global.

“A inauguração do centro de inovação e tecnologia do SENAI-PE em Ipojuca é mais uma demonstração de que o sistema SENAI está alinhado com o desenvolvimento da indústria brasileira. Vale lembrar que o próprio setor industrial financia diretamente essa estrutura por meio das contribuições sobre a folha de pagamento de cada indústria instalada no país e está sempre investindo em formação, pesquisa e infraestrutura tecnológica que beneficiam a todos”, afirma Santos.

Em São Paulo, segundo ele, o SENAI cumpre esse papel de forma bastante ativa. Como exemplo, o SENAI-SP anunciou recentemente que disponibilizará R$ 460 milhões em 2025 para projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) por meio da sua Plataforma de Inovação para a Indústria.

“Também integrou um centro de pesquisa sobre 5G, inteligência artificial e Indústria 4.0 em parceria com a USP, a Claro e a FAPESP, com investimento superior a R$ 40 milhões. Essa combinação – das indústrias contribuindo para o SENAI, e o SENAI oferecendo qualificação, tecnologia e inovação – está no DNA da instituição desde sua fundação. A iniciativa em Pernambuco é, portanto, coerente com esse modelo nacional de cooperação entre indústria, educação e tecnologia”, destaca o líder empresarial.

HIDROGÊNIO VERDE

Um dos projetos é voltado à produção e pesquisa de hidrogênio verde. No SENAI Park há um eletrolisador, equipamento que permite obter o produto.

O hidrogênio é um gás que pode ser usado como combustível sem emitir gás carbônico (CO²), causador do efeito estufa. No entanto, apesar de ser o elemento mais abundante na natureza, dificilmente é encontrado isolado, estando geralmente associado a outros elementos — como no caso da água (HO).

Um dos métodos mais utilizados para sua extração é a eletrólise, processo em que se separa a molécula de hidrogênio da água. Quando a energia usada nesse processo é de origem limpa, como a hidrelétrica, o hidrogênio resultante é classificado como verde.

O diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI-PE, Oziel Alves, explica que o centro trabalhará com hidrogênio verde tanto na produção de combustível para mobilidade de veículos quanto no desenvolvimento de formas de armazenar o elemento em células combustíveis. O hidrogênio é considerado um vetor energético e pode ser convertido em energia elétrica.

Segundo o diretor, o eletrolisador tem capacidade de produzir 30 quilos de hidrogênio por dia, o suficiente para abastecer quatro veículos no trajeto entre o Porto de Suape e Recife (cerca de 50 quilômetros).

O desenvolvimento tem a participação das empresas Neuman & Esser, Siemens, White Martins, Hytron, Compesa e CTG Brasil.

COMPETITIVIDADE E ARMAZENAMENTO

Alves ressalta que, além de representar um avanço rumo à transição energética, o desenvolvimento de energia limpa, como o hidrogênio verde — que também serve como matéria-prima para alguns setores industriais —, pode fortalecer as finanças dos negócios.

Ele lembra que alguns mercados, como a União Europeia, aplicam taxas adicionais a empresas que emitem altos volumes de poluentes. “Produtos intensivos em energia, como cimento, ácido e produtos específicos que entram no mercado europeu, precisam ter certificação de energia limpa”, observa.

Outro projeto em andamento no SENAI Park é o de sistemas de armazenamento de energia, semelhantes a grandes baterias. Alves acredita que essa pode ser uma solução para o problema do curtailment (redução técnica de geração), que ocorre quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisa descartar energia eólica e solar excedente.

“A gente poderia armazenar essa energia e, depois, produzir hidrogênio com o excedente não utilizado na rede”, projeta.

BATERIA DE LÍTIO

O outro projeto contratado é a produção de baterias de lítio de baixa tensão, componente essencial da crescente frota mundial de carros elétricos. O projeto é executado pelo Grupo Moura, que já fabrica baterias para veículos convencionais.

Atualmente, o Brasil depende de baterias importadas da China, que domina a tecnologia e o mercado global. O lítio é considerado um dos minerais estratégicos para a transição energética.

A diretora regional do SENAI, Camila Barreto, chama o processo de produção nacional de “tropicalização”. “É dar ao Brasil a condição de trazer essa tecnologia e passar a produzir essas baterias aqui”, explica.

O investimento inicial é de R$ 20 milhões. A linha de produção será robotizada e deverá estar pronta no primeiro trimestre de 2026, com capacidade para produzir mil baterias de 12v e 48v por mês.

O projeto conta com recursos do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e com o interesse de empresas como Stellantis, Volkswagen, Iochpe Maxion e Horse (Grupo Renault).

Alves ressalta que, embora sejam concorrentes, as empresas compartilham informações no SENAI Park. Apenas implementações “internalizadas” são protegidas por segredo industrial. “O conhecimento geral desenvolvido aqui ao longo do projeto é compartilhado entre os grupos. O específico de cada empresa é preservado”, detalha.

O diretor de operações do Grupo Moura, Spartacus Pedrosa, afirma que as baterias de lítio ganham destaque por colaborarem para a eficiência energética. “Elas ajudam a reduzir a pegada de carbono”, diz.

O projeto é pioneiro e se dedica à produção de baterias, ainda com células importadas da China. Outras unidades do SENAI, como a do Paraná, realizam estudos voltados à mineração do lítio em território nacional.

PAPEL DA INDÚSTRIA

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), Bruno Veloso, considera que tecnologias como a do hidrogênio verde e das baterias de lítio mostram que a transição energética já está presente dentro das empresas industriais.

“Na indústria, há processos que geram CO². Estamos trabalhando para que isso seja cada vez mais evitável. A descarbonização da indústria vem justamente dessa pesquisa por novas fontes energéticas que possam substituí-las”, diz.

“Não se pode falar em descarbonização sem que a indústria esteja totalmente inserida no tema”, completa Veloso.

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