(16) 99963-6036
sábado, 06 de dezembro de 2025
Memória

Morte de Gilberto Chieriche, o "pai da pílula contra o câncer", completa seis anos

No final dos anos 1980, ele desenvolveu um polímero a partir do óleo de mamona, ideal para a fabricação de próteses bem mais baratas que as de silicone.

21 Jul 2025 - 15h06Por Marco Rogério
O químico Gilberto Chierice: Por 20 anos Chierice produziu e distribuiu gratuitamente a fosfoetanolamina. A pesquisa em seu laboratório do IQSC/USP chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês - Crédito: Alesp reproduçãoO químico Gilberto Chierice: Por 20 anos Chierice produziu e distribuiu gratuitamente a fosfoetanolamina. A pesquisa em seu laboratório do IQSC/USP chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês - Crédito: Alesp reprodução

Morria há seis anos, no dia 19 de julho de 2019, no Hospital Instituto de Moléstias Cardiovasculares, em São José do Rio Preto (SP), o químico e professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, Gilberto Orivaldo Chierice. Ele tinha 75 anos. Chierice ficou conhecido no Brasil por desenvolver a fosfoetanolamina sintética, popularmente chamada de “pílula do câncer”. A causa da morte foi infarto do miocárdio.

Trajetória
Nascido em Rincão (SP), Chierice formou-se em Química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Unesp de Araraquara (1969). Realizou mestrado (1973) e doutorado (1979) em Química pela USP, na capital. Em 1976, ingressou no quadro docente da USP de São Carlos e se aposentou em 2013 como professor titular.

No final dos anos 1980, ele desenvolveu um polímero a partir do óleo de mamona, ideal para a fabricação de próteses bem mais baratas que as de silicone e que também não causavam rejeição. Esse trabalho lhe rendeu, em 1996, o reconhecimento como um dos 100 melhores cientistas brasileiros dos últimos 100 anos.

Durante 20 anos, Chierice produziu e distribuiu gratuitamente a fosfoetanolamina. A pesquisa em seu laboratório no IQSC/USP chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês, mesmo sem testes clínicos comprovados em humanos.

Em agosto de 2015, pacientes com câncer começaram a entrar na Justiça para obter as cápsulas. Segundo o próprio professor, a fosfoetanolamina é a combinação de uma substância muito comum, utilizada em muitos xampus capilares, chamada monoetanolamina, com o ácido fosfórico, que é um conservante de alimentos. Juntas, essas substâncias formariam um marcador de células diferenciadas, consideradas células cancerosas.

O tema gerou polêmica em 2015, envolvendo a USP e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proibiram a distribuição da fosfoetanolamina. Pacientes, no entanto, continuaram recorrendo à Justiça para garantir o direito ao composto.

Em dezembro daquele ano, o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) anunciou a coordenação de uma pesquisa para testar a substância. A universidade fechou o laboratório em abril de 2016 e suspendeu a distribuição até que fosse obtido o registro junto à Anvisa, que afirmou não ter identificado processo formal de avaliação do produto em seus registros. Segundo a agência, para obter o registro, além da requisição, seria necessário apresentar documentos e análises clínicas, o que não constava na pesquisa.

Ainda em abril de 2016, mesmo diante da preocupação da Anvisa quanto à liberação sem garantias de eficácia e segurança, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou a lei que autorizava o uso da substância por pacientes diagnosticados com tumores malignos.

Em maio do mesmo ano, por 6 votos a 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a lei e manteve suspensas decisões judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância.

Em março de 2017, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) suspendeu as verbas para a pesquisa e a inclusão de novos pacientes nos testes clínicos com a fosfoetanolamina, devido à ausência de “benefício clínico significativo” nas pesquisas realizadas até então.

Em outubro de 2017, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que concluiu em abril de 2018 que houve falhas na eficácia, na pesquisa e nos testes de segurança do composto, recomendando que novos estudos fossem realizados antes que ele fosse distribuído.

Em junho de 2019, a Universidade Federal do Ceará (UFC) iniciou os primeiros testes da chamada pílula do câncer em seres humanos. Ao todo, 64 voluntários participariam do experimento, realizado pela primeira vez no Brasil.

Leia Também

Últimas Notícias