Crédito: DivulgaçãoA escassez de mão-de-obra escrava e o seu fim, com a abolição da escravatura já eram problemas previstos pelos fazendeiros mais inteligentes e mais informados como Antonio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal.
Só havia uma solução disponível e ele sabia disso: a Europa vivia uma período de guerras, doenças e miséria. Assim, ele vai buscar, ainda em 1876, um grupo de cem famílias na Alemanha para morar e trabalhar em suas fazendas.
Mas a Itália também era um país fadado a exportar gente, já que no final do Século XIX, o país passava por grandes transformações econômicas e uma grande crise. Para fugir da fome, cerca de 12 milhões de italianos migraram para várias partes do mundo. Deste total, uma boa parte veio para o interior paulista labutar nas fazendas de café.
A essa altura, buscar imigrantes não era novidade, já que em Rio Claro já havia iniciado este processo em 1860.Tanto que em 1872, 20% da população rioclarense era formada por alemães e suíços. Em 1865, 30 famílias norte-americanaschegavam a Araraquara.
A partir de 1880 a imigração se intensifica. O exército de europeus somava-se à mão-de-obra escrava nas lavouras, pois a super-produção de café admitia, então os dois tipos de empregados nas plantações. Em 1886, cerca de um oitavo da população era formada por imigrantes. Somente a Capital Paulista tinha mais estrangeiros que São Carlos naquele ano.
Com eles vão se modificar as edificações nas fazendas. Vão surgir as chamadas colônias, com diversas pequenas casas. Numa época em que nem se sonhava com a automação na lavoura, a não de obra livre era a esperança de se manter o apogeu do café. Mesmo assim, esta convivência entre fazendeiros e imigrantes nem sempre foi pacífica. Acostumados a lidar com a violência contra os escravos, houve inúmeros casos de agressões contra colonos até com uso de chicote e, é claro, com vários casos de revide.
Situação complicada também se deu em 1895, quando a Quadrilha Mangano aterrorizou a São Carlos do Pinhal. Todo italiano era visto como suspeito ou cúmplice dos bandidos calabreses. Vários deles foram torturados pelo coronel Leopoldo Prado e pelo delegado Gaspar Berrance.
Em 1899 São Carlos tinha, segundo o Club da Lavoura, 15 mil trabalhadores rurais, sendo destes, mas de 10 mil italianos. Ainda destacavam-se 1.356 espanhóis; 886 portugueses;447 austríacos; 211 alemães; 119 polacos e três franceses.
Depois de momentos de hostilidade na duas Guerras Mundiais, sendo que na segunda, expedicionários brasileiros combateram os fascistas italianos em Monte Castelo, os estrangeiros foram aos poucos se integrando à sociedade sãocarlense, assim como árabes, orientais e pessoas de outras origens raciais.
Hoje, a imigração européia faz parte da história e deixou marcas eternas em vários setores da vida local, como culinária, costura, esportes, música e etc. O professor Oswaldo Truzzi, Autor de “Café e Indústria – São Carlos 18509 – 1950”, frisa que ao contrário do que se pensa, em terras paulistas os colonos não conseguiram se fixar em sistema de pequenas propriedades, como era tradição européia. O regime de grandes latifúndios, existente até hoje, dificultava muito esta ascensão social que muitos conseguiram, graças aos seus talentos, com o início do processo de industrialização.
O ASSASSINATO DO IRMÃO DE CAMPOS SALES
Em 1900 ocorreu um dos fatos que mostrava o choque cultural e a difícil convivência entre os fazendeiros e os colonos italianos. Diogo Salles era fazendeiro em Analândia e irmão de Campos Salles, presidente da República. Seu filho, Raul, administrador de sua fazenda, tentou namorar, sem sucesso, uma das três filhas de um colono de nome Longaretti. Como vingança, o jovem convenceu o pai a expulsar, na primeira oportunidade, os italianos da fazenda. O velho Longaretti concordou em deixar a propriedade, mas com uma indenização pelo seu trabalho.
Acompanhado de capangas, Diogo Salles pessoalmente agrediu o pobre colono, atirando-o ao chão. Seu filho, Ângelo, sacou de uma arma e acertou um tiro fatal no fazendeiro. O jovem Longaretti ficou na cadeia durante oito anos, quando então, depois de protestos da colônia italiana por todo o Brasil,foi solto e o processo revisto.






