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sábado, 06 de dezembro de 2025
SÃO CARLOS 168 ANOS

Casarões exibem poder econômico dos cafeicultores

Maioria destas construções concentra-se nas partes mais altas da cidade nas quadras próximas ao Jardim Público e Igreja Matriz

31 Out 2025 - 16h16Por Marco Rogério Duarte
Casarões exibem poder econômico dos cafeicultores  - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

Os barões do café do século XIX faziam uma curiosa separação entre o campo e a cidade. Enquanto o primeiro representava a fonte de riqueza, o trabalho e a produção — onde se ganhava muito dinheiro —, a segunda simbolizava o ambiente de consumo de produtos e serviços, além de proporcionar algum lazer.

Os núcleos urbanos eram vistos como fruto exclusivo do desejo de consumo, diversão ou ostentação. Enquanto isso, o fazendeiro tornava-se um indivíduo para quem a propriedade agrícola representava, em primeiro plano, o meio de vida, e apenas ocasionalmente um local de recreio.

Era justamente nesse ambiente que os fazendeiros tentavam reproduzir, no meio urbano, o mesmo luxo e conforto de que desfrutavam nas casas-grandes ou nas viagens às cidades europeias.

Dessa forma, o vasto dinheiro do café transformou sonhos em realidade. Arquitetos, engenheiros e mestres de obras foram mobilizados, materiais de construção importados de vários países, e, em prazo recorde, casarões começaram a erguer-se do chão como plantas — muitos deles ainda de pé em São Carlos, cem anos depois.

Enquanto pequenos comerciantes, profissionais liberais, viajantes e representantes comerciais lutavam para construir uma casa digna de tijolos — singelas construções erguidas a duras penas e com economias de vários anos —, contrastavam com as verdadeiras obras-primas que passaram a compor a nova paisagem do burgo.

Alguns casarões preservados sintetizam o poder do dinheiro dos cafeicultores e são testemunhos vivos da ostentação desses homens que se tornaram milionários com a ascensão do café, mas também com muito trabalho. Os edifícios são provas concretas, em tijolos e argamassa, do poder e do prestígio que esses homens rudes possuíam.

A maioria dessas construções concentra-se nas partes mais altas da cidade, nas quadras próximas ao Jardim Público e à Igreja Matriz (Avenida São Carlos, ruas 13 de Maio, Episcopal, Dom Pedro II, São Joaquim e Alexandrina). Apesar dos tombamentos históricos realizados na cidade pelo Condephaat, muitos desses casarões já foram demolidos.

A mansão mais imponente é, sem dúvida, a antiga residência do Conde do Pinhal, hoje sede da Prefeitura Municipal. O prédio, datado de 1890, teve como responsável o arquiteto italiano Pedro David Cassinelli, cuja missão era realizar uma réplica fiel do Palacete do Marquês de Três Rios, localizado na Rua Senador Queiroz, em São Paulo.

Na construção desses palacetes foram utilizados materiais nobres, importados de países europeus, como telhas de ardósia inglesa e pisos de cerâmica francesa e italiana, entre outros. A arquitetura apresentava forte influência europeia, resultando em um estilo eclético. Muito expressivas são as antigas residências de Bento Carlos de Arruda Botelho (hoje totalmente restaurada), também obra de Cassinelli, e do major José Ignácio de Camargo Penteado, projetada por Ramos de Azevedo com forte influência francesa.

É interessante notar que, enquanto Atílio Picchi destacava-se como o principal responsável pelas obras públicas de São Carlos, era Pedro David Cassinelli quem cuidava das edificações da iniciativa privada.

Além dos casarões da família Botelho, foi também esse genovês quem construiu a sede da Fazenda Santa Maria do Monjolinho, que deveria render um título de nobreza ao fazendeiro Teodoro Leite de Almeida Camargo. O sobrado, de estilo eclético, foi erguido em cerca de dois anos, entre 1886 e 1889.

Cassinelli também destacou-se como um dos precursores da indústria são-carlense, tendo sido proprietário de fábrica e depósito de móveis, serrarias a vapor e depósitos de madeira. Infelizmente, foi vítima de uma epidemia de febre amarela que acometeu São Carlos no final do século XIX.

O Conde do Pinhal e o coronel Francisco da Cunha Bueno eram ferrenhos adversários. Quando esteve em São Carlos, em 5 de novembro de 1886, o imperador Dom Pedro II teve a oportunidade de pernoitar em um casarão especialmente preparado para recebê-lo: o casarão Cunha Bueno, também construído por Pedro David Cassinelli, com a finalidade exclusiva de hospedar o imperador por uma noite. Tal distinção não passou despercebida pela mais alta autoridade do Império, de modo que Francisco da Cunha Bueno chegou a receber o título de nobreza de Visconde.

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