O sinal de 5G puro (sem interferência de outras frequências) estreou no Brasil no dia 6 de julho de 2022, há três anos. A primeira cidade a oferecer o sinal foi Brasília. A tendência é que a nova tecnologia revolucione todos os setores sociais, com destaq - O sinal de 5G puro (sem interferência de outras frequências) estreou no Brasil no dia 6 de julho de 2022, há três anos. A primeira cidade a oferecer o sinal foi Brasília. A tendência é que a nova tecnologia revolucione todos os setores sociais, com destaque para a agropecuária, indústria, educação, medicina, lazer e transportes, entre outros.
Próxima geração da internet móvel, a tecnologia 5G pura oferece velocidade média de 1 Gigabit por segundo (Gbps), dez vezes superior ao sinal 4G, com possibilidade de chegar a até 20 Gbps. O sinal tem menor latência (atraso) na transmissão dos dados. Um arquivo com tecnologia 5G pode ser baixado em cerca de 40 segundos nesse sistema.
A tecnologia 5G deve causar um grande salto na “internet das coisas”, que permite a conexão direta entre objetos pela rede mundial de computadores. Essa tecnologia tem potencial para aumentar a produção industrial, por meio da comunicação direta entre máquinas, e possibilitar novidades como cirurgias a distância e transporte em carros sem condutores.
O professor da UFSCar, Fábio Luciano Verdi, do Departamento de Ciência da Computação do Campus de Sorocaba, explica como será essa revolução em alguns setores. Ele afirma que, a partir do sinal 5G, será possível baixar filmes ou assistir a vídeos em 8K, que é uma resolução alta. “Ao invés de esperar minutos, com o 5G a transferência será feita em segundos. Este é outro impacto nas aplicações”, comenta.
O tráfego de veículos, segundo Verdi, também será impactado, com várias facilidades para os motoristas. “Na área veicular, ouvimos o termo ‘veículos autônomos’. O nome sugere a capacidade de processar várias entradas para que um acidente não ocorra, por exemplo. Se tivermos 5G nas rodovias, os veículos poderão se comunicar de maneira muito mais rápida. Reações serão muito rápidas. Um carro autônomo pode se comunicar com a cidade inteligente, evitando acidentes e revendo a rota para chegar a seu destino. Uma ambulância pode transmitir dados de uma pessoa acidentada em uma rodovia de forma muito rápida e com qualidade muito melhor. Esta é a diferença: redução de latência e alta taxa de transferência, o que habilita uma operação médica muito rápida. Esta será uma área bastante impactada”, explica.
O próprio sistema eletromecânico do carro terá novas possibilidades. “Voltando para o setor veicular, diagnósticos automáticos serão muito mais rápidos, atualizações do sistema operacional do carro serão muito utilizadas em redes veiculares. A aplicação de 8K será feita dentro de um carro, tornando-se viável com o 5G nas rodovias. Pode-se, por exemplo, assistir a um vídeo em 8K dentro do carro”, comenta.
Verdi também observa benefícios na medicina tradicional e na medicina feita remotamente. “No campo da medicina, vai facilitar o monitoramento de pacientes em tempo real. Isso é algo de que se fala há muito tempo e que não era viável por questões tecnológicas. Hoje, com o 5G, o paciente pode estar em sua casa, usando sensores ou aparelhos vestíveis, e ser monitorado. Haverá transferência de informações sobre o paciente em qualquer lugar que ele estiver. Basta que exista um celular próximo. É o uso real do monitoramento de pacientes. Hoje, entre 95% a 99% dos brasileiros têm acesso à internet móvel. Teoricamente, a partir do momento em que você tenha acesso a um dispositivo móvel e ao sinal 5G, pode fazer uma consulta à distância, via celular, numa conexão muito mais eficiente, estável e com qualidade de imagem muito melhor. Temos dois casos de uso muito claros. Ainda teremos a capilaridade de chegar a lugares remotos”, destaca o especialista.
O professor do Departamento de Computação da UFSCar, Fabio Verdi: A tendência é que a nova tecnologia revolucione todos os setores sociaisDESAFIOS
A tecnologia propiciará, em breve, novidades até hoje só vistas em filmes de ficção científica. “Um caso de uso, ainda na medicina e ainda mais desafiador, serão as cirurgias robóticas. A gente sempre ouve falar de um médico fazendo uma cirurgia de forma remota com um braço robótico e o paciente em outro local, geograficamente distante. O que se conjectura é que, devido às baixas latências, você consiga operar o robô com sintonia fina, próximo do real. É um caso mais desafiador, mas não podemos deixar de mencionar, pois será uma realidade num futuro bem próximo.”
AGROPECUÁRIA
A agropecuária também será altamente beneficiada, segundo Verdi. “No campo, não chega a rede cabeada. Será mais fácil colocar uma antena 5G com cobertura em algumas regiões e, então, permitir que esses equipamentos tenham conectividade constante. As aplicações neste caso são inúmeras, desde o monitoramento da colheita em tempo real, análise da produtividade, cálculo do fertilizante necessário para um tipo de terra com menor rendimento, até o tipo de rendimento de cada grão. É possível monitorar equipamentos em tempo real, detectar mais rapidamente o desgaste de uma peça, conectar toda a frota e saber onde está cada máquina. O agropecuarista poderá usar tudo isso, assim como utilizar drones para verificar a umidade e passar informações para o pulverizador aplicar mais ou menos água, conforme o solo”, observa.
Segundo Verdi, o setor fabril também será bastante impactado com a novidade. “Na indústria 4.0, a internet 5G deve habilitar alguns casos de uso. Um deles é você ter o equipamento sempre conectado com o fabricante. Com um chip 5G, poderá estar conectado à nuvem do fabricante e fazer análise dos dados daquele equipamento. Para isso, podemos usar inteligência artificial. É possível monitorar esses dados e treinar algoritmos para aprender as falhas do equipamento e preveni-las. Dado hoje vale ouro. Quanto mais dados tivermos, mais capacidade de decisão teremos. Esse é um exemplo. Esse mesmo equipamento pode estar conectado à assistência técnica do fabricante. Um técnico pode atuar remotamente no equipamento. Estamos falando de equipamentos caros, onde a manutenção preventiva fará toda a diferença.”
Além da rede pública de 5G, também teremos, conforme explica Verdi, redes privadas. “A rede 5G pública é o que o usuário final usará em nossos celulares. As empresas podem criar suas redes 5G privadas para conectar seus dispositivos, softwares, máquinas e sensores. De novo, a baixa latência e a alta taxa de transmissão permitem que essas aplicações — como imagens, dados, sensores, controle de logística e monitoramento — possam ser transmitidas dentro de uma rede privada 5G de forma muito mais rápida. Será uma troca de dados dentro da empresa”, explica.
EAD E IMAGENS HOLOGRÁFICAS
O especialista também aponta que o ensino a distância (EAD) será muito beneficiado com a nova tecnologia. Imagens com realidade aumentada e imagens holográficas poderão utilizar o 5G. “O professor poderá ser projetado, dar uma aula em um laboratório com imagens ampliadas e mostrar objetos com uma realidade muito boa. Isso poderá ajudar muito no ensino. Vai habilitar cursos técnicos rápidos e treinamentos dentro de empresas. Imaginem um mecânico da Mercedes-Benz, na Alemanha, ensinando alunos no Brasil, que verão imagens com realidade aumentada. Os alunos vão perceber o veículo à sua frente.”





