sexta, 26 de abril de 2024
Artigo Rui Sintra

O sonho de São Carlos ser uma cidade sustentável

14 Jun 2018 - 15h15Por (*) Rui Sintra
O sonho de São Carlos ser uma cidade sustentável -

Uma vez mais foi lançada a discussão da revitalização da cidade de São Carlos, desta feita através de uma proposta de abertura do denominado Calçadão ao trânsito automóvel.

Claro que cada um tem sua opinião sobre essa matéria, defendendo um ou outro conjunto de medidas que, na sua visão, seriam as mais corretas; mas, o que seria interessante, na  minha perspectiva - porque também tenho opinião -, seria que se observasse com atenção aquilo que já foi implementado no exterior, com grande sucesso, onde muitas urbes se transformaram (mesmo as de pequeno porte) em cidades sustentáveis, querendo dizer, com isso, em cidades onde a população pode usufruir de seus espaços públicos criados exatamente para esse efeito. E, neste caso, copiar não é crime – tem é que ser bem copiado.

Este meu posicionamento não é movido por paixões ambientalistas extremas (muito pelo contrário, até porque abomino extremismos): ele é movido apenas pela observação que fiz daquilo que já acontece em inúmeras cidades espalhadas pelo mundo, sem qualquer constrangimento grave à circulação automóvel, dando-se preferência ao transporte público não poluente.

O fechamento de ruas ao trânsito automóvel, devolvendo-as à fruição dos pedestres, a criação de silos de estacionamento relativamente próximos aos corações históricos e comerciais das cidades, através de parcerias público-privadas, bem como a criação de transportes públicos gratuitos de interligação com os citados centros, são algumas das evidências registradas nas denominadas cidades sustentáveis, onde pedestres e ciclistas dividem harmoniosa e disciplinadamente os espaços, sem veículos circulando ou estacionados junto às calçadas, e onde o comércio beneficiou – e muito – dessas medidas. Essa harmonia iniciou-se exatamente pela exposição dos projetos que as autoridades fizeram junto à população. Nesse tempo, não se colocou em questão se deveria ou não fechar as ruas ou embelezar os espaços, criando vida própria aos mesmos, até porque todo o mundo queria (e creio que ainda quer) uma vida melhor e mais sadia para si e sua família na cidade. O que foi proposto foi a transformação daquilo que era considerado um caos urbano em áreas de fruição, de tranquilidade.  Ponto!

Copenhagen, Dresden, Berlim, Praga, Lisboa, Madrid, Estocolmo e Antuérpia são alguns exemplos daquilo que estou falando, apenas me referindo a cidades de grande porte.

De fato, São Carlos precisa de um olhar mais atento sobre essa problemática e precisa, acima de tudo, conscientizar as pessoas sobre os benefícios não só ambientais, como também econômicos, de haver menos carros nos seus centros histórico e comercial, devolvendo estes à população. Beneficiando de especialistas nas áreas de arquitetura e urbanismo que pululam nas universidades instaladas em nossa cidade, não há motivo para argumentar desconhecimento dos fatos e hesitações neste campo.

Como nota de rodapé, a revitalização de São Carlos não pode passar só pelo seu centro histórico/comercial. Também tem que haver um olhar atento às praças e rotatórias existentes, que deveriam ser pontos de interesse não só ambiental, como artístico. No que diz particularmente respeito às rotatórias, é degradante ver como quase todas estão votadas ao abandono e desleixo desde há longos anos, sem que ninguém tenha mexido um dedo para acabar com essa triste realidade. Isso define bem qual a linha de raciocínio de um gestor público que nasceu destinado a ser algo, menos gestor público. É que as rotatórias, além de serem estruturas que auxiliam no escoamento e ordenamento do trânsito (que, para São Carlos, só foram pensadas nesse sentido, com exceção da rotatória do avião), podem ser aproveitadas para atenuarem impactos de poluição visual, além de serem excelentes locais para construir e difundir diversas formas de artes. É bem provável que na nossa cidade seja um exagero, ou até um sacrilégio, pedir isso. Será que algum gestor público iria entender o foco?

(*) O autor é Jornalista profissional / Membro da GNS Press Association (Alemanha) / Correspondente internacional freelancer.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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