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Com laudo misterioso, nova droga sintética chega a Araraquara

14 Jun 2016 - 14h40Por Redação
Foto: Divulgação/Arararaquaraja.com - Foto: Divulgação/Arararaquaraja.com -

Empresário, 38 anos e com a vida financeira bem administrada. Esse morador de Araraquara convive em festas e, mesmo sabendo que está errado, não abre mão do consumo semanal do 'doce' pagando de R$ 30 a R$ 50 por papelote. Doce é o nome popular do LSD, um selo de papel cujo princípio químico é o Ácido Lisérgico e tem como objetivo causar alterações na percepção de tempo e espaço, além de ser alucinógeno. O problema é que muita gente vem usando uma droga sem saber que é outra. E algo, que todos desconhecem a origem.

Laudos recentes do Instituto de Criminalística de São Paulo enviados à Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Araraquara, após apreensões na cidade, revelam que os traficantes daqui estão vendendo duas outras substâncias no lugar do LSD. Uma é a NBOMe, uma droga alucinógena que imita os efeitos do LSD. Até aí, apesar de alguns usuários desconhecerem, a polícia já sabia. Em março, por exemplo, dois jovens foram detidos no Yolanda Ópice com 19 pontos deste tipo.

Mas, desde então, algo mudou e preocupou a todos. Um laudo recente do IC obtido com exclusividade pelo Araraquara Já também apresentou um componente desconhecido nos 'selos' apreendidos pela polícia em janeiro. Na ocasião, o jovem de 25 anos levava consigo cinco pontos da droga. Ele foi preso em flagrante no Parque do Pinheirinho. O documento assinado pelo perito criminal aponta que "não foi detectada a presença de substância na portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regula sobre esse controle especial". Na prática, uma droga nova, mas sem a punição do tráfico, pois se não está catalogada, logo, não é proibida no País.

Para o delegado da Dise, Gustavo Maio, essa mudança de cenário deixa claro a banalização do uso do 'doce' por uma parcela da sociedade que parece ignorar o fato de estar financiando um crime ao comprar aquele papel com desenho animado. "Eles nem sabem o que estão usando", enfatiza o delegado. "Esse pessoal está consumindo uma substância, até então, não catalogada no País. Pode ser uma variação ou algo muito grave com risco real de morte."

A presença de uma nova droga chama a atenção da PM pela problemática de identificar traficantes dessas substâncias sintéticas. O capitão Fernando Porto, da Comunicação Social, reconhece que apreender esse tipo de material é complicado, tanto que estatisticamente a PM nem tem esse espaço nos relatórios internos. "Isso não significa que o uso seja incomum. Temos relatos de gente consumindo na cidade, mas o uso é restrito e muitas vezes o usuário acha o traficante é seu amigo e que não está financiando uma rede criminosa."

Márcio Servino destaca que a droga é considerada elitizada

Esse uso inconsequente principalmente com a notícia da circulação de uma droga na cidade é assustador, na opinião do presidente do Conselho Municipal Antidrogas (Comad), Márcio Servino. "Esse 'doce' que o pessoal usa é uma droga mais elitizada. Eles consideram que o valor é pequeno pelo poder alucinógeno, mas o pior: tem muito pai que nem tem ideia do que é isso. Nunca desconfiaria daquele papelzinho. Vale a pena procurar saber e se prevenir", diz Servino, lembrado que o papel muitas vezes fica escondido na carteira ou no celular.

O LSD tradicional há tempos não é apreendido, segundo o delegado da Dise. O mais comum é mesmo o NBOMe e, agora, essa nova versão misteriosa. "A NBOMe é mais barata, aumentando a margem de lucro do traficante", enfatiza Maio. Ele, inclusive, aguarda o laudo dos 20 pontos apreendidos com três pessoas na Vila Ferroviária, em abril, mas desconfia também da origem da droga. Por esse uso sem controle, mortes já foram registradas no País. Há dois anos, um estudante da USP, de apenas 20 anos, morreu afogado ao se entorpecer.

Essa substância tem pouco estudo acadêmico. Sabe-se que os riscos são maiores de intoxicação severa, hipotermia, amnésia, acidose metabólica e convulsões que podem resultar em morte, de acordo com o químico Thiago Bego, da Unesp de Araraquara. Além de imitar os efeitos do LSD, existem ao menos 11 tipos de NBOMe. Todas são variantes de uma substância chamada feniletilamina. Nas baladas, a turma parece não se preocupar e ironiza. "Só uso de vez em quando, não tem problema", relata uma jovem de 26 anos. (Cláudio Dias - araraquaraja.com)

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