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Judoca são-carlense busca Olimpíada

08 Fev 2018 - 10h33Por Redação
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Aos sete anos de idade (1998) era tão inquieto, tão hiperativo, tão "diabinho" em casa, que sua mãe decidiu inscrevê-lo numa escola de judô no Sesi de Limeira, cidade paulista onde habitavam: a esperança era que a prática de judô pudesse "dar conta" de toda a energia que brotava - quase que em excesso - da criança. Contudo, parece que o planejado saiu exatamente ao contrário, porque essa criança se apaixonou completamente por esse esporte, tornando-o ainda mais agitado, contudo mais concentrado e disciplinado.

Sua primeira competição foi em 2000, num encontro amistoso de judô, na cidade de São João da Boavista (SP), onde se sagrou campeão Sub-11 - Categoria Super-Pesado. A partir daí, apaixonou-se definitivamente por uma modalidade que o auxiliou a superar seus medos, suas dúvidas e indecisões e até alguns complexos, por exemplo, ser... gordinho.

Ruan Felipe Neves concluiu em 2017 sua Graduação no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), na USP de São Carlos e ingressou no mestrado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), continuando a ser, como quando criança, inquieto, até no que concerne aos estudos, admitindo que o judô dá serenidade, mas também o "gás" necessário para poder conciliar estudos e esporte, metas que fazem parte de seu cotidiano e do seu futuro.

Limeira continuou a ser seu reduto esportivo até ter completado os 18 anos de idade (2009), sempre acompanhado por seu treinador, Ricardo Gonçales (Tchoco), um período onde conquistou diversas medalhas de âmbito regional e inter-regional, bem como troféus em competições paulistas de judô. Em 2009, Ruan foi vice-campeão paulista, tendo perdido apenas para Jonas Inocêncio, atleta que nesse ano foi campeão brasileiro, tendo disputado o mundial e integrando atualmente a seleção brasileira de judô.

Ruan Neves admite que sempre gostou de Física, até porque essa área está diretamente ligada ao esporte e ao judô em particular. Antes mesmo de mergulhar na Física, o jovem concluiu um curso de técnica de informática na UNICAMP (2007-2008), tendo posteriormente prestado vestibular e ingressado no IFSC/USP, no curso de física computacional (2009), tendo-se identificado com a linha de pesquisa do Prof. Atillio Cucchieri (Grupo de Física Computacional e Instrumentação Aplicada).

O período compreendido entre 2010 e 2014 foi eminentemente acadêmico, até por conta de uma lesão mais ou menos grave contraída em decorrência de um acidente de moto. Em 2015, Ruan voltou com força total ao judô e decidiu dar um novo rumo á sua vida acadêmica: "Após escutar os sábios conselhos do meu orientador no IFSC/USP, Prof. Gustavo Marcassa, que foi para mim como um irmão mais velho, cheguei à conclusão que seria melhor mudar de curso e optar por uma área que fosse mais voltada para a computação", refere Ruan, justificando assim a transferência que fez para o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, nesse mesmo ano. Ruan continua treinando intensamente nas instalações do CAASO, tendo começado a competir defendendo as cores da cidade de Dourado - em virtude do CAASO manter um convênio esportivo com aquela cidade do interior do Estado de São Paulo - e posteriormente defendendo as cores da "Fábrica de Campeões", em São Carlos, sob o comando do sensei Sebá.

A contribuição da USP de São Carlos

Na senda do apoio que a USP tem dado ao esporte, através de várias iniciativas, o IFSC/USP também contribuiu, de forma expressiva, para um maior entendimento e divulgação do judô, nomeadamente através do Workshop Estratégico intitulado "Ciência e Esporte: O Judô como modelo de esporte de alto rendimento no Brasil", um evento que ocorreu em novembro de 2017, nas magníficas instalações da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP/USP), promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP (PRP/USP) em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP), contando com o apoio da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP) e tendo como coordenador-geral o atual Diretor do IFSC/USP, Prof. Tito José Bonagamba.

Para o sucesso da organização do evento, o Prof. Bonagamba contou com as importantes parcerias locais dos Professores Cristiano Roque Antunes Barreira (Diretor da EEFERP/USP e Presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP), Prof. Marcelo Papoti (Vice-Diretor eleito da EEFERP/USP), do sensei Cleber do Carmo (Delegado Regional da FPJ-Mogiana), e do aluno Ruan Felipe de Oliveira Neves. Contou também, na equipe, com os Professores Emerson Franchini (EEFE/USP), grande nome do Judô na USP e reconhecido internacionalmente, Matheus Theotonio da Silva (Gestor Técnico Nacional - CBJ) e Prof. Hamilton Brandão Varela de Albuquerque (Pró-Reitoria de Pesquisa da USP).

É importante destacar também o grande empenho da Unidade anfitriã do evento, EEFERP/USP, através do apoio de seus alunos, funcionários e docentes, que não mediram esforços para o sucesso e bom andamento do Workshop.

Para o brilho do evento, estiveram presentes várias autoridades acadêmicas e esportivas, a saber:

Esportivas: Prof. Mário Sabino Jr. (Polícia Militar do Estado de São Paulo e Confederação Brasileira de Judô - CBJ); Prof. Ricardo Aguiar (Secretário Municipal de Esportes e Técnico/Coordenador da Seleção Brasileira de Karatê - Confederação Brasileira de Karatê - CBK); Prof. Jaime Bragança (Técnico da Seleção Paralímpica - Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB);

Acadêmicas:Prof. Antonio Carlos Hernandes (naquele momento, Pró-Reitor de Graduação / USP); Prof. Valmor Alberto Augusto Tricoli (Diretor EEFE/USP), além dos palestrantes que brilhantemente contribuíram para o sucesso da Workshop.

O evento contou também com o grande interesse de lideranças do Judô, bem como de alunos e docentes da EEFERP e de outras Unidades da USP.

O futuro

Com tudo isso, o ano de 2017 foi um dos mais intensos para Ruan Neves, quer no aspecto esportivo, quer no acadêmico.

Completamente recuperado da lesão que o afastou do tatame por algum tempo e treinando com a ajuda do grupo do Prof. Papoti (Vice-Diretor da Escola de Educação Física de Ribeirão Preto - USP), nos quesitos de avaliação física e preparação de treino, bem como o indispensável apoio e profundo envolvimento do preparador físico local, Guilherme Duarte, o jovem judoca conquistou, na sua categoria (Pesado), o 3º lugar no Campeonato Inter-Regional de Judô, foi 2º classificado nos Jogos Regionais que ocorreram em julho, na cidade de Lençóis Paulista, disputou uma série de amistosos tendo em vistas o desenvolvimento físico e técnico, e, finalmente, sagrou-se campeão no Campeonato Regional de Judô, realizado em São Carlos, em agosto desse ano, entrando assim no rol de atletas que participariam no Campeonato Nacional. "Tem sido um trabalho árduo, mas muito compensador, até porque o judô me dá uma espécie de 'suplemento' para encarar os estudos de frente, atendendo a que simultaneamente eu estava fazendo Iniciação Científica no IFSC e trabalhando bastante para a publicação de artigos científicos em revistas internacionais. Lentamente, eu me aproximava novamente e cada vez mais do Instituto de Física de São Carlos", relembra Ruan.

O jovem obteve uma 7ª posição no Campeonato Paulista (setembro) e igual marca no Troféu Brasil, em Belo Horizonte (MG) (outubro), tendo fechado o ano na 22ª posição do ranking nacional. Sua meta, a partir daí, passou a ser conquistar um lugar na seleção Brasileira de Judô para os Jogos Olímpicos.

Já em 2018, Ruan conquista outras vitórias, desta vez no âmbito acadêmico, graduando-se em Sistemas de Informação no ICMC e sendo aprovado para Mestrado em Física Computacional no IFSC. Em termos esportivos, Ruan Neves, agora ao serviço da "Academia Corpore Sano", de Ribeirão Preto, sob o comando do sensei Cleber do Carmo, irá intensificar sua presença em workshops e treinos em São Paulo com atletas da seleção olímpica, estando neste preciso momento treinando com David Moura (1º do ranking mundial na Categoria Pesado): "Vou ter muito trabalho em termos esportivos, já que irei participar na Copa São Paulo de judô que se realiza já em março, uma competição que dá acesso à participação no Campeonato Brasileiro de Judô Região-5, que ocorrerá em abril próximo: aí, terei que vencer todo o mundo da minha categoria, se quiser continuar a sonhar grande. Caso consiga a vitória, precisarei me classificar entre os oito primeiros no Troféu Brasil de Judô, em agosto, disputando, em outubro, o Campeonato Paulista, onde também buscarei uma das oito primeiras colocações", salienta Ruan.

Caso o atleta ultrapasse todos esses obstáculos esportivos programados para 2018, irá à "Seletiva Nacional - Projeto Tóquio 2020" e, se sair na 1ª colocação, irá compor, na sua categoria, a Seleção Nacional de Judô para a próxima Olimpíada. "Vai ser muito duro, pois não tenho qualquer tipo de patrocinador que me ajude a suprir algumas dificuldades, mas creio que a força de vontade vai superar muita coisa. Contudo, estes desafios, estes sacrifícios, são importantíssimos para os meus objetivos acadêmicos e profissionais, já que é minha intenção concluir meu Mestrado, ingressar no Doutorado e seguir a vida acadêmica, se Deus quiser. O judô continuará a ser o meu equilíbrio físico e emocional, com ou sem Olimpíada".

Judô - um pequeno historial

O Judô é uma arte marcial esportiva criada no Japão, em 1882, pelo professor Jigoro Kano, cujo objetivo foi implementar uma técnica de defesa pessoal, além de desenvolver o físico, espírito e mente de forma integrada, tendo a  modalidade chegado ao Brasil em 1922, em pleno período da imigração japonesa no nosso país.

O Judô teve uma grande aceitação em todo o mundo, pois Kano conseguiu reunir técnicas extraídas do "Budo e Bujutsu " e compor a arte marcial mais completa dos tempos modernos, o Judô, que foi considerado desporto oficial no Japão nos finais do século XIX, tendo sido considerado desporto oficial no Japão nos finais do século XIX.

Com milhares de praticantes e federações espalhadas pelo mundo, o Judô se tornou um dos esportes mais praticados, não restringindo seus adeptos e praticantes apenas a homens com vigor físico, pelo contrário, estendendo seus ensinamentos a mulheres, crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais, com um significativo aumento no número de praticantes.

Sua técnica utiliza basicamente a força e equilíbrio do oponente contra ele. Palavras ditas por mestre Kano para definir a luta: "arte em que se usa ao máximo a força física e espiritual". A vitória, ainda segundo seu mestre fundador, representa um fortalecimento espiritual.

No Brasil

No fim da década de 1910 e no início da década seguinte, Takaharu (ou Takaji) Saigo, 4° dan de Judô, ensinava a arte na cidade de São Paulo, em sua academia localizada na Rua Brigadeiro Luís Antônio, sendo que em 1922 e 1923 ele chegou a fazer demonstrações da arte perante personalidades políticas e militares da época, com alunos tanto japoneses quanto não japoneses.

Mitsuyo Maeda, também conhecido Conde Koma, fez sua primeira apresentação em Porto Alegre. Partiu para as demonstrações pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, transferindo-se depois para o Pará em outubro de 1925,[5] onde popularizou seus conhecimentos dessa arte. Outros mestres também faziam exibições e aceitavam desafios em locais públicos. Mas foi um início difícil para um esporte que viria a se tornar tão difundido. Essa ida do Conde Koma para o estado do Pará, resultaria em seu contato com Gastão Gracie, dono de circo local. Este contato do Mestre japonês com o Clã Gracie e com Luiz França, outro de seus alunos,[6] originaria num futuro próximo o desenvolvimento do Jiu-jitsu brasileiro.

O judô, no Brasil, passou a ser organizado e largamente difundido a partir de agosto de 1933, com a fundação da Hakkoku Jûkendô Renmei, a Federação de Judô e Kendô do Brasil, por ocasião do 25º aniversário da imigração japonesa ao Brasil. Do lado do judô, foram membros fundadores as seguintes personalidades: Katsutoshi Naito, Tatsuo Okochi, Teruo Sakata,Zensaku Yoshida e Shigueto Yamasaki.

Nessa época, além dos quatro mestres supracitados, o judô no Brasil contava também com o mestre Tomiyo Tomikawa e com Shigejiro Fukuoka, mestre de jujutsu tradicional. Estes seis mestres eram os principais expoentes do judô na época, dentro do âmbito da Hakkoku Jûkendô Renmei.

Um fator relevante na história do judô foi a chegada ao país de um grupo de nipônicos em 1938. Tinham como líder o professor Ryuzo Ogawa e fundaram a Academia Ogawa, com o objetivo de aprimorar a cultura física, moral e espiritual, por meio do esporte do quimono. Apesar de Ryuzo Ogawa ser um mestre de jujutsu tradicional, chamou de Judô a arte marcial que lecionava quando este nome se popularizou. Portanto, ensinava um estilo que não era exatamente o Kodokan Judo, o que não diminui sua enorme contribuição ao começo do Judô no Brasil. Daí por diante disseminaram-se a cultura e os ensinamentos do mestre Jigoro Kano e em 18 de março de 1969 era fundada a Confederação Brasileira de Judô, sendo reconhecida por decreto em 1972.

Atualmente, o judô é ensinado em academias desportivas e clubes e reconhecido como um esporte saudável que não está relacionado à violência. Esse processo culminou com a grande oferta de bons lutadores brasileiros atualmente, tendo conseguido diversos títulos internacionais, sendo o esporte individual brasileiro que mais conseguiu medalhas olímpicas. (Rui Sintra - Assessoria de Comunicação - IFSC/USP)

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