Nas últimas semanas os casos de contágios causados pelo SARS-CoV-2 (e suas variantes) têm registrado aumento significativo em São Carlos. Atualmente os números chamam a atenção e voltaram a preocupar parte da população.
Para o vice-diretor técnico da Santa Casa de São Carlos, o médico infectologista Roberto Muniz Júnior, 42 anos, o momento é de atenção, porém sem levar para o alarmismo.
Em uma entrevista ao São Carlos Agora, o profissional da saúde disse que o aumento que ocorre não só na cidade, mas em muitas regiões brasileiras deve-se principalmente à queda da cobertura vacinal. “A adesão, a terceira dose em geral e a quarta dose em idosos, está baixa na cidade de São Carlos”, disse.
Outro fator que contribuiu para o aumento é o momento na queda da temperatura. O outono é uma estação amena que antecede o inverno, quando ocorre a chegada de frentes frias durante três meses aproximadamente. “O frio coloca as pessoas para dentro de casa, com janelas fechadas, e mais próximas. E com o fim das medidas de distanciamento, este cenário se torna propício para transmissão desta e de outras doenças respiratórias”.
Partindo deste princípio, ele salientou que a pandemia da Covid-19 está em curso, mas se arrefecendo com tendência a se tornar endemia (ficará presente na sociedade). Por outro lado, assegurou, seria interessante as pessoas continuarem a exercer os protocolos de segurança para evitar a propagação da doença, como uso de máscaras e um distanciamento social seguro.
ATÉ QUARTA, 25
Em boletim divulgação pela assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal, até a quarta-feira, 25, São Carlos contabiliza 591 mortes pela doença.
Somente nas últimas 24 horas foram registrados mais 232 exames positivos e 346 negativos para a doença. Até aqui foram 41.848 casos somente em São Carlos, dois quais, 772 estão ativos, oficialmente.
A ENTREVISTA
Com o auxílio da assessoria de comunicação da Santa Casa, através do jornalista Fabio Donadone, o portal realizou uma entrevista com o médico infectologista, que respondeu a vários questionamentos:
São Carlos Agora - Após uma queda considerável de casos, boletins diários emitidos em São Carlos dão conta de um crescimento da Covid-19. Como analisa esta evolução?
Roberto Muniz Júnior - Atribuímos o aumento de casos a queda da cobertura vacinal, em primeiro lugar. A adesão, a terceira dose em geral e a quarta dose em idosos, está baixa na cidade de São Carlos.
Outro fator que não se pode deixar de considerar é a frente fria. O frio coloca as pessoas para dentro de casa, com janelas fechadas, e mais próximas. E com o fim das medidas de distanciamento, este cenário se torna propício para transmissão desta e de outras doenças respiratórias.
SCA - Os números da doença são motivos de uma atenção maior por parte das autoridades da saúde de São Carlos?
Muniz - No momento, o estado é de atenção em toda região. Mas não há motivo para alarme ainda.
SCA - Quanto a população, deve ainda se atentar para os protocolos de segurança? É necessário mantê-los?
Muniz - Evitar grandes aglomerações, manter algum distanciamento social ainda é desejável. Reunião de poucas pessoas do convívio habitual parece seguro. Grandes eventos carregam consigo um risco maior de transmissão.
SCA - Até onde a imunização tem ajudado na contenção do avanço da Covid-19?
Muniz - A vacinação é ESSENCIAL para diminuir os números de infectados por Covid-19. Se a situação é razoavelmente confortável, deve-se principalmente a imunização.
SCA - Se os casos da doença continuarem a avançar, a Santa Casa está preparada para possíveis novos casos? Pode ocorrer aumento no número de mortes?
Muniz - A Santa Casa é, e continuará sendo, um centro estratégico para atendimento deste e outros tipos de agravo. E pode sim, se mobilizar para atender uma eventual nova onda. Apesar de algo da magnitude do passado, por hora ser bem pouco provável. Hoje a Santa Casa está mobilizada para dar atendimento aos casos neurocirúrgicos da Regional de Saúde.
SCA - 6) A Prefeitura Municipal desativou o Centro de Triagem. Foi uma atitude sensata ou deveria mantê-lo por mais um período?
Muniz - A atitude me parece acertada. A descentralização da testagem, com aumento de sua cobertura, parece ser o caminho mais sensato no momento.
SCA - Na sua opinião, a pandemia está em curso ainda? Caso positivo, quando acredita que ela poderá deixar de ser um perigo para a coletividade?
Muniz - A pandemia está em curso, arrefecendo, e paulatinamente se tornando uma endemia. Ou seja, a Covid veio para ficar, teremos casos e pequenos surtos de tempos em tempos, até que toda a população tenha tido contato com esta doença, e com o avanço da vacinação, se converterá em uma doença como a influenza (gripe).
SCA - Acredita que os governos (municipal, estadual e federal) deixaram de fazer campanhas de conscientização? Por quê?
Muniz - Aí precisamos entender conscientização em relação a quê? Em relação as medidas de distanciamento, com certeza. Com o fim da obrigatoriedade das máscaras, campanhas nesse sentido foram suprimidas. Acredito que campanhas em prol da conscientização da importância da vacina ainda são desejáveis.
SCA - Considerações finais
Muniz - Doenças emergentes e reemergentes são nossa realidade. Com a Covid, a cobertura vacinal a outras doenças imunopreveníveis caiu consideravelmente. Doenças como o sarampo, também de transmissão respiratória, estão muito aquém do desejável no tocante a vacinação, e o tempo frio, que deve perdurar algum tempo, facilita a transmissão dessas doenças.
Fazemos o apelo para que os adultos e idosos atualizem sua carteira de vacinação e principalmente levem os pequenos para tomar suas vacinas.