sexta, 26 de abril de 2024
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Reinventar-se: o Século XXI e um novo olhar para o indivíduo nas organizações

09 Abr 2021 - 14h54Por Professor Marcio Alves Siqueira
Reinventar-se: o Século XXI e um novo olhar para o indivíduo nas organizações - Crédito: divulgação Crédito: divulgação

Prof. Márcio Silveira

Especialista em Psicologia do Trabalho

Mestrando em Gestão da Clínica

 

“Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam

barreiras, outras constroem moinhos de vento.” Erico Veríssimo

Ao longo das últimas décadas o desenvolvimento da Escola das Relações Humanas no Trabalho, iniciado principalmente por Elton Mayo, com a Experiência de Halthorne,  no início do sec XX, em contraponto à Administração Clássica de Taylor, impulsionou novos conceitos e novas formas de administrar  a Gestão de Pessoas. Aliado a esse desenvolvimento, ou até mesmo por conta dele, como consequência, estudiosos concluíram que o grande diferencial competitivo das organizações não eram as máquinas ou a tecnologia, cujo acesso democratizado abriu caminhos para novos empreendedores dominarem a “arte” de produzir, mas sim as pessoas,capazes de desenvolver o planejamento estratégico, atingir as metas e os objetivos da organização. Surgiu assimum novo paradigma na Gestão de Pessoas, o indivíduo estratégico, seu potencial, habilidades, competências e sua consequente valorização.Temas como a motivação, a satisfação do trabalhador, ambientes de trabalho com relações saudáveis, propícias para melhor desempenho dos trabalhadores, passaram a ser praticados pela organização como ações estratégicas. Com isso, ao longo dos tempos, a Gestão de Pessoas tem passado por mudanças que a levam de  uma gestão meramente operacional, para uma gestão estratégica dando assim umnovo olhar para o indivíduo dentro da organização.

Os trabalhadores, a partir desse novo paradigma, começaram a ser vistos pelas organizações e seus gestores de maneira diferenciada. Até mesmo deixaram de ser vistos como empregados, mas agora como alguém que colabora com o sucesso da organização,

Se o indivíduo é estratégico para atingir as metas organizacionais, a necessidade de desenvolvê-lo passou de discurso para ação, e assim obter o conhecimento, habilidade e competências capazes de atender as novas expectativas do mundo e da organização do trabalho. O que não é apenas obrigação da empresa, mas também do indivíduo, que tem a oportunidade de tomar as rédeas de sua carreira profissional, desenvolvendo competências capazes de o tornar mais “palatável” ao mercado de trabalho, que exige cada vez mais, a superação de limites. Sendo assim, a carreira não está apenas nas mãos das organizações, mas principalmente dos trabalhadores.

Se no macroambiente as organizações, para sua sobrevivência e enfrentamento da concorrência com possibilidades de sucesso, necessitam profissionais mais capacitados, por usa vez, no microambiente, em relação aos indivíduos, estes precisam apresentar diferenciais que os façam desejados pelo mercado, onde a concorrência é a tônica, por conta das mudanças constantes, downsizings, da tecnologia e das crises econômicas que  cada vez mais extinguem posições de trabalho, sendo todas essas variáveis as vilãs de um mundo com menos empregos.

Na década de 90, um termo muito difundido era a empregabilidade. Justificava-se então, que o indivíduo buscasse a aprendizagem e o desenvolvimento contínuos, a fim de atingir habilidades e competências para tornar-se empregável; o termo caiu em desuso com a difusãodo empreendedorismo, já no início do Século XXI, uma vez que os empregos foram diminuindo consideravelmente. Nesse momento, foi necessário empreender, “cavar” seu próprio espaço, criar oportunidades.

Atualmente não se vivemais em um mundo de empregos, mas sim de trabalho, . Se não há mais empregos, todos precisam estar preparados para empreender, buscando conhecimento e desenvolvendo competências cada vez mais amplas. E, a partir disso, se ‘reinventar’,  torna-se a palavra do momento, da moda, na vida corporativa.

Pouco mais de 160 milhões de pessoas nos EUA e na União Européia exercem algum tipo de trabalho independente, principalmente por meio de aplicativos. Em torno de 30% destes, escolhem trabalhar dessa maneira como principal fonte de renda e 40% para complementar a renda. Esta é a nova realidade na pós modernidade. E a esta realidade que os indivíduos precisam se adaptar.

Por que nos reinventarmos?

Estimativas e prognósticos davam conta de que 7 milhões de empregos seriam extintos dentro de poucos anos (no período compreendido entre 2015 e 2020). Isso passou a ser discutido no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suiça, já no começo da década. As transformações no mercado de trabalho, principalmente ocasionados pelo avanço tecnológico, conhecido como a “4ª Revolução Industrial”, a automação, a robótica, a chamada Inteligência Artificial são os principais desencadeadores dessa preocupante realidade.

Entretanto, nesse mesmo período, seriam criados algo em torno de 2 milhões de empregos, principalmente nas áreas de tecnologia, matemática, vendas, conforme a previsão citada acima.O que acontece com os outros 5 milhões de empregos? Simplesmente (e tristemente) somem do mapa, serão (foram) extintos.

A história demonstra que ao longo das décadas do século passado, diversos postos de emprego foram extintos. E outros foram criados em seu lugar, pelas necessidades que a tecnologia e a nova organização sócio econômica criavam. Desses postos, muitas profissões não existem mais; digitadores, datilógrafos, ascensoristas, para citar alguns exemplos.

Outra característica dos nossos tempos, da pós modernidade é a longevidade das pessoas, em comparação com outras gerações, por conta de novas tecnologias, novos conhecimentos e descobertas da saúde e medicina e de uma vida mais confortável. No Brasil, a expectativa de vida está em torno de 75, 76 anos. Se pensarmos que uma pessoa normalmente começa a trabalhar aos vinte e poucos anos e a reforma da previdência estendeu o tempo de contribuição e a idade para a aposentadoria, nos leva a crer que, teoricamente, as pessoas trabalharão muitas décadas da vida, muitos até a morte, outros tantos por 40, 50 ou até mesmo 60 anos. Se em meia década houve o fechamento de 7 milhões de empregos e a extinção de muitas profissões, o que diremos em 6 décadas? Na velocidade que as coisas acontecem, o número deverá ser bem maior.

Diante desse cenário, não basta que o indivíduo tenha apenas uma formação superior ou técnica, tenha apenas uma profissão ou uma habilidade.Se a saída antes era uma formação e o contínuo aperfeiçoamento, agora é a multifuncionalidade, trazida pela formação diversa. Até porque a sua profissão pode ser extinta em poucos anos. Também não é possível fazer uma graduação e ficar esperando trabalhar na área. É importante utilizar o conhecimento adquirido em um curso superior, em cursos técnicos e mesmo em cursos de capacitação, para possibilidades futuras que muitas vezes não terão muito a ver com a área estudada ou escolhida. A “galinha dos ovos de ouro”, o segredo, a possibilidade de sucesso, estão no raciocínio, na cognição adquirida,na capacidade para solucionar problemas. E é isso que as corporações querem: pessoas que solucionem problemas.

Sendo assim, os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, que estão se graduando, não podem ficar parados. Mais do que nunca, precisam buscar além da primeira graduação, mesmo que aparentemente não tenham relação alguma entre uma e outra.E assim, no futuro, possam reinventar-se, refazer-se, modificar-se e tornar o caminho de buscado seu espaço no mundo corporativo,extremamente competitivo, exigente e acirrado, menos tortuoso, encontrando o seu lugar ao sol.

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