sexta, 26 de abril de 2024
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Reciprocidade: o que é e como praticá-la, construindo relações saudáveis

17 Jun 2020 - 15h36Por Anaísa Mazari
Reciprocidade: o que é e como praticá-la, construindo relações saudáveis -

Por reciprocidade, compreende-se a característica de mutualidade. Gestos positivos quando correspondidos criam uma conexão de gratidão, bondade e respeito que mobilizam o desejo de continuidade para o despertamento de boas emoções que fortalecem as relações humanas de forma saudável. Até mesmo a neurociência explica as sensações de bem-estar envolvidas em relações equilibradas, recíprocas e empáticas. Tais relações ativam hormônios como ocitocina e serotonina, responsáveis pelas sensações de prazer, bem-estar, acolhimento, apego e alegria, promotores e reforçadores da afetividade. Afetividade, bons relacionamentos, elementos contributivos para o crescimento emocional e evolução sistêmica.

Para a psicologia social, a reciprocidade é um importante norteador da norma social de se responder positivamente a boas ações, fortalecendo a cooperação, algo substancial para a troca positiva no âmbito da interdependência. O contrário também é verdadeiro: respostas negativas a ações hostis apresentam grande potencial destrutivo, o que terá consequências sistêmicas negativas, mesmo que o impacto seja diferenciado para cada ator da trama social. Por isso, a importância também do fortalecimento da consciência de que somos seres sistêmicos e que a forma como passamos pelo sistema Vida interfere dinamicamente no todo maior, ocasionando respostas e trazendo para cada um de nós a responsabilidade adulta de nossas ações e suas consequências pontuais e globais, micro e macrossociais.

A reciprocidade também pode ser compreendida através da lei sistêmica do equilíbrio entre o dar e receber, equilíbrio este que pode ter significados diferentes de acordo com os diversos tipos de relacionamento que vamos perfazer ao longo do processo de desenvolvimento. Por exemplo, quando um bebê nasce, necessitará primeiramente receber afeto e todos os demais elementos necessários à sua formação emocional e cuidados; nesta fase da vida, o equilíbrio entre o dar e o receber consiste em receber mais; ao longo do crescimento, as relações de amizade e amorosas já começam a demandar trocas mais igualitárias, ou seja, nessas relações, a reciprocidade se apresenta como uma necessidade de mutualidade equivalente para estar em equilíbrio e para configurar relacionamentos saudáveis. Nas funções maternas e paternas, já abastecidos como adultos emocionalmente capazes de prover cuidado, o equilíbrio entre o dar e receber já ganha a característica da forma de amar de maneira desprendida, ou seja, naturalmente doa-se mais promovendo a formação dos filhos para a vida. E também, emocionalmente maduros na função adulta, existem as práticas de amor ágape vinculadas ao doar-se ao sistema Vida com maisdesprendimento ainda, sem necessariamente obtenção de benefícios pessoais pontuais, conscientes de que como membros desse sistema maior, atitudes benéficas impactarão positivamente a todos naturalmente e que a “retribuição” poderá não ser imediata ou igualitária. É aprazível doar-se para o Sistema Vida pela consciência do pertencer e pela consciência das inegáveis conexões sistêmicas.

A compreensãoda reciprocidade relacionada ao equilíbrio entre o dar e o receber nas várias formas de se relacionar, traz a possibilidade de construção de relacionamentos saudáveis nos quais se discrimina papéis diversos a serem exercidos com flexibilidade de posturas nos vários tipos de relações. É muito importante discriminar de que forma é mais pertinente se comportar nos relacionamentos, já que em cada papel as demandas relacionais se alteram, ao mesmo tempo em que é necessária a consciência da parcela de responsabilidade de cada um de nós nessas relações. Ser ou estar recíproco de forma saudável demanda saber quais expectativas nutrir em cada forma de se relacionar e de que forma também doar-se. Desequilíbrios entre o dar e receber podem ocasionar dinâmicas abusivas, quando em relacionamentos em que a reciprocidade necessita ser igualitária, acontecem projeções de traumas infantis, abuso de função de quem teoricamente se sente doando mais e, portanto, na posição de comando no âmbito relacional, assim como pessoas que se doam sobremaneira esperando gratificações que não vieram na infância. São mecanismos de ordem inconsciente que se manifestam nos relacionamentos de forma doentia, sempre lembrando que o cuidado para com as feridas emocionais e traumas infantis competem à função adulta, ou seja, somente adultos conscientes e responsáveis pela sua criança interior e pelo seu autocuidado podem exercer a reciprocidade de forma satisfatória e equilibrada, muito necessária para boas relações.

É um importante exercício avaliar os relacionamentos no sentido de identificar posturas, posições e comportamentos diversos que podem estar confluindo ou não para uma boa qualidade de vida emocional e relacional. Se a reciprocidade adequada em cada função e relação não está equilibrada, é perfeitamente possível analisar e promover as mudanças necessárias de nossas respectivas parcelas de contribuição em qualquer tipo de relacionamento. Convém salientar ainda que somos responsáveis apenas pela nossa parcela; como o outro deve ou não contribuir ou fazer compete a cada um, considerando que estamos em estágios diferenciados de consciência e evolução diante da vida. Podemos, ainda, nos retirar de qualquer relacionamento onde não exista a reciprocidade adequada – desde que estejamos conscientes também de nossas necessidades internas, já promovendo uma boa relação intrapessoal (nós mesmos com nosso próprio mundo interno), sabendo o que permitir e como contribuir para construir relações interpessoais saudáveis, facilitando melhores relações também para com o nível sistêmico, nós e a vida, através das formas muito singulares de estar nessa incrível jornada também contribuindo positivamente para coisas maiores com a nossa essência mais profunda. 

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