quinta, 25 de abril de 2024
S.Carlos no mundo da ciência e da tecnologia

Equipamento de descontaminação do ar contra o coronavírus é desenvolvido pelos pesquisadores do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica – Instituto de Física de São Carlos - USP

28 Jun 2020 - 09h02Por Kleber Chicrala
Dr. Vanderlei Salvador Bagnato (esquerda), coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF)/INCT e Diretor do Instituto de Física de São Carlos – USP - Crédito: ReproduçãoDr. Vanderlei Salvador Bagnato (esquerda), coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF)/INCT e Diretor do Instituto de Física de São Carlos – USP - Crédito: Reprodução
Entrevistado: Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato
 
Coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF)/INCT e Diretor do Instituto de Física de São Carlos – USP
Em entrevista para o setor de difusão científica e jornalismo científico do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica – Instituto de Física de São Carlos – USP, o Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato respondeu sobre o desenvolvimento e inovação tecnológica realizado com a criação de um novo e eficiente equipamento para descontaminação do ar, e consequentemente uma “arma”tecnologia, eficiente e prática, contra o Corona Vírus.
 
Pergunta (Kleber Chicrala): Prof. Bagnatoexplique o que vem sendo pesquisado e aplicado contra o Corona Vírus no ar ?
Resposta ( Prof. Bagnato):Estamos preocupados, pesquisando e desenvolvendo soluções tecnológicas envolvendo a Luz (UVC) que tem como proposta a descontaminação de superfícies em geral, a exemplo de metais, pisos, pequenos objetos usados no dia a dia, e outros lugares que possam ser contaminados por vírus, bactérias e micro organismos, sendo que neste momento entendemos ser de fundamental importância a descontaminação do ar. 
Isso se justifica pela possibilidade de contaminação de uma pessoa por outra via: espirros, tosse, ou até mesmo pela fala, em uma ambiente fechado ou semi-aberto. Principalmente se uma pessoa ou mais pessoas estiverem contaminadas por um vírus ou bactérias usando ou passando em um determinado ambiente, pois a emissão de partículas, resultado de um espirro, por exemplo, tendem a permanecer no ar em forma de “ micro partículas” ( um aerossol) por várias horas dependendo do ambiente, com um risco considerável de contaminação. Assim podemos nos contaminar neste período de contato,principalmente na região onde respiramos, ou seja, com o volume de ar que aspiramos durante o processo de respiração. Soma-se a tudo isso a possível contaminação das roupas, partes do corpo, a exemplo o cabelo e mãos, e outros objetos que carregamos, que podem transportar, por um período de tempo, as partículas infectadas que estavam no ambiente ou local contaminado.O uso de mascaras e procedimentos de segurança, limitam a ação do vírus, embora parte das micropartículas no ambiente, tendem a permanecer e possivelmente espalhar-se, ampliando as possibilidades de contaminação. Assim entra a ciência e a tecnologia trazendo soluções viáveis e de aplicação prática no sentido de minimizar ao máximo as chances de contágio, tendo como proposta a descontaminação do ar de forma contínua e direta. 
 
Exemplo ilustrativo do espalhamento de micro gotículas em forma de aerossol no ambiente que podem estar contaminadas, a exemplo do CoronaVírus-Covid 19
 
Pergunta( Kleber Chicrala): Dr. Bagnato explique sobre o sistema de descontaminação do ar desenvolvido pelos pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos – USP, e do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica em parceria com a Embrapii .
Resposta ( Prof. Bagnato): O sistema desenvolvido pela nossa equipe de pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos – USP contou com a dedicação de pessoas interessadas em soluções tecnicamente e cientificamente viáveis para descontaminar o ar que respiramos, e criar um ambiente mais protegido da ação dos microrganismos, a exemplo do CoronaVírus-Covid 19 .
Assim em parceria do aEmbrapii – Unidade de São Carlos, pesquisamos e produzimos um equipamento para eliminar e controlar partículas, possivelmente contaminadas por vírus e bactérias, que estivessem  suspensa e espalhadas pelo ar. Mitigando assim o contagio via aérea, ou seja, presentes no ar que respiramos, em determinados ambientes, normalmente compartilhado por pessoas em geral. 
Desta forma o sistema foi projetado fazendo com que o ar presente em um determinado ambiente, passe rapidamente pelo equipamento que produzimos, onde terá contato com a radiação UVC, que faz a descontaminação imediata e com precisão, promovendo a morte dos microrganismos patógenos presentes no ar. 
O sistema de descontaminação do ar foi desenvolvido de forma a produzir um “gradiente de pressão”, que por sua vez proporciona a decantação das partículas no ambiente, sendo direcionada para o piso, e limitando as possibilidades de estarem na região e altura que normalmente respiramos, ou seja, removendo as partículas que por ventura estejam contaminadas e presente no ar, da zona que normalmente respiramos. E consequentemente diminuindo consideravelmente as possibilidades de contágio, embora devemos considerar a necessidade de se evitare promover a recirculação do ar contendo essas particular, ou seja, o efeito que chamamos de “levantar a poeira”. E associado a todo processo, lembramos das medidas de higiene e limpeza dos ambientes, parceira desta tecnologia.
 
Pergunta( Kleber Chicrala):Por favor, explique resumidamente como funciona o sistema de descontaminação do ar no momento do uso, e como foi realizado o teste do sistema. 
Resposta( Prof. Bagnato):O funcionamento do equipamento acontece com o controle do fluxo de ar quase laminar e contínuo produzido e próximo ao piso, onde as partículas em suspensão são arrastadas e direcionadas. Sendo assim conduzidas pelo sistema de forma que junto com ar presentes, passarão por exposição ao UVC( ultra violeta) e retornará ao ambiente pela parte de cima do equipamento, realizando desta forma, o processo de descontaminação do ar.
A descontaminação do ar ao passar pelo UVC ocorre rapidamente, ou seja, em frações de segundos, o que favorece a eficiência do sistema criado. Nos experimentos que realizamos, com uma única passagem do ar pela intensa luz (UVC), 99,99% dos microrganismos foram eliminados. Sendo que a operação deste sistema é mensurada da forma que, a cada 15 minutos, o volume de 100 m3 de ar consegue circular pelo processo de descontaminação. E para se ter uma idéia prática, todo ar de um sala do tamanho aproximado de 5 mX5mX4m consegue passar pela ação descontaminantedo UVC no tempo de 15 minutos em média. Considerando também que a ação da pressão de cima para baixo realizado pelo sistema, acaba ajudando a depositar partículas no piso, ampliando o nível de segurança no ambiente. 
 
Foto: IFSC-USP
Durante os ensaios e testes realizados com o sistema de descontaminação do ar, utilizamos aerossóis contaminados em um determinado espaço, ou seja, um ambiente tecnicamente preparado, onde o “circulador-descontaminador” foi utilizado, ou seja, atuou diretamente. Em seguida, placas coletoras de microrganismos foram colocadas estrategicamente em vários pontos do ambiente, sendo ao final comparado e medido o acumulo e crescimento de microrganismos nessas, com e sem a utilização do circulador, ou seja, do equipamento descontaminador. Onde chegamos ao resultado comparativo positivo, indicando que após alguns minutos de circulação do ar pelo equipamento, houve a inexistência da presença de microrganismos contaminantes no ar. 
 
Nessas placas de Petri com o meio de cultura específico, chegou aos resultados após 24 horas do início da realização do experimento/coleta, que a E. coli estava neutralizada no ambiente . Na primeira amostra ( no topo) quando não há ação de descontaminação, pode se observar nitidamente um grande números de colônias. Sendo que após o processo de descontaminação observa-se mais de 100.000 vezes de decréscimo dos microrganismos. 
 
Pergunta( Kleber Chicrala): Esta tecnologia esta sendo aplicada no ambiente Universitário ? E existe parceria com empresa para disponibilizar esse sistema de descontaminação no mercado ?
Resposta(Prof. Bagnato): No Instituto de Física de São Carlos da USP, estamos disponibilizando esses equipamentos, com o objetivo de dar segurança e permitir o trânsito seguro dos funcionários, pesquisadores e estudantes, além de procurar minimizar os riscos de contaminação como um todo. 
Sobre se ter empresa parceira neste projeto, digo que sim. Inclusive no desenvolvimento de um sistema de descontaminação com uma proposta de designer inovadora e própria para diversos tipos de ambientes e aplicações. Podendo ser adaptado para várias situações e necessidades, finaliza Bagnato.
Pergunta (Kleber Chicrala): Com toda estas tecnologias, há chances de evitarmos por completo a contaminação?
Resposta ( Prof. Bagnato): Não temos como evitar por completo as chances de contaminação. A medida que adicionamos novas tecnologias vamos diminuindo as chances, e tornando certas operações e atividades mais seguras. Tudo que se adiciona, não deve eliminar as soluções já adotadas. Usar a máscara e lavar as mãos constantemente, não se aglomerar e nem manter contatos mais próximos são exemplos. No entanto, se não formos adicionando novas formas de evitar, ficaremos estagnados. Cuidando de cada um , do ambiente e dos objetos ao nosso redor, vamos sendo capazes de ir contornando a situação para podermos cumprir nossas necessidades do dia a dia.
 
Fontes: Kleber J. S.Chicrala (https://suportenlti.wixsite.com/kleberchicrala) – Jornalismo Científico do CEPOF – INCT – IFSC – USP e Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato -  Diretor do CEPOF – INCT – IFSC – USP
 

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