sexta, 26 de abril de 2024
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Conversando sobre o luto com crianças

08 Abr 2019 - 06h50Por (*) Bianca Gianlorenço
Conversando sobre o luto com crianças -

O que falar e como dialogar com a criança quando a morte de alguém próximo chegar?

Falar sobre a morte é sempre um momento doloroso e desconfortável, imagine conversar sobre isso com uma criança?

 Por vezes diante da perda de um ente querido ou pessoas próximas, os pais e cuidadores, tentam esconder e evitar ao máximo falar sobre o assunto com as crianças.

Por mais doloroso e desconfortável que seja abordar a morte com as crianças, os ajuda a compreender melhor o processo de desenvolvimento humano, seus sentimentos e emoções.

Esconder ou evitar falar sobre a morte com as crianças, muito tem a ver como você (no caso o adulto) enxerga e enfrenta o processo de luto.

Certamente por não aceitar ou não se adaptar ao processo de luto, ele tenta evitar o sofrimento da criança e escolhe não lhe contar.

  Falar sobre a morte e o processo do luto com crianças desde bem pequenas, facilita a compreensão e melhora a forma de enfrentamentos de situações futuras, auxiliando as crianças a verem a morte como um processo natural.

O luto é um processo doloroso tanto para adultos quanto para as crianças, devemos respeitar o modo de enfrentamento de cada um.

Precisamos entender como cada criança em sua faixa etária (idade), desenvolve o conceito de morte e só a partir desse conhecimento deve-se conversar sobre o processo de luto com elas. 

Até os 2 anos: 

As crianças nessa idade não conhecem o significado de morte e nem palavras relacionadas, mas percebem as mudanças e a ausência do ente querido que se foi.

Nessa fase não se faz necessário explicar sobre a morte, mas é importante manter o hábito e a rotina do ambiente exatamente como eram antes da perda.

Entre 3 e 6 anos:

A criança acredita que a morte é reversível e/ou temporária, ela compara a morte com o sono.

Acredita que a pessoa que morreu pode acordar e voltar a viver novamente.

A criança não consegue entender o conceito de morte, essa é a fase onde predomina o egocentrismo e os pensamentos mágicos.

Ao mesmo tempo que ela acredita na imortalidade dela e de pessoas próximas, quando se depara com a morte acredita ser algo contagioso.

Nessa fase a criança entende tudo e é muito importante ter uma linguagem clara e específica, explicando que a morte é algo irreversível.

6 a 10 anos

Sabem exatamente o que é a morte, tendo consciência que em algum momento isso acontecerá com as pessoas próximas (pais) e com ela também.

E o que falar e como dialogar com a criança quando a morte de alguém próximo chegar?

Ser o mais claro possível com a criança, não permitindo que ela se sinta confusa com a notícia, como por exemplo: – Ele foi morar no céu ou – Ela virou uma estrelinha que estará sempre te olhando. Em algum momento, essas frases podem confundir a cabeça das crianças. E quando não houver estrelas no céu, onde a pessoa que morreu está?

Demorar muito a falar sobre a morte. Adiar a notícia, não diminuirá a dor. Não devemos esquecer o quão observadoras as crianças são, sentem e observam tudo a sua volta. Adiar falar sobre o assunto pode acarretar em complicações na elaboração do luto futuramente.

Jamais diga a criança:  Não chore, ou, não se preocupe. Permita que ela vivencie suas emoções sem precisar esconder nada de ninguém.

O fato da criança estar brincando ou distraída, não significa que ela não sofra ou não sinta a ausência daquele que se foi.

 É preciso observar e manter sempre o diálogo sobre a morte, observando e buscando compreender como essa criança está vivenciando o processo de luto.

Caso observe algum comportamento diferente ou uma elaboração não saudável do processo do luto. Não hesite em buscar auxílio profissional.

Um psicólogo pode te ajudar!

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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