sexta, 26 de abril de 2024
Polêmica no Atília Prado Margarido

Jovens retirados da sala de aula afirmam que Brasil é democracia e todos têm o direito do livre arbítrio

22 Out 2018 - 13h56Por Marcos Escrivani
Jovens retirados da sala de aula afirmam que Brasil é democracia e todos têm o direito do livre arbítrio - Crédito: Marcos Escrivani Crédito: Marcos Escrivani

O episódio ocorrido na manhã de sexta-feira, 19, na Escola Estadual Attília Prado Margarido, no Jardim Santa Felícia, trouxe reflexões políticas e causou amplo debate em São Carlos, uma vez que quatro jovens, entre 15 e 18 anos, foram “convidados” a se retirarem da sala de aula por uma professora de Artes, por usarem camisetas alusivas à candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da República.

Após o episódio a direção da escola reconheceu o ato isolado da professora e se desculpou com os alunos e com os pais dos envolvidos.

No início da tarde desta segunda-feira, 22, o São Carlos Agora foi até a instituição de ensino e conversou com três dos quatro jovens envolvidos. Maria Julia Gonçalves Santos, 15 anos (1º ano do Ensino Médio), João Pedro Cordovil Alcaide, 18 anos (2º ano do Ensino Médio) e Guilherme Henrique Tristão, 17 anos (2º ano do Ensino Médio). Com problemas de saúde, Luís Fernando Cordovil Alcaide, 17 anos, não compareceu às aulas.

O São Carlos Agora procurou ouvir qual o sentimento que movia os alunos a usarem camisetas com propaganda política e como se sentiam após passarem por momentos constrangedores.

“Eu ainda não voto, mas admiro as propostas do Bolsonaro. E estou cansada deste governo. E aprendi a me politizar graças ao meu pai (Luís)”, disse Maria Júlia que pretende ser eleitora a partir de 2019.

Articulado, João Pedro concorda com a amiga. “Os últimos 13 anos de governo foram de corrupção e tentaram acabar com a Justiça. Eu acredito que Bolsonaro tem propostas fortes. Ele disse que irá fortalecer a Polícia Militar, incrementar a Economia, entre outras ações. Para mim isso basta”.

TRISTE EPISÓDIO

Maria Julia, João Pedro e Guilherme, durante o bate papo, relembraram os momentos constrangedores de sexta-feira, 19, quando foram impedidos de assistirem as aulas.

“Na Attília não somos obrigados a vir com uniformes. Cada um vem com a roupa que quer. Eu, por exemplo, cheguei a ir com a camisa da seleção brasileira, em forma de patriotismo. Mas nossas vestimentas eram aleatórias”, disse João Pedro.

Mas naquele dia os três alunos optaram por ir com uma camiseta da campanha de Bolsonaro. “Entramos e estava tudo bem até a hora do intervalo. A gente percebia alguns olhares que não aprovavam nossa iniciativa, mas levamos numa boa. Mas quando meu irmão foi para a sala, a professora de Artes não queria que ele entrasse com aquela camiseta. Teria que tirá-la. Ele não fez isso e entrou. Lá dentro ela insistiu: ou tira ou sairia da sala. Meu irmão então saiu”, disse João Pedro.

Ele disse que, ao lado de Guilherme, foi para a aula de Educação Física e o professor sugeriu, a pedido da vice-diretora, que colocasse coletes. “A gente vive em uma democracia. Não seria necessário eu fazer isso”, comentou.

Maria Julia passou por momentos nada agradáveis também, uma vez que a professora de Artes pediu para fazer um trabalho com a letra de uma música com tema livre. “Eu gosto da melodia da campanha do Bolsonaro. Mas ela não aceitou. Foi na minha carteira, retirou meu trabalho e mandou eu sair da sala”, comentou.

CENSURADOS

João Pedro, Guilherme e Maria Júlia se sentiram lesados em seu livre arbítrio, o direito e ir e vir.

“Parecia uma ditadura, uma censura. Fiquei indignado. Foi dentro da classe, uma atitude isolada de uma educadora. Mas os demais professores e a direção ficaram a nosso favor”, afirmou João Pedro. “Não pude me expressar. Não tive direito ao livre arbítrio”, emendou Guilherme.

“São fatos muitos tristes que envolve a escola e parece ter sido uma ação partidária. Isso pesa para a instituição de ensino. Mas estou indignada”, comentou Maria Júlia. “Mas a direção ficou do nosso lado e nos defendeu e apoio. Mas fica um pouco de receio no ar, pois teremos dois meses de aulas ainda e não queremos ser prejudicados pela professora e ser reprovados”, finalizou Maria Julia.

DESCULPAS

A direção da EE Attília Prado Margarido se desculpou com os alunos e com os pais pela atitude isolada da professora. Houve diálogo com os alunos da instituição de ensino e a preocupação é que haja o respeito mútuo entre os envolvidos.

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