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sábado, 06 de dezembro de 2025
Setembro amarelo

Pesquisa revela: 25% das pessoas já pensou em suicídio; especialista são-carlense avalia contexto

Segundo Simas, a saúde mental é uma missão da sociedade como um todo, o que envolve o indivíduo, a família e também o poder público

28 Set 2025 - 10h08Por Da redação
Depressão  - Crédito: Agência Brasil Depressão - Crédito: Agência Brasil

Uma em cada quatro pessoas entrevistadas em uma pesquisa online da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) afirmou ter tido pensamentos suicidas nos seis meses anteriores ao levantamento. Além disso, mais da metade relatou desejos de se isolar completamente ou desaparecer.

A pesquisa ouviu pessoas adultas de todas as faixas etárias, residentes nas 27 unidades da Federação. O objetivo da ABP foi reunir informações para reforçar a mensagem da campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio.

Dados preliminares do levantamento mostram ainda que 25,2% dos participantes afirmaram “não se sentir bem” no momento da pesquisa e 30,9% se declararam tristes ou decepcionados, mas ainda com esperança de melhorar.

O médico da família, Claudio Simas:


Claudio Roberto Simas, médico de família e comunidade, formado pela Unifesp e atuante no programa Mais Médicos, na UBS Vila São José, concorda que nossa sociedade está doente, mas faz observações importantes sobre o tema.
“Podemos dizer que sim (que a sociedade está doente), mas com algumas ressalvas. Hoje há muito mais visibilidade em relação à saúde mental do que no passado. O aumento de diagnósticos e da procura por ajuda não significa necessariamente que as pessoas adoeceram mais, mas que existe menos tabu em falar sobre sofrimento psíquico. Ao mesmo tempo, vivemos em um contexto de muita pressão por produtividade, insegurança econômica e violência, o que contribui para quadros de ansiedade, depressão e estresse crônico”, destaca.

As transformações sociais, como as mudanças nas famílias, também alteraram o contexto.
“As famílias mudaram muito nas últimas décadas. Vemos menos tempo de convivência, vínculos enfraquecidos e a ausência de redes de apoio tradicionais, como vizinhos, associações comunitárias ou igrejas. Isso gera isolamento e sobrecarga emocional. A saúde mental depende fortemente de conexões humanas sólidas e, quando elas se fragilizam, a vulnerabilidade ao adoecimento aumenta.”

Simas também avalia a situação dos chamados “idiotas eletrônicos”.
“A tecnologia trouxe benefícios, mas também riscos. Estamos hiperconectados, mas, paradoxalmente, mais solitários. A avalanche de informações, muitas vezes sem qualidade ou filtro, pode gerar ansiedade, sensação de inadequação e até dependência digital. O termo ‘idiotas eletrônicos’ traduz essa situação: pessoas que consomem informação de forma passiva, sem reflexão crítica. O desafio não é demonizar a tecnologia, mas aprender a usá-la de forma equilibrada e consciente.”

Para o médico, os vários casos de transtornos de personalidade, como psicopatia, sociopatia, borderline e bipolaridade, descobertos atualmente, se devem à maior divulgação das questões mentais nas redes sociais.
“Antes, esses diagnósticos eram restritos ao meio acadêmico e aos consultórios. Hoje, com a popularização de termos psiquiátricos nas redes sociais e na mídia, há mais curiosidade, mas também o risco de banalização e autodiagnóstico equivocado. É fundamental lembrar que somente profissionais de saúde podem avaliar e diagnosticar. A divulgação correta tem seu lado positivo: ajuda a reduzir estigmas e a estimular quem precisa a procurar tratamento.”

Segundo Simas, a saúde mental é uma missão da sociedade como um todo.
“A solução precisa ser coletiva. No nível individual: investir em autocuidado, equilíbrio entre trabalho e lazer, sono adequado, prática de atividade física e uso saudável da tecnologia. No nível familiar e comunitário: resgatar vínculos afetivos, promover convivência intergeracional, fortalecer laços de solidariedade. No nível das políticas públicas: ampliar os serviços de saúde mental na Atenção Primária, fortalecer os CAPS, investir em prevenção e redes de proteção social. Ou seja, cuidar da saúde mental não é apenas responsabilidade de cada pessoa — é um compromisso que deve envolver família, comunidade e Estado”, conclui.

Outras informações – A pesquisa mediu também a disposição das pessoas em procurar ajuda. Do total de entrevistados, 54,1% informaram que sabiam onde buscar auxílio especializado e 50,9% responderam que, pelo menos uma vez, foram atendidos por psiquiatra ou psicólogo.

Para a ABP, isso indica uma crescente conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde mental e uma diminuição do estigma relacionado a essas condições.

Sobre o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), a pesquisa mostrou que 31,6% dos consultados responderam que, caso necessário, buscariam o SUS para tratamento. Por outro lado, 50,9% disseram que procurariam atendimento particular e 33,8% considerariam algum serviço oferecido por plano de saúde.

Se precisar, peça ajuda – Qualquer pessoa com pensamentos e sentimentos de querer acabar com a própria vida deve buscar acolhimento em sua rede de apoio, como familiares, amigos e educadores, e também em serviços de saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, é muito importante conversar com alguém de confiança e não hesitar em pedir ajuda, inclusive para buscar atendimento especializado.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone (188), e-mail, chat e VoIP, 24 horas por dia, todos os dias. (Com informações da Agência Brasil)

Serviços de saúde que podem ser procurados para atendimento:

  • Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde);

  • UPA 24h, SAMU 192, Pronto-Socorro, Hospitais;

  • Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita).

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