
Nesta quarta-feira (12), completa 30 anos do crime brutal que vitimou o casal José Luís e Rosa Sundermann. Até o momento, os responsáveis pelo assassinato ainda não foram identificados e o caso foi prescrito há 10 anos, sendo arquivado com ressalvas.
Dezenas de volumes com informações sobre a vida do casal, sua militância política, relacionamentos e outros detalhes de interesse policial estão à disposição da 5ª Delegacia de Crimes Especiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da capital paulista. A investigação, no entanto, ainda não encontrou respostas para o que aconteceu na madrugada do dia 12 de junho de 1994, dentro da residência dos Sundermann, localizada no bairro Nova Estância, na região norte de São Carlos.
Única Testemunha
A única testemunha do crime, o estudante universitário e radialista Carlos Eduardo Sundermann, conhecido como "Duda", tinha 21 anos na época e era filho do casal. Ele acabou falecendo na madrugada de 26 de abril de 1998, durante um acampamento com amigos da UFSCar no sítio Bocaina, na antiga estrada de Analândia, após cair de uma cachoeira.
Em maio de 2005, o caso foi reaberto pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da capital.
Crime no Dia dos Namorados
No dia 12 de junho de 1994, Dia dos Namorados, por volta das 3h da madrugada, os dois dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), José Luís Sundermann e sua esposa Rosa Hernandes Sundermann, ambos com 37 anos, foram executados dentro da própria residência na rua Peru, no Jardim Nova Estância, em São Carlos.
Segundo a polícia, naquela época, ao chegar em casa por volta das 3h, o filho mais velho do casal, Carlos Eduardo, então com 17 anos, encontrou os corpos dos pais na sala da residência.
O então delegado titular do 1º Distrito Policial, da Vila Nery, Felix Francisco Tavelin, hoje aposentado, descartou a possibilidade de latrocínio porque nada foi roubado e não havia sinais de arrombamento ou luta corporal na casa.
A investigação apurou que o casal Sundermann saiu na noite de 11 de junho, um sábado, da sua residência acompanhados de um casal de filhos e os pais, para um restaurante na região da Praça Itália onde jantaram.
Por volta da 0h30 do dia 12 de junho, José Luís levou a filha menor e seus pais para casa, porém o filho mais velho ficou no cruzamento da avenida São Carlos com a rua Jesuíno de Arruda, no centro, para ir a um baile da Associação Beneficente dos Alfaiates de São Carlos (ABASC).
Ao regressar para a residência, na rua Peru, por volta das 3h da madrugada do Dia dos Namorados, Carlos Eduardo Sundermann encontrou o portão de entrada da casa trancado, a porta da sala aberta e no centro dela estava o pai, José Luís, caído de bruços, morto com um tiro frontal na cabeça e outro no lado esquerdo. Sua mãe, Rosa Sundermann, ainda estava sentada no sofá da sala com as pernas cruzadas e as mãos também cruzadas sobre uma almofada, com um tiro na cabeça.
O delegado de plantão naquele dia, Idineu Ferreira de Araújo, hoje também aposentado, juntamente com seus policiais, se deslocou até o local do crime bárbaro. Naquela madrugada, o delegado plantonista também descartou a hipótese de latrocínio ou homicídio seguido de suicídio, devido às circunstâncias em que se encontravam os corpos e à inexistência da arma de fogo do crime no local. "Havia dinheiro, talões de cheques preenchidos os quais foram apreendidos para investigação", declarou o delegado naquela madrugada.
A reitoria da UFSCar, também naquele dia pela manhã, lamentou a morte do servidor José Luís e de sua esposa.
O velório do casal Sundermann foi realizado no saguão da reitoria da Universidade Federal de São Carlos e no final da tarde daquele dia 12 de junho de 1994, ambos foram sepultados no Cemitério Nossa Senhora do Carmo.
Trajetória Política
Um dos amigos de José Luís, que pediu anonimato disse que conhecia bem toda a trajetória política de Rosa e José Luís. Ele não quis comentar sobre o crime, apenas falou sobre a trajetória política do casal.
Segundo ele, José Luís era vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de São Carlos (SINTUFSCar), ativista da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). O sindicalista também participou, em 1983, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da CUT. Rosa, sua esposa, ajudou na coordenação política do PT, e posteriormente no dia 6 de junho de 1994, teria sido nomeada presidente do PSTU, uma semana antes do casal ser assassinado.
COBRANÇA
Já o amigo mais próximo do casal, Antônio Donizete da Silva, o “Doni”, Coordenador Jurídico do SINTUFSCar, disse que a morte de José Luís e Rosa Sundermman, ainda segue sem respostas e que o movimento sindical previa este fato, não por incompetência da Polícia, mas em função de uma tradição no Brasil de uma impunidade. É uma situação deprimente e triste, mas, nós não desistiremos e não deixaremos de cobrar por mais tempo que passe apuração deste bárbaro crime.