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O abuso verbal na infância e suas consequências

09 Jul 2018 - 04h56Por (*) Bianca Gianlorenço
O abuso verbal na infância e suas consequências -

O abuso verbal na infância afeta diretamente a autoestima das crianças. No entanto, não somos conscientes de tudo que isso envolve. Isso ocorre porque, às vezes, podemos confundi-lo com o uso de palavrões. No entanto, vai muito além disso.

O abuso verbal é um ataque direto ao sentimento de valia da pessoa que o recebe, neste caso as crianças. Além disso, maltratar através das palavras também envolve maltratar a nível psicológico. O abuso psicológico é a forma mais frequente de violência.

A razão pela qual o abuso verbal na infância deixa uma marca importante é que a infância é um momento muito crítico da etapa evolutiva. O sistema nervoso e o cérebro são muito vulneráveis ??a qualquer estímulo do ambiente, portanto, tudo o que acontece no exterior influencia a criança de uma forma ou de outra.

No entanto, de que maneira favorecemos que o abuso verbal na infância seja algo mais presente do que deveria ser? Como o encobrimos para que, às vezes, em vez de chamá-lo pelo nome, o justifiquemos apontando que estamos “ensinando” ou “educando” como achamos melhor?

Muitos pais não sabem educar seus filhos de outra maneira que não seja incidindo sempre no que fazem de errado. Por outro lado, se fazem algo de bom, não valorizam porque consideram que é assim que deveria ser; portanto, se uma criança protesta, afirmam categoricamente “é o que você tem que fazer”.

No entanto, numa fase tão delicada como a infância, concentrar a atenção apenas nos aspectos negativos tem sérias consequências. Na verdade, na maioria das vezes, não apenas é enfatizado o que a criança faz de errado, mas até a leva a se sentir culpada por ter irritado seus pais. 

Comparar uma criança à outra ou dizer “você é burra” pode parecer inocente, e alguém pode até justificar que o pai ficou tão zangado que perdeu a paciência. No entanto, tudo isso pode deixar uma marca irreparável na mente de qualquer criança, especialmente se for feito de forma recorrente.

Por exemplo, se quando ela tenta resolver um problema de matemática a chamamos de “burra” por não fazer certo da primeira vez, enquanto enfatizamos que seu amigo sempre acerta, a criança considerará que não leva jeito na matéria. Além disso, também acreditará que é um aluno pior que seu amigo.

Imediatamente, acreditará que não há nada que possa fazer para resolver este problema, o que propiciará que rejeite a matemática no futuro. Isso também pode fazer com que sinta um certo medo de fracassar e, na mínima tentativa falha em qualquer área, jogará a toalha porque será rotulada como “incapaz”.

Que autoimagem pretendemos que a criança forme com esse tipo de comportamento?

Por que esquecemos que durante a infância ela está construindo sua identidade?

 Uma identidade repleta de “eu não tenho valor”, “é minha culpa meus pais ficarem com raiva”, “não faço nada certo”, “sou burro”, “sou um desastre” e “mereço o pior” impedirá que se construa uma autoestima sólida.

Como podemos ver, o abuso verbal na infância afeta as crianças de maneira importante. Também deve ser dito que, às vezes, os pais não percebem que sua frustração no trabalho, os altos níveis de estresse, os problemas do casal ou o peso de múltiplas responsabilidades se projetam em seus filhos através de sua linguagem. Este é um aspecto que devem considerar se quiserem que seus filhos sejam felizes.

Gerenciar adequadamente as emoções, ter empatia e, acima de tudo, aprender a se comunicar de forma positiva com as crianças, levando em conta sua autoestima, é essencial. Afinal de contas, não queremos transformá-los em adultos inseguros, tristes, que se acham incapazes e que eventualmente estabelecerão limites que, na realidade, não tem.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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