sexta, 19 de abril de 2024
Exemplo de superação e amor à vida

Ex-jogadora de vôlei de São Carlos vence doença e faz saladas e bolos em pote para custear tratamento

02 Mar 2020 - 07h03Por Marcos Escrivani
Flávia na "lida": além de terapia, fazer saladas e bolos em pote ajuda a custear tratamento médico - Crédito: Marcos EscrivaniFlávia na "lida": além de terapia, fazer saladas e bolos em pote ajuda a custear tratamento médico - Crédito: Marcos Escrivani

A ex-jogadora de vôlei de São Carlos, Flávia Ruas, 34 anos pode se considerar uma vencedora. Acometida de uma doença degenerativa (retocolite ulcerativa) e uma nas articulações (espondiloartropatia inflamatória), após uma batalha intensa, conseguiu se restabelecer e hoje faz saladas e bolos em pote para custear o tratamento médico.

A retocolite ulcerativa é uma doença inflamatória que acomete o intestino. Não tem cura definitiva, exceto com cirurgia (retirada do intestino grosso), mas tem tratamento eficaz.

NO INÍCIO, ATLETA DE ALTO RENDIMENTO

Com 8 anos de idade, Flávia conheceu o vôlei e jogou até os 22 anos. O seu aprendizado foi na AVS (Associação de Vôlei São-carlense) e posteriormente Finasa/Osasco, Hípica Campinas e Lupo Araraquara. “Participei por várias vezes do Campeonato Paulista, dos Jogos Regionais e Jogos Abertos”, lembra a ex-jogadora.

Nunca abandonou os estudos e cursou Educação Física e chegou a integrar a equipe Damha.

A DOENÇA

Quando tinha 31 anos, a vida de Flávia deu uma guinada. Em 2018 a doença se manifestou na pele, nos olhos e nas articulações. “Foi constatada a doença imune degenerativa e cheguei a fazer uso de cadeira de rodas, com o acometimento lombar sacral (síndrome da cauda equina). Perdi o movimento da perna esquerda e até a sensibilidade ao urinar”, comentou a são-carlense. “É uma doença gravíssima”, emendou.

PROCEDIMENTO CIRÚRGICO

Segundo Flávia, no auge da doença, com a degeneração da coluna, foi encaminhada para uma cirurgia de descompressão medular. “A operação durou duas horas”, disse. “Foi no Hospital São Francisco, mas o acompanhamento é feito pelo Hospital das Clínicas. Tudo em Ribeirão Preto”, disse. “É um acompanhamento reumatológico e proctológico”, completou.

CONVIVER COM A DOENÇA

Desde o acometimento das doenças, meios para combate-la e cirurgia, Flávia deixou de trabalhar, já que a cada três meses passa por consulta e fica necessariamente internada onde toma a medicação Infliximabe. “É imunobiológica”, disse ao se referir ao remédio. “Faço exames de sangue. Enfim, não posso me descuidar, pois irei conviver com esta doença. Tenho que seguir uma rotina de vida e controla-la para que eu possa ter qualidade de vida”.

SEM CONDIÇÕES DE TRABALHAR

Flavia disse que o tratamento médico constante e acompanhamento necessário para que a doença não se manifeste novamente, faz com que não tenha condições de voltar a trabalhar (vínculo empregatício).

“Tem a questão psicológica e o tratamento constante a que me submeto. Qual empregador daria espaço? Se na entrevista eu disser que não tenho nada, estarei mentindo. Se a gente é sincera, não conseguimos a vaga. Então existe sempre um rótulo”, desabafou.

NOVO CAMINHO

Ao lado da filha Olívia, de 6 anos, Flávia reside na zona rural (solicitou que o endereço não fosse citado). Tem hoje uma vida tranquila onde controla a doença.

Entretanto começou a pensar em possibilidades para conseguir recursos para custear o tratamento médico.

Além de ser jogadora de vôlei quando adolescente, tinha habilidade na cozinha e surgiu a ideia de fazer saladas e bolos em potes. “Na verdade, vários tipos de doces”, disse. “   Em 2009 cheguei a fazer, mas naquela época não pensava em ser uma fonte de renda. Mas agora, com a necessidade de pagar pelos medicamentos e viagens, voltei a cozinhar. Assim consigo comprar os remédios e sustentar minha família”, disse. “E tudo o que eu faço, bem com muito amor e afeto. O principal ingrediente que uso é o carinho que tenho por todos e a fé em Deus”, garantiu Flávia.

PRIMEIRO PASSO

As saladas e bolos em pote é o primeiro passo e a motivação é o amor que tem pela cozinha. “Amo o que faço e quem me ajuda, recebe a mesma energia. E não faço isso com a ideia de me tornar uma comerciante. Quero o suficiente para me manter e manter minha família. Ter saúde e proporcionar conforto para minha filha. Ter um lar”, finalizou Flávia.

POST NO FACE

Em uma página no Facebook (Dellicat, comidas afetivas), Flávia tenta mostrar qual o sentimento que a levou a fazer tais alimentos em um post emotivo. Abaixo, a íntegra:

“Eu me lembro muito bem dos meus papéis de cartas, aqueles desenhos tão lindos que transmitiam tantos sentimentos bons. Eu tinha uma pasta de capa preta simples e dentro os saquinhos com aquela linda coleção de papéis. Eu cresci e os papéis se foram, mas parte de mim não cresceu, essa parte menina me lembra todos os dias como é bom sonhar! Já tive mtos sonhos e alguns não puderam se concretizar, mas o importante é que eu invento sempre outro sonho para realizar e vou colecionando objetivos! E hoje to aqui falando desse papel de carta em que a menina que ama gatos, cozinha feliz, e me vejo nela. Cozinhar com amor, com paciência e com afeto. Comida afetiva não tem nada de gourmet, cozinho pratos simples que passam longe da sofisticação dos restaurantes e resgatam memórias gostosas de tempos felizes: o feijãozinho preparado pela mamãe, aquele bolo de cenoura da sua tia, aquele pão que só a avó sabia fazer, o doce obrigatório de todo Natal em família… E cada um tem uma lembrança relacionada a comida! Aqui a comida é feita para transmitir felicidade! Com delicadeza e afeto!”

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