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Estudos em São Carlos aponta novas formas de diagnóstico de doenças ligadas ao envelhecimento

Especialista tenta encontrar solução mais eficaz à base de luz para diagnosticar osteoporose e diabetes

09 Nov 2017 - 15h54Por Redação
Foto: Fernanda Paolillo - Foto: Fernanda Paolillo -

Há alguns anos, o uso de luz para o diagnóstico de doenças relacionadas ao envelhecimento tem sido o principal objetivo do pós-doutorado* da Dra. Fernanda Rossi Paolillo, pesquisadora do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), que executa estudos visando à detecção de osteoporose (doença que enfraquece os ossos) e diabetes (patologia ocasionada pelo acúmulo de açúcar no sangue).

Após ter investigado o processo de pós-menopausa em mulheres de meia idade, Fernanda iniciou estudos com ratas ovariectomizadas (processo cirúrgico no qual se interrompe a produção de hormônios femininos e induz a osteoporose) para analisar o potencial da luz no diagnóstico da qualidade de dentes e ossos desses animais. Para isso, a pesquisadora utilizou duas técnicas ópticas: espectroscopia de fluorescência (fornece informações bioquímicas a partir da interação da luz com o tecido biológico) e espectroscopia Raman (representa a "impressão digital" de cada biomolécula, através da vibração de moléculas que ocorre por meio da interação entre luz e tecido biológico). Os animais foram monitorados ao longo de um ano e Fernanda observou que a dentina (camada interna do dente) perdia a qualidade tecidual, gerando maior fragilidade dentária em razão da osteoporose, cuja atual metodologia de diagnóstico (intitulada "densitometria óssea") é custosa.

Apesar de ter iniciado esse estudo sobre osteoporose, Fernanda decidiu avaliar o potencial de ambas as técnicas ópticas no diagnóstico de outra doença: o diabetes melittus do tipo 1 (relacionado com a herança genética, sendo desenvolvido já na infância e juventude) e do tipo 2 (embora também possa ser influenciado pela herança genética, pode decorrer em razão do processo de envelhecimento, obesidade, sedentarismo e de outros hábitos de vida). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2030, a patologia será a sétima principal causa de morte; segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), no Brasil existem mais de 13 milhões de indivíduos vivendo com a doença.

Sabendo que pessoas acometidas pelo diabetes têm acúmulo de algumas substâncias (chamadas de AGEs, sigla em inglês para Produtos Finais de Glicação Avançada), que são oriundas de açúcares e que se acumulam em tecidos biológicos, como no colágeno da pele, Fernanda aplicou as duas técnicas de espectroscopia óptica na pele de mais de 90 pacientes, tendo observado o potencial de ambas as metodologias na detecção dessas substâncias, cujo processo de acúmulo no colágeno é irreversível. "Quanto maior o acúmulo dos AGEs, você sabe que maior é o estado hiperglicêmico [alto nível de açúcar no sangue]", explica Fernanda: "Então você consegue fazer um rastreamento do diabetes".

Os testes foram realizados com voluntários saudáveis e diabéticos que foram separados em oito grupos, de acordo com idade (eles tinham entre vinte e oitenta anos) e cor de pele (da mais clara à mais escura), pois poderia haver complicações nos resultados, já que a luz aplicada interage com a melanina, proteína responsável pela pigmentação dos diferentes tons de pele.

Através de seus estudos, Fernanda constatou que, embora a presença dessas substâncias aumente de acordo com a avanço da idade, o acúmulo de AGEs é muito mais intenso no colágeno da pele de indivíduos diabéticos, sejam eles jovens ou idosos. Nesse sentido, o intuito da pesquisadora é possibilitar que essa análise seja uma alternativa para o diagnóstico da patologia, cujo método convencional de detecção envolve amostras de sangue.

Embora também sejam custosas, as técnicas de espectroscopia Raman e de fluorescência têm se mostrado complementares, sobretudo porque a primeira permite analisar a composição de várias moléculas presentes no tecido biológico. Entretanto, esses trabalhos, segundo a pesquisadora, são estudos inicias que poderão auxiliar na investigação de outras técnicas não invasivas já existentes, para que, em um outro momento, se tente elaborar um método de diagnóstico "point of care": um modelo de detecção que seja portátil, de baixo custo e que faça o diagnóstico de forma não invasiva, oferecendo o resultado em tempo real, seja presencialmente ou computacionalmente, através de aparelho celular.

*Seu pós-doutorado foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); processo nº 2013/14001-9. Supervisionada pelos Profs. Drs. Vanderlei Salvador Bagnato e Jarbas Caiado de Castro Neto (IFSC/USP), a Dra. Fernanda trabalhou em parceria com os pesquisadores Vicente Mattos, André Orlandi, Luciana de Matos e Renan Romano. (Rui Sintra e Thierry Santos da Assessoria de Comunicação - IFSC/USP).

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