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Estudo na UFSCar indica que obesidade abdominal é importante fator de risco para mortalidade em idosos

15 Out 2017 - 03h16Por Redação
Foto: Arquivo/SCA - Foto: Arquivo/SCA -

O aumento da expectativa de vida tem garantido mais longevidade para a população mundial. No Brasil não é diferente e as pessoas estão vivendo, em média, 76 anos o que representa um aumento de 30 anos em relação à expectativa de vida prevista na década de 1940. Diante desse cenário, várias pesquisas buscam a manutenção da qualidade de vida da população idosa. Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estudos se dedicam, por exemplo, a avaliar os riscos que a obesidade abdominal somada às perdas de massa e de força muscular podem oferecer aos idosos.

A sarcopenia (perda de massa muscular) e a dinapenia (perda de força muscular) são quadros que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento e que demandam atenção no contexto de saúde dos idosos, principalmente quando associados à obesidade abdominal. Dois trabalhos realizados pelo professor Tiago da Silva Alexandre, do Departamento de Gerontologia (DGero) da UFSCar, com parceiros canadenses e ingleses, apresentaram resultados importantes que colocam a obesidade dinapênica - gordura abdominal mais perda de força muscular - como um importante fator de risco para a saúde do idoso e até para a mortalidade dessa população.

O primeiro estudo foi realizado utilizando dados do projeto Saúde, Bem estar e Envelhecimento (Sabe) que, desde 2000, é realizado com apoio da Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto acompanha idosos da capital paulista a cada cinco anos e reúne dados epidemiológicos dessa população. A partir desses dados, o trabalho na UFSCar constatou que a obesidade abdominal, somada à perda de força muscular, estão associadas a distúrbios de lipídeos e carboidratos no metabolismo, síndrome metabólica e doenças cardíacas.

O pesquisador explica que o fundamental em relação à saúde dos idosos é manter a funcionalidade, ou seja, permitir que eles possam realizar as atividades diárias, tenham autonomia e, portanto, mais qualidade de vida. Ele avalia que, nesse contexto, "a dinapenia mostrou-se como uma medida mais poderosa que a sarcopenia para investigar desfechos negativos em idosos, como internações, hospitalização precoce, quedas, perda de mobilidade e até mortalidade". Além disso, ele afirma que à medida que a pessoa envelhece, a massa muscular perdida é substituída por gordura que se distribui para todo o corpo. A concentração dessa gordura na região abdominal é mais prejudicial e contribui para a perda de força. "Isso contraria o que se achava anteriormente, que a pessoa mais 'gordinha' era mais forte. Nossos estudos mostram que isso não é real", relata Alexandre.

A partir dos resultados levantados no primeiro estudo, o docente da UFSCar, durante seu pós-doutorado na University College London, na Inglaterra, iniciou uma segunda pesquisa com dados do próprio Sabe e do English Longitudinal Study of Ageing (Elsa), que faz levantamentos  epidemiológicos com idosos ingleses. O trabalho, apoiado pela Fapesp, reuniu as duas bases para levantar informações comparativas e pesquisar a obesidade dinapênica como fator de risco também para a mortalidade. Foram analisados idosos acompanhados durante 10 anos pelo Sabe (entre 2000 e 2010) e pelo Elsa (entre 2002 e 2012).

Para realizar essa segunda pesquisa foram isolados outros fatores que também poderiam aumentar o risco de mortalidade entre os idosos pesquisados, como o tabagismo, doenças cardíacas, situação socioeconômica, dentre outras. "Excluímos todas as condições que poderiam confundir nossos resultados e a obesidade dinapênica se confirmou como fator de risco para a mortalidade", destaca Alexandre.

Outra constatação importante foi que o Índice de Massa Corporal (IMC) não é o melhor indicador para avaliação clínica de pacientes, idosos ou não. "O IMC só nos dá uma relação entre peso e medida, mas ele não define o que é massa e o que é gordura no corpo. É mais indicado usar a circunferência abdominal e a força das mãos para avaliar os riscos de incapacidade e morte", revela o pesquisador da UFSCar, reforçando que o idoso que tem circunferência abdominal alta (maior que 102 cm para homens e 88 cm para mulheres) e pouca força é um paciente de risco.

Tiago Alexandre afirma que os resultados são muito semelhantes entre os idosos brasileiros e ingleses. "Independente de algumas diferenças na composição corporal das populações dos dois países e questões relacionadas à prevalência e controle de doenças, os resultados comprovam que a obesidade dinapênica é um fator de risco para a mortalidade. Isso foi comprovado nas duas pesquisas que fizemos com grandes grupos populacionais tanto no Brasil quanto na Inglaterra", reforça o docente. Nos dois estudos foram acompanhados mais de sete mil idosos.

De acordo com o professor, os resultados podem ser aplicados na rede de atenção básica de saúde, já que a medição da força e da circunferência abdominal é fácil e rápida de se executar e podem ajudar agentes de saúde e médicos na triagem dos pacientes e na conduta terapêutica. Alexandre acredita também que essas informações podem ser usadas dentro dos consultórios para que os médicos compreendam a evolução do quadro dos seus pacientes e definam condutas adequadas para o tratamento.

Recentemente, dois artigos sobre os estudos realizados pelo docente da UFSCar e parceiros estrangeiros foram publicados em revistas internacionalmente reconhecidas na área de Nutrição - Journal Clinical Nutrition e The Journal of Nutrition Health anda Aging. "Essas publicações reforçam a importância das nossas pesquisas e das parcerias e nos mostram que estamos no caminho certo, realizando estudos de qualidade e aceitos pela comunidade científica", conclui Tiago Alexandre.

Junto a essas parcerias, o professor acrescenta que foi estabelecido um convênio entre a UFSCar e a University College London, que prevê o intercâmbio de pós-graduandos para o desenvolvimento de pesquisas nas duas instituições.

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