quinta, 28 de março de 2024
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Aposentada de 74 anos dedica amor e dá abrigo a 78 animais domésticos excluídos pela sociedade

Ela faz de sua casa, no Jardim Beatriz, um lar para cães e gatos, vítima de abandono e de maus tratos

18 Set 2017 - 06h53
Foto: Marcos Escrivani - Foto: Marcos Escrivani -

Uma casa simples, mas muito bem arrumada. No terreno ao lado, um canil, onde cães são separados. Bem como um espaço reservado para os gatos. Assim é o lar adotivo de 54 cães e 24 gatos, na rua Batista Láurea Ricetti, no Jardim Beatriz.

Ali reside a aposentada Antonia Adão. Conhecida carinhosamente como Toninha ou Dona Laura. Aos 74 anos, garante que os cães e gatos que adotou, são sua razão de viver.

Ela recebeu a reportagem do São Carlos Agora na manhã de sábado, 16 e contou que há 33 anos reside neste endereço. Chegou a ter 150 animais quando trabalhava como funcionária pública municipal (era auxiliar administrativa). É professora formada, mas nunca exerceu a profissão.

"Conseguia me manter e manter meus cachorros e meus gatinhos. Mas depois que me aposentei, a realidade mudou. Hoje, é sacrificante para mim conseguir dar dignidade a esses bichinhos que não possuem lares".

DIFICULDADES FINANCEIRAS

Toninha disse que tenta fazer uma engenharia financeira para controlar as despesas. Ela tem uma renda mensal de R$ 2 mil. Mas gasta todo mês R$ 1,5 mil com ração (375 quilos para os cães e 100 quilos para os gatos). "Gasto ainda com medicamentos e veterinário. Além de despesas domésticas (contas mensais). Recentemente fiz um empréstimo bancário para pagar contas atrasadas. Não nego que minha situação está complicada", disse.

Até hoje, Toninha contou com pouca ajuda externa para cuidar dos seus cães e seus gatos. "Sempre procurei arcar com os custos. Mas está difícil. Poucas pessoas me ajudaram, mas na atualidade, não consigo. Passo por problemas de saúde que dificultam ainda mais minha situação", lamentou a cuidadora de animais.

MALTRATADOS E ABANDONADOS

"Todos, sem exceção". Com esta frase, Toninha resumiu a situação dos animais que em sua casa, ao dizer que os 48 animais domésticos foram vítimas de maus tratos e/ou abandonados. "Teve casos em que já deixaram os bichinhos amarrados no portão de minha casa. Em outros, fui até a casa da pessoa que maltratava e resgatava o cachorro e/ou gato", comentou.

A aposentada relatou ainda, que todos os animais que estão sob seus cuidados são castrados. "Fiz isso com recursos próprios", contou. "Faço isso por amor. Considero todos como filhos adotivos".

COMO TUDO COMEÇOU

Questionada sobre o início de sua relação com animais domésticos, Toninha contou uma triste história de vida. "Faz 50 anos já". Pensativa e com ar triste, disse que não possui família. "Sou praticamente sozinha no mundo".

Toninha disse que sua infância passou em uma fazenda na região de Araraquara. Com 6 anos perdeu seu pai. Trabalhava na roça e anos depois sua mãe casou-se novamente.

Quando tinha 13 anos, a mãe engravidou e meses depois, precisou ser internada devido a um aborto. "Ela ficou dois meses fora de casa e neste período fui molestada pelo meu padrasto. Fui morar, então, com minha tia. Quando minha mãe teve alta, minha tia foi conversar com ela. Entretanto, preferiu ficar com o marido do que com a filha. Acabei morando por uns tempos com minha tia e depois acabei indo para São Paulo. Morei embaixo de ponte, na rua. Passei muitas dificuldades", afirmou Toninha.

Aos 22 anos conheceu um homem. Passou a morar com ele. "Passei por muitos momentos ruins em São Paulo também. Todo tipo de violência. Estava traumatizada", lembrou. Aos 25 anos comecei a estudar, conheci pessoas que tinham animais de estimação. "Meu primeiro gatinho foi o Mimo. Ai veio o Iuri, a Tata. Quando fui ver, tinha dez gatos e cinco cães".

EM SÃO CARLOS

Formada e estabelecida profissionalmente, no dia 1º de dezembro de 85 fixou residência em São Carlos. "Vim com o que tinha e com os cães e os gatos. Como me apeguei aos animais domésticos, comecei a adotar os cães e os gatinhos", afirmou.

Desde então, sua casa sempre teve muitos animais. "As pessoas me traumatizaram. Acredito que por isso passei a amá-los. Era depressiva, não gostava de viver. Mas os cães e os gatos eram muitos carinhosos. Eles me mantem viva. Dedico 24 horas do dia para eles. Não viajo, não saio de casa. Se não fosse esses bichinhos, acho que seria uma andarilha, pois sofri muito com os humanos", desabafou.

AJUDA

Em todos os cômodos do lar de Toninha há cães ou gatos. Bem como no terreno ao lado, onde há casinhas para todos.  O chão é impermeabilizado e está sempre limpo.

Todavia, Toninha disse que precisa de ajuda para que possa continuar o trabalho de dar carinho, dignidade e um lar para seus filhos adotivos.

Solicitou ajuda da solidária população são-carlense. "Como disse antes, nunca fui de pedir ajuda. Mas hoje passo por muitas dificuldades. Pediria humildemente este auxílio. Em nome, principalmente, daqueles que tirei das ruas e de maus tratos", relatou, referindo-se aos seus cães e seus gatos.

Quem puder ajudar com ração e produtos de limpeza, entrar em contato pelo fone 3374-8534 ou ir diretamente em sua casa, na rua Batista Láurea Ricetti, número 563, Jardim Beatriz.

Quanto a ração, Toninha até sugeriu uma marca, a King Dog Plus. "Eu compro essa. É de boa qualidade e baratinha", finalizou.

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