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Adolescentes de São Carlos tem contato com internet de 20 anos atrás

10 Jun 2015 - 19h41

Eles não imaginam como seria o mundo sem internet. Estão acostumados a ficar entre seis e oito horas por dia conectados, usando seus smartphones principalmente para falar com os amigos no WhatsApp, no Facebook ou fazendo pesquisas no Google. O estudante Enzo Locatelli, de 12 anos, escuta pela primeira vez o barulho de uma conexão à internet por meio da linha telefônica. "É uma impressora", arrisca o adolescente na tentativa de dar significado ao som daquele modem dial-up.

"Esse é o barulho do modem tentando achar a frequência ou a velocidade que coincidia com a que estava disponível na casa das pessoas", explica o professor Edson Moreira, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos. O barulho nostálgico é ouvido no Museu de Computação Odelar Leite Linhares, onde Enzo e mais duas estudantes, Marina Biason e Sophia Cavalcanti, ambas com 13 anos, passam pela experiência de se conectarem à internet como se estivessem em 1995, ano que marca, no Brasil, o início da conexão comercial à rede mundial de computadores.

O professor conta que o fato de precisar usar a linha telefônica para se conectar à internet era motivo de discórdia em muitos lares brasileiros. "As famílias colocavam regras para limitar o uso a alguns horários restritos a fim de que a linha telefônica ficasse livre", lembra Moreira.

A estudante Marina logo desiste de tentar navegar com 56 kps (kilobits por segundo), à moda de 1995, em um computador iMac G3 que está no Museu. Sentada em frente à máquina, enquanto o carregamento lentamente acontece, ela tecla sem parar no celular. "A velocidade de conexão à web atualmente é, no mínimo, 100 vezes maior do que em 1995", diz Moreira.

O professor explica que houve também um aumento na capacidade de processamento de dados, possibilitando novas e inovadoras aplicações, como a transmissão de áudio e vídeo. Quando navegamos nos sites de 1995 e 1996, observamos que eles não usavam os mesmos recursos de hoje, o conteúdo disponível era basicamente textos (veja alguns exemplos em archive.org/web). Por isso, ao tentar acessar um site como o Youtube com um navegador empregado em 1995, você vai se deparar com a mensagem "seu navegador de web não é mais compatível".

De acordo com Moreira, o aumento da velocidade e da capacidade de processamento nesses últimos 20 anos levou, ainda, ao desenvolvimento do comércio eletrônico, das redes sociais e do acesso móvel, devido às tecnologias sem fio e aos smartphones. "Isso influenciou a forma como as pessoas se comunicam e impactou também a educação", completa Moreira. Ele ministrou, em 1991, no Rio de Janeiro, um dos primeiros cursos oferecidos no Brasil sobre protocolos de internet (TCP/IP), no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

Em 1995, a rede mundial de computadores já era uma realidade nas grandes universidades brasileiras, onde as primeiras conexões aconteceram em 1988. Quem se lembra de como era a vida sem internet, provavelmente consegue resgatar na memória a cena da primeira vez que acessou a web. Uma lembrança que simplesmente não existe para a estudante Sophia Cavalcanti, que nasceu em 2001 e nunca pensou em como seria a vida sem a grande rede.

Mas será que podemos esperar uma evolução em ritmo tão acelerado nos próximos 20 anos? Na opinião de Moreira, no futuro próximo, vamos acompanhar a conexão dos nossos objetos, utensílios e veículos à internet. Será a expansão da chamada "internet das coisas", que deverá revolucionar a forma como comandamos a nossa vida, possibilitando que o sistema de vigilância, iluminação e refrigeração das nossas casas sejam controlados remotamente, por exemplo. "Haverá novas formas de interação entre as pessoas e as máquinas, o que deve causar também um grande impacto na educação, com o advento de novas ferramentas destinadas aos alunos e professores", finaliza Moreira.

 

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