Rui Sintra - Crédito: arquivo pessoal Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (USP), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) desenvolveram um novo tipo de exame que pode ajudar a salvar vidas durante a gravidez.
Trata-se de um pequeno sensor que consegue identificar, de forma rápida e barata, quando o sangue do bebê passa para a corrente sanguínea da mãe — uma situação perigosa chamada “hemorragia fetomaterna”.
Esse problema pode acontecer, por exemplo, quando há algum rompimento na placenta, permitindo que as células do sangue do feto entrem em contato com o sangue da mãe. Se não for detectado e tratado a tempo, pode causar anemia no bebê, parto prematuro ou até a morte do feto.
Segundo os autores do estudo publicado na revista internacional Bioelectrochemistry, a tecnologia pode ajudar os médicos a identificarem rapidamente esse tipo de risco e agir antes que o quadro se agrave.
O sensor funciona com um filtro inteligente preparado para reconhecer células que existem apenas no sangue do bebê, e não no da mãe. Para isso, os cientistas usaram uma substância natural retirada do casulo do bicho-da-seda, a mesma usada para produzir tecidos como a seda, que serve de base para o sensor.
Os pesquisadores adicionaram a essa base uma espécie de “chave” — uma proteína que se liga apenas às células do bebê. Quando o sangue é colocado sobre o sensor, se houver células do bebê, o dispositivo detecta uma mudança elétrica. Essa mudança pode ser medida em apenas três minutos, indicando se há ou não um problema.
Atualmente, os exames para detectar esse tipo de hemorragia exigem equipamentos caros, demorados e disponíveis apenas em hospitais com estrutura avançada. Já o novo sensor pode ser usado com pouca quantidade de sangue e equipamentos simples.
Graças à sua portabilidade, o sensor pode realizar o diagnóstico em locais distantes, como áreas rurais ou comunidades isoladas. Em resumo, é como transformar um exame de laboratório em algo que pode ser feito quase como um teste rápido, similar aos de glicemia ou gravidez.
O dispositivo foi testado com amostras reais e obteve 100% de acerto em comparação com os métodos tradicionais, confirmando sua precisão.
Outra descoberta interessante foi que, ao observar o sensor com um microscópio, os cientistas viram claramente as células do bebê aderidas ao material. Isso abre a possibilidade de, no futuro, usar a câmera de um celular para fotografar o sensor e obter o diagnóstico automaticamente por meio de aplicativos.
Essa inovação pode levar o sensor a ser usado em postos de saúde, ambulâncias ou até em consultórios comuns, ajudando gestantes sem acesso a exames de alto custo.
Com a nova ferramenta, médicos poderão agir mais rápido e com mais segurança, oferecendo tratamento adequado para proteger mãe e bebê. Em casos de incompatibilidade sanguínea entre os dois, por exemplo, o sensor pode evitar que a mãe crie anticorpos contra o sangue do bebê, o que pode gerar complicações na gestação atual ou em futuras.
No artigo científico publicado na Bioelectrochemistry, os pesquisadores destacam que o próximo passo será testar o sensor com um número maior de gestantes em situações reais. Se os resultados forem confirmados, a tecnologia pode revolucionar o cuidado pré-natal, especialmente em regiões onde exames modernos ainda são inacessíveis.
A pesquisa foi assinada por Suelen Assunpção Nishio (1ª autora), Elenice Deffune, Andrei Moroz, Marjorie de Assis Golim, Aline Marcia Marques Braz, Valber A. Pedrosa, Ivana Cesarino e Sidney Ribeiro (UNESP), Anna Laura Yuri Yokomich (UNIFESP), Osvaldo N. Oliveira Jr. (IFSC/USP) e Marli Leite de Moraes (pesquisadora responsável – UNIFESP).





