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sábado, 06 de dezembro de 2025
Artigo Rui Sintra

Não deixemos sua memória morrer

26 Set 2025 - 09h51Por Rui Sintra
Rui Sintra - Crédito: arquivo pessoal Rui Sintra - Crédito: arquivo pessoal

Há nomes que chegam até nós como ecos distantes, sussurros que atravessam o tempo e nos pedem atenção. Foi assim que ouvi, pela primeira vez, o nome do Prof. Ernesto de Souza Campos, uma personalidade ligada à criação das principais universidades do Brasil, entre elas a USP, UNICAMP e UNESP –, e cuja infância foi passada em São Carlos, na Fazenda Santa Maria do Monjolinho.

Não ouvi esse nome apenas com os ouvidos, mas com a alma. Ele não me falava apenas de um passado esquecido nos corredores da história, mas de um futuro que ainda pulsa, escondido em sua obra e em seu legado.

Sob a égide dos professores uspianos José Marcos Alves e Carlos Goldenberg, e ao lado do também professor Tito José Bonagamba, ambos nos lançamos nessa travessia de escrever o livro “Prof. Ernesto de Souza Campos: uma história ainda por contar”, como quem abre um livro de páginas em branco, sabendo que nelas caberia mais do que registros frios: caberia a memória viva de um homem que, com raízes portuguesas, ousou sonhar por todos nós.

O que encontramos nos relatos de Décio Luiz Malta Campos e nas preciosas lembranças guardadas por Vera Regina Zavaglia Malta Campos foram fragmentos de uma grandeza rara — um mosaico de gestos, ideias e coragem que, unidos, revelam um espírito maior do que seu próprio tempo.

Imagino-o caminhando pelas manhãs do Butantã, entre terrenos ainda vazios, mas já povoados de sua visão. Ali, onde poucos viam apenas o mato e o horizonte cinzento, ele enxergava um campo universitário vibrante, uma usina de conhecimento pronta para transformar gerações.

No governo de Armando de Salles Oliveira, não foi apenas um planejador: foi o tecelão de uma esperança, o arquiteto invisível de uma Universidade de São Paulo que nasceria para todos.

O que mais me desperta a atenção em sua trajetória não é apenas o brilho de sua inteligência, mas a simplicidade do seu olhar patenteado nas inúmeras fotos que passaram pelas minhas mãos. Ernesto sabia que a medicina e a educação não eram (não são) privilégios: eram (são) direitos, são pontes que resgatam a dignidade de cada ser humano.

Ele não falava de futuro com arrogância, mas com ternura, como quem acaricia a manhã antes mesmo que ela desperte.

E enquanto escrevo sobre ele, percebo que também escrevo sobre mim. Pois contar essa história é como se olhar num espelho antigo: nele vejo não só o rosto de um homem, mas o reflexo daquilo que todos podemos ser quando acreditamos no poder transformador do conhecimento.

Sim, esta é uma história ainda por contar. Mas talvez seja mais do que isso. Talvez seja uma história a ser vivida, todos os dias, cada vez que alguém visita a Fazenda Santa Maria do Monjolinho, ou pisa nos corredores da USP, cada vez que um estudante sonha em mudar o mundo, cada vez que um médico olha seu paciente como igual.

Ernesto de Souza Campos não está apenas nos livros. Ele está no gesto invisível que move a vida adiante, está na chama que acendemos quando não deixamos a memória morrer, cabendo à USP e ao poder público de São Carlos evitar que isso aconteça.

E é nessa chama que repousa a minha gratidão e também a minha emoção, ao ver que o livro faz agora parte do Portal de Livros da Universidade de São Paulo (USP):
 Portal de Livros da USP.

Para os meus leitores que tiverem interesse na leitura de “Prof. Ernesto de Souza Campos: uma história ainda por contar”, a publicação em PDF pode ser acessada neste link:
Download do livro em PDF.

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