domingo, 05 de maio de 2024
Material é entregue em casa

Professora são-carlense, com ajuda de motoboy, leva o “be-a-bá” da Educação para seus alunos com muita segurança

27 Abr 2020 - 08h20Por Marcos Escrivani
Semana a semana encaminho impressos com uma sequência didática e gravo vídeos em uma plataforma no Youtube - Crédito: DivulgaçãoSemana a semana encaminho impressos com uma sequência didática e gravo vídeos em uma plataforma no Youtube - Crédito: Divulgação

Imaginemos uma professora que, impedida por uma pandemia, não abandona seus alunos e quer levar o conhecimento para os pequenos. Com o tempo, ganha a imprescindível ajuda de um motoboy que se arrisca a um possível contágio e assume o compromisso de levar o material educacional na casa da família de cada estudante. E com um significativo detalhe: faz isso por amor ao próximo e sem cobrar nada. Um trabalho voluntário.

Estes gestos de grandeza acontecem em São Carlos e foi uma iniciativa da professora Karina Falchione Nogueira, 35 anos. Ela é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino e leciona ainda na Escola Estadual Antonio Adolpho Lobbe, localizada na Vila Isabel, onde possui uma sala com 26 alunos de 6 a 7 anos (período da manhã). As aulas são no 1º ano do Ensino Fundamental (alfabetização). Ela conta com o auxílio do motoboy Mayke Marcolino, que leva o material escolar na casa de cada aluno.

Todo esse empenho é para que os alunos continuem a estudar em suas casas, com toda a segurança e que não se exponham ao perigo de contágio da Covid-19, pandemia que atinge todo o planeta. Agressiva, a infecção já ceifou milhares de vidas.

COMO TUDO COMEÇOU

O São Carlos Agora tomou conhecimento da exemplar iniciativa e foi em busca de informações e localizou Karina e Mayke que contaram como surgiu o desejo de poder levar o conhecimento aos pequenos cidadãos são-carlenses.

Inicialmente Karina disse que as aulas pararam na semana de 16 a 20 de março. Todavia, vários alunos não estavam indo mais e o material de ensino ficou na escola estadual onde leciona. “Tenho 26 alunos que residem na região da Vila Isabel, CDHU, Vila Irene, Vila Marcelino, entre outros. Tinha que deixar matérias para eles. O problema é que tinha alguns que nem na escola estavam indo mais. Fiquei preocupada e conversei com a coordenadora da escola. Fui atrás dos pais dos alunos e formei um grupo de WhatsApp”, disse.

Apesar de ter contato via celular e por um grupo de aplicativo, surgiu um segundo problema: apesar do material enviado pelo aparelho, muitos pais não tinham como imprimir as tarefas. Pensei em alternativas e veio a ideia de eu pagar um motoboy para levar o material escolar na casa de cada aluno. Entrei em contato com o Mayke (Marcolino) para saber quanto ele cobraria. Para minha surpresa, ele disse que faria isso por amor às crianças e pela Educação. Com o endereço em mãos, se propôs a levar voluntariamente na casa de cada pai”, disse emocionada com a grata surpresa de um cidadão são-carlense.

“Fiquei contente com sua atitude. A pandemia fez com pudéssemos descobrir pessoas que nos ajude e temos esta parceria bacana. Espero que este momento faça com que a sociedade em geral seja mais colaborativa, mais solidária e deixe fluir bons sentimentos”, ponderou.

IMPRESSOS E VÍDEOS

Semanalmente Karina monta tarefas para seus alunos e encaminha vídeos explicativos para que eles não tenham dúvidas quando for fazer as tarefas. Paralelamente, Mayke leva o material na casa dos pequenos cidadãos.

“As tarefas têm a participação dos pais. O material vai em pastinhas plastificadas para que, quando as aulas retornarem, eles possam trazer tudo em segurança. Semana a semana encaminho impressos com uma sequência didática e gravo vídeos em uma plataforma no Youtube. Assim todos terão a oportunidade de tirar as dúvidas, fazer as tarefas e se alfabetizarem. Minha preocupação com meus alunos é que a gente trabalha o ano inteiro para que possam ter uma base educacional. E não quero que eles passem para o segundo ano sem isso”, disse Karina. “Este momento serve como aprendizado para todos. Inclusive para minha pessoa. Tenho a oportunidade de absorver novas formas de conhecimento, ficar mais madura e repassar às crianças”, disse. “Temos novos aprendizados e espero poder fazer com que os alunos nos acompanhem”, finalizou.

MOTOBOY E TÉCNICO EM ENFERMAGEM

Mayke Marcolino é técnico em enfermagem e há 24 anos trabalha paralelamente como motoboy. Hora é renda principal da família e em outros momentos, tem como renda complementar. Tem 43 anos, é casado com Márcia Chudo há 23 anos e pai de Taynara (19 anos) e Juan (18 anos).

Mayke disse ao São Carlos Agora que sua mãe foi servente no Adolpho Lobbe onde também iniciou sua trajetória educacional. “Me recordo com carinho das professoras e dos muitos amigos que lá fiz”, disse.

Sobre a iniciativa de participar da entrega de material escolar para alunos de Karina, ele salientou que tem a chance de fazer a diferença e influenciar pessoas a ajudar, na medida do possível, nesse momento onde a população enfrenta, talvez, a maior ameaça da humanidade. “A responsabilidade é do governo, mas não podemos ficar esperando. O momento é de ajuda urgente de partilha e solidariedade, e precisa chegar logo. Jesus está na partilha. Quando a Karina entrou em contato, não pensei duas vezes. Adorei a ideia e me sentiria muito grato se um dia fizessem por meus filhos. A maioria das crianças, alunos desta escola, são crianças carentes socio/economicamente. Quando chego logo me deparo com olhares ansiosos e felizes de receber a tarefa. O pagamento é o sorriso e já imaginou se um dia vierem a se tornar doutores? Podemos mudar esse país e o caminho é a educação”, ponderou.

DNA SOLIDÁRIO NO SANGUE

Mayke vai mais além em suas ações sociais. Em suas vezes, corre um “DNA solidário” e disse que faz trabalho voluntario, no período da manhã, onde possui tempo vago, que tem como finalidade, ajudar pessoas com mais de 60 anos, do gupo de risco, vulneráveis a Covid-19. “Faço compras, pago contas e ajuda até na administração de medicamentos”, garantiu.

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