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MEMÓRIA SÃO-CARLENSE - Colégio São Carlos, patrimônio da educação e da cultura

26 Jan 2018 - 03h23Por (*) Cirilo Braga
Foto: Colégio S. Carlos/Arquivo Histórico - Foto: Colégio S. Carlos/Arquivo Histórico -

Quando o assunto é educação, a história de São Carlos registra momentos decisivos para a definição dos caminhos para a transformação da cidade em centro irradiador de cultura na região. Um desses momentos foi a chegada das religiosas francesas do Santíssimo Sacramento, madres Saint-Bernard e Saint-Odilon no dia 6 de dezembro de 1904.

Recebidas por dona Maria Jacyntha de Meira Freire, "Dona Nhala", irmã do Conde do Pinhal e viúva do major Joaquim Roberto Rodrigues Freire (primeiro presidente da Câmra), elas encontraram total apoio para iniciar seu trabalho educacional inspirado na obra missionário e educador Padre Pierre Vigne.

A Congregação estava em dúvida sobre se instalar em Mococa ou São Carlos do Pinhal e a opção por São Carlos se deveu ao clima ameno, considerado mais adequado pelas religiosas europeias.

O Colégio São Carlos, por muito tempo conhecido popularmente como o "Colégio das Freiras", nasceu no dia 1º de fevereiro de 1905. Funcionou inicialmente em um sobrado, na esquina das ruas Padre Teixeira (então Rua Babylonia) e Dona Alexandrina onde no princípio tinha apenas oito alunas, quatro internas e quatro externas. No final do mês seguinte já eram trinta. A escola permaneceu nesse prédio até agosto de 1906 quando se transferiu para o Palacete do Conde do Pinhal. A viúva do Conde, Dona Ana Carolina de Oliveira, que não voltou a residir no local depois da morte do marido em 1901, em atenção a um pedido de Dona Nhala, concordou em ceder as instalações às Sacramentinas, para abrigar o Colégio que ali funcionou por sete anos.

A partir da criação de uma Sociedade Anônima, viabilizou-se a obra do prédio próprio, construção de estilo lombardo que ocupa uma área de 1.943 metros quadrados entre as ruas Padre Teixeira e 9 de Julho, São Sebastião e Episcopal.

Pouco tempo depois de sua chegada à cidade, as religiosas procedentes de Paris, escreveram à madre geral solicitando outras irmãs, avaliando que o trabalho a realizar e o clima na cidade era bastante favoráveis. Assim, a elas se juntaram irmãs italianas e inglesas que se dispunham a vir ao Brasil. Na época, as Sacramentinas já possuíam colégios na capital francesa, em Lyon e Marselha e uma filial na Bahia.

AULAS NO PALACETE CONDE DO PINHAL

Irmã Saint Odilon conseguiu concretizar sua aspiração de instalar uma classe para atender as alunas carentes de recursos e em 1907 alugaram uma casa atrás da Catedral por quatro anos. No palacete do Conde do Pinhal o Colégio funcionou até o final do ano de 1913, quando as irmãs concluíram a construção da sede definitiva. "Foram sete anos em que o jardim público viveu dias inesquecíveis", escreveu o historiador Ary Pinto das Neves, autor do livro "São Carlos - Da escolinha de primeiras letras às universidades de prestígio internacional".

Madre Saint Bernard, fundadora do Colégio São Carlos, rapidamente conquistou a simpatia do povo. Também foram protagonistas dos primórdios da implantação da instituição a Madre Marie Lea Chazal, a primeira diretora (1904-1913), o engenheiro Dr. Francisco Homem de Mello (responsável pela fiscalização da construção do prédio) e Germano Fehr (empreiteiro da obra, cuja planta foi projetada pelos engenheiros da Mello & Companhia, da capital paulista). Mais tarde, Fehr viria a ser o pioneiro da indústria são-carlense.

Por ocasião do lançamento da pedra fundamental do Colégio em 12 de outubro de 1912, o juiz da Comarca, Dr. Octaviano Vieira fez em seu discurso referência às generosa colaboradoras dos primeiros tempos, dona Nenê Sampaio, Edméa Lancia e Bertha Valentie.

Dona Nhala, no entanto, não viveu para testemunhar esse momento. Depois de ter sido durante sete anos a maior incentivadora das sacramentinas, ela faleceu no dia 17 de fevereiro daquele ano, aos 87 anos.

Se o século XX começara com muitas primazias para São Carlos em termos de melhoramentos, como o telefone, a energia elétrica, a água potável e serviços de saneamento, a educação francesa trazida pelas Sacramentinas seria mais um privilégio para a cidade.

UM PRÉDIO MAJESTOSO

O prédio próprio de três pavimentos, com frente de 69 metros para a rua Padre Teixeira - então o mais imponente edifício escolar da cidade -  foi entregue no dia 29 de dezembro de 1913. A inauguração definitiva ocorreu no dia 14 de junho do ano seguinte, com presenças de autoridades civis religiosas, amigos e alunas.  O evento teve cobertura do jornal O Correio Paulistano, que narrou o acontecimento com todos os pormenores. No grupo estava a sobrinha de Euclides da Cunha, Valinda Vieira,filha do juiz de direito Octaviano Vieira.

O Almanach-Album de São Carlos (1916-1917), definiu a construção como "o majestoso prédio, elegante em suas linhas arquiteturais, puras e suaves em estilo sereno e nobre, desfiando as afrontas do tempo e atestando o poder da fé numa concretização irrefutável do progresso material e moral da cidade".

Nos primeiros anos, o Colégio orientando-se pelo modelo francês, oferecia um curso regular denominado "superior" ou "complementar" com um conjunto de estudos. Além da formação pessoal e social, as alunas procedentes de várias famílias da região, recebiam aulas de ciências e aprendiam línguas: francês, inglês, alemão e italiano. A instituição podia abrigar quatrocentas alunas, entre internas e externas.

"EM DIREÇÃO AO INFINITO"

A partir da fundação da Escola Normal Oficial de São Carlos em 1911 as Sacramentinas instituíram aulas suplementares, de modo que as normalistas residissem no Colégio e ali recebessem aulas de reforço.

Nos anos 1930, teve início o curso secundário, ciclo fundamental de 5 anos, funcionando oficialmente segundo as exigências da Reforma Francisco Campos.

Com a reforma paulista da instrução pública em 1933 foi instituído o Código de Educação e o Ensino Secundário Fundamental no Estado passou a ser exigido como condição de ingresso em curso normal. Em seu livro "E direção ao infinito", irmã Jeanne D´Arc Buainaim observa que na época, o Colégio com seu ginásio dentro dos parâmetros federais, ficou numa posição privilegiada.

Suas alunas poderiam ser encaminhadas para o normal ou mais ainda poderiam pretender o acesso ao ensino secundário suplementar, candidatando-se depois ao curso superior.O ensino ministrado era elogiado pela segurança da informação e pela elevação de nível de cultura, conforme registrou a história.

O Colégio acompanhou e se adaptou às mudanças do ensino e também da sociedade ao longo dos anos. O internato e o semi-internato deixaram de funcionar em 1975. O curso misto iniciou-se em 1984 e em 2000 foi reaberto o curso colegial nos moldes de ensino médio. No ano seguinte foi construído um novo prédio.

Destacaram-se na direção do Colégio ao longo da história, personalidades como Madre Marie Marguerite, Irmã Celina de Jesus (1ª Visitadora brasileira) Madre Marie Blanche, Madre Marie Augustin e Madre Margarida do SS. Sacramento, Irmã Jeanne D'Arc, entre outras religiosas extremamente dedicadas à tarefa educacional da instituição.

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