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Transtorno de Personalidade Paranoide

23 Jul 2018 - 07h14Por (*) Bianca Gianlorenço
Transtorno de Personalidade Paranoide -

A característica essencial do transtorno de personalidade paranoide é um padrão de suspeita generalizada e de desconfiança em relação aos outros. Os motivos das outras pessoas são interpretados como malévolos. Este padrão costuma ser identificado na idade adulta, embora possa haver indícios antes, e está presente em uma diversidade de contextos. Os indivíduos com este transtorno supõem que outras pessoas os exploram, machucam ou enganam, mesmo que não exista nada sólido que apoie estas hipóteses.

Aqueles com transtorno de personalidade paranoide suspeitam sem ter evidências a favor da sua ideia, que outras pessoas estão conspirando contra elas. Também podem atacá-las de repente a qualquer momento e sem razão, por isso sempre mostram uma atitude defensiva.

Para essas pessoas o mundo é um lugar inseguro e muito ameaçador.

As pessoas com transtorno de personalidade paranoide examinam minuciosamente as ações das pessoas próximas para descobrir intenções hostis. Qualquer transgressão da honra ou lealdade que perceberem serve para apoiar suas suposições ocultas.

Estas pessoas se surpreendem quando um amigo mostra lealdade e não podem confiar ou acreditar que seja verdade. Quando se metem em problemas, esperam que os amigos e familiares os ataquem ou os ignorem. Se recebem ajuda, não vão deixar de pensar que existe um interesse oculto e egoísta por parte da pessoa que está prestando a ajuda.

Os indivíduos com transtorno de personalidade paranoide são relutantes a confiar ou a manter um relacionamento próximo com os outros porque temem que a informação que compartilham seja usada contra eles. Podem se negar a responder perguntas pessoais, dizendo que a informação não é assunto de ninguém. Eles enxergam significados ocultos que são degradantes e ameaçadores em comentários ou acontecimentos sem maldade.

Os paranoides são cheios de ressentimento e não estão dispostos a perdoar os insultos ou os desprezos que acreditam ter recebido, Inclusive os pequenos desprezos despertam neles grande hostilidade. Além disso, os sentimentos de hostilidade duram muito tempo.

Como sempre estão alertas às más intenções dos outros, sentem com frequência que a sua personalidade ou a sua reputação são atacadas, ou que estão sendo menosprezados de alguma forma. São rápidos para contra-atacar e reagir com ira aos insultos que recebem. Estas pessoas podem ser ciumentas de forma patológica e costumam suspeitar que seu companheiro não é fiel sem nenhum indício real para esta suspeita.

Os indivíduos com esse transtorno são geralmente difíceis de lidar e costumam ter problemas nos seus relacionamentos mais próximos. Mas isso não é tudo… Neste ponto cabe se perguntar o seguinte: quais são os principais sintomas deste transtorno?

  São os seguintes:

  • Suspeita, sem base suficiente, de que os outros exploram, causam   danos  ou decepcionam a pessoa.
  • Preocupação com dúvidas não justificadas sobre a lealdade ou confiança de seus amigos ou colegas.
  • Pouca disposição em confiar nos outros por causa do medo injustificado de que a informação seja utilizada maliciosamente.
  • Leitura encoberta de significados degradantes ou ameaçadores em comentários ou atos sem malícia.
  • Rancor persistente (isto é, não esquece os insultos, injúrias ou desprezos).
  • Percepção de ataque à sua personalidade ou reputação que não é apreciado pelos outros e disposição em reagir rapidamente com raiva ou a contra-atacar.
  • Suspeita recorrente, sem justificativa, a respeito da fidelidade do cônjuge ou companheiro.

A suspeita e a hostilidade excessivas das pessoas com transtorno de personalidade paranoide podem ser expressas discutindo tudo abertamente, mediante queixas recorrentes ou com uma atitude distante e aparentemente hostil.

Pelo fato de serem hipervigilantes em busca de ameaças potenciais, podem agir de forma cautelosa, secreta ou maliciosa. Então, parece que são frios e sem sentimentos de ternura. A sua personalidade combatente e sempre a suspeitar pode provocar uma resposta hostil das pessoas, que por sua vez servirá para confirmar suas expectativas iniciais.

Como as pessoas com transtorno de personalidade paranoide não confiam nos outros, elas têm uma necessidade excessiva de poder enfrentar tudo sozinhas. Isto lhes dá um forte sentido de autonomia.

Também precisam ter um alto grau de controle sobre o seu entorno. Costumam ser rígidos, não são capazes de colaborar e se mostram hipercríticos com os outros. Isto é paradoxal, pois eles mesmos têm muita dificuldade de aceitar as críticas.

 Eles costumam culpar os outros pelos seus próprios defeitos, todos são culpados, menos ele! Por causa da sua rapidez no contra-ataque respondendo às ameaças que percebem ao seu redor, podem se envolver em disputas legais.

Procuram confirmar que os outros são culpados lhes atribuindo motivações malévolas. Esta atribuição de maldade é uma projeção de seus próprios medos. Costumam ter fantasias ocultas grandiosas e pouco realistas. Com frequência estão em sintonia com aspectos de poder e de classificação. Costumam desenvolver estereótipos negativos dos outros, principalmente dos grupos de população diferentes do seu próprio.

 Podem ser vistos como fanáticos e podem se vincular firmemente a cultos ou grupos de outras pessoas que compartilham o seu sistema de crenças paranoides.

Em resumo, as pessoas com transtorno de personalidade paranoide sentem grande desconfiança e suspeita intensa com relação aos outros. Seus motivos são interpretados como malévolos e são culpados de todos os seus males. Estas pessoas exercitam muito sua atenção sustentada porque sentem a necessidade de vigiar com muita frequência o seu entorno para detectar possíveis ataques ou ameaças.

Nesse sentido, eles também não se sentem bem e precisam de ajuda. Pense por um instante em como você se sentiria se percebesse motivos para suspeitar que as pessoas que o rodeiam querem prejudicá-lo.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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